Investir no Tesouro é emprestar ao governo; numa crise, isso é arriscado?
Quem investe no Tesouro Direto empresta dinheiro para o governo federal, pois compra papéis dele, esperando retorno no futuro. Num momento de crise política, Isso pode ser um risco para os investidores? Pode haver calote e perder tudo?
Segundo especialistas ouvidos pelo UOL, os aplicadores devem manter seu dinheiro nos títulos. E quem não investiu ainda pode aplicar também, mesmo diante das denúncias envolvendo o presidente Michel Temer.
Essa é a opinião do professor de Finanças do LabFin da FIA (Fundação Instituto de Administração), Alexandre Cabral; de Clemens Nunes, professor da Escola de Economia da FGV-SP; e de Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest.
"Em um cenário de incerteza, os títulos do Tesouro são os ativos mais seguros, não se desfaça deles. Para quem tem dinheiro disponível, recomendo aplicar no Tesouro Selic, enquanto espera para ver o que acontece", diz Nunes.
É seguro investir no Tesouro?
Sim, segundo os especialistas. De acordo com Mauro Calil, os títulos da dívida pública soberana de um país sempre serão o investimento mais seguro desse país, pois qualquer calote implica perda de credibilidade do governo.
“Se o governo deixar de pagar, ele deixa de pagar ao investidor e também aos grandes bancos e ninguém mais empresta a ele. Além disso, o governo sempre pode imprimir dinheiro para honrar sua dívida”, diz.
Para Cabral, apesar de estarmos com um problema político e o PIB (Produto Interno Bruto) não estar bem, temos uma economia sólida, as empresas investem. "O Brasil não vai virar uma Venezuela", diz
Juros variam conforme o risco no país
As taxas de juros sobem quando o mercado entende que há maior percepção de risco para a economia e caem quando há sinais de melhora.
Alguns papéis do Tesouro Direto, como o IPCA+, têm um prazo certo para serem resgatados. Se forem vendidos antes, numa crise, o investidor pode perder dinheiro se houver desvalorização. Se a pessoa esperar o prazo certo, ela recebe o que está combinado, sem redução.
O mercado tem variado por causa da crise, e "essa instabilidade não tem prazo para acabar", diz Nunes.
Tesouro Selic ganha com juros altos
Outros papéis, como o Tesouro Selic, acompanham a variação das taxas de juros e podem ser resgatados a qualquer momento. "Quem tem dinheiro no Tesouro Selic se beneficia com a alta dos juros e só deve retirar o dinheiro se precisar mesmo dele", diz Calil.
Cuidado se precisa de dinheiro rápido
Quem deixou a poupança pelo Tesouro Selic pela promessa de maior rentabilidade tem de tomar cuidado com o fator tempo, caso precise de dinheiro rápido.
Enquanto a liquidez (capacidade de um investimento de se transformar em dinheiro vivo) da poupança é imediata, a do Tesouro Direto é D+1, ou seja, a entrega do dinheiro só ocorre um dia após o pedido de resgate. "E ainda tem o problema adicional de o mercado ficar suspenso algumas vezes, impossibilitando o resgate", afirma Calil.
Na sexta-feira (19), o mercado de títulos públicos ficou suspenso para negociação desde as 10h42 e só voltou a operar por volta das 16h. Na quinta-feira (18), dia de intensa turbulência nos mercados, a plataforma do Tesouro Direto sofreu atraso na abertura.
Algumas aplicações além da poupança garantem liquidez imediata, como alguns tipos de fundos de investimento e CDBs com liquidez diária, para citar alguns exemplos.
Quem não sabe o prazo em que vai precisar do dinheiro também não deve investir em Tesouro Prefixado ou Tesouro IPCA+ porque pode perder bastante. "O ideal é casar o prazo do título à necessidade do dinheiro", ensina Calil.
Como decidir onde investir
- Se acredito na alta dos juros: invisto em Tesouro Selic
- Se acredito na queda da taxa de juros: invisto em Tesouro Prefixado
- Se acho que a inflação vai subir: invisto em Tesouro IPCA+
- Se preciso contar com o dinheiro na mão um dia depois do pedido de resgate sem medo de perder dinheiro: invisto no Tesouro Selic
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