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Analistas: Risco de Bolsonaro ou Ciro ganhar é o que agita dólar e Bolsa

Téo Takar

Do UOL, de São Paulo

07/06/2018 17h00Atualizada em 08/06/2018 18h15

O mercado financeiro já sente os efeitos da proximidade das eleições. Segundo analistas, rumores de que a disputa para a Presidência da República deverá ser polarizada entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) chegaram a provocar, durante a última quinta-feira (7), queda de mais de 6% da Bolsa e alta de mais de 2% do dólar, que ficou perto de R$ 3,95.

No exterior, a expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos colabora para que a moeda norte-americana se fortaleça, estimulando a saída de grandes investidores estrangeiros do mercado brasileiro.

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No cenário interno, além da questão eleitoral, também pesam os sinais de que a economia crescerá mais devagar do que o esperado neste ano, além do mal-estar provocado pela greve dos caminhoneiros na semana retrasada e os riscos para a Petrobras.

Além disso, a disparada do dólar nos últimos dias pode forçar o Banco Central a elevar os juros como forma de conter a fuga de capitais, gerando ainda mais desconforto dentro do governo, uma vez que a taxa Selic vinha em uma trajetória descendente desde o fim de 2016.

Veja a avaliação de alguns participantes do mercado sobre a reação dos investidores nesta quinta-feira:

Bolsonaro e Ciro polarizando a eleição?

Assim como ocorreu nas eleições de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) dividiam as preferências do eleitorado, as pesquisas eleitorais deverão dar o tom dos negócios nos próximos meses, provocando grandes oscilações na Bolsa, no dólar e no mercado de juros.

Investidores já reagem com preocupação a rumores de que a pesquisa Datafolha prevista para o próximo fim de semana apontaria Bolsonaro à frente das preferências de voto, seguido por Ciro.

A diferença em relação à disputa de 2014 é que, desta vez, nenhum dos dois candidatos agrada o mercado. “Os estrangeiros acreditavam que teríamos um candidato de centro na disputa. O que estamos vendo agora é uma polarização entre direita e esquerda”, disse um executivo de uma instituição financeira, que não quis se identificar.

“Aparentemente teremos uma disputa entre Bolsonaro e Ciro. O projeto econômico do Bolsonaro ainda não está claro para os investidores. Já Ciro é um desenvolvimentista, que pode ampliar o gasto público e, com isso, agravar ainda mais o déficit fiscal”, afirmou Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven Financial. “Para o dólar romper os R$ 4 é apenas questão de tempo.”

Greve dos caminhoneiros causou insegurança

Além da incerteza sobre o cenário eleitoral no Brasil e da expectativa de alta de juros nos Estados Unidos, os investidores também se sentiram inseguros nas últimas semanas por causa dos impactos da greve dos caminhoneiros, especialmente em relação à política de preço de combustíveis da Petrobras.

“É um assunto importante que foi pessimamente conduzido, gerando uma série de inconclusões”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Banco Central pode ser forçado a subir juros

A disparada do dólar e o desconforto dos investidores estrangeiros com o cenário político brasileiro podem forçar o Banco Central a dar uma guinada na sua política monetária e elevar a taxa Selic (juros básicos) na próxima reunião do Copom, nos dias 19 e 20 de junho.

“A curva de juros futuros já aponta uma expectativa de alta de até um ponto percentual para a Selic até o fim deste ano. Ou seja, os juros podem subir dos atuais 6,5% para 7,5% ao ano. Na próxima reunião, a aposta do mercado é que o Banco Central já terá que promover um aperto de 0,5 ponto, para 7%”, afirmou Gonçalves.

Para o economista, o Banco Central está em uma situação muito delicada porque poderá ser obrigado a usar a política monetária para conter o avanço do câmbio, em vez de utilizá-la como instrumento de controle da inflação, como normalmente faz.

“Se o BC decidir subir os juros sem ter uma evidência de que a inflação saiu do rumo para a meta, o mercado interpretará como um sinal de que o Banco Central está com medo do câmbio. Isso é tudo que o Banco Central não quer. Ao mesmo tempo, ele não tem como ignorar a alta dos juros futuros, nem o avanço do dólar”, disse o economista do Banco Fator.

Economia se recupera mais lentamente

A alta de 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre decepcionou os economistas, que esperavam um avanço em torno de 1% no período. Muitas instituições financeiras revisaram para baixo suas projeções de crescimento para a economia brasileira neste ano, da casa dos 3% para 2%.

“Houve uma mudança importante nas expectativas em relação ao que se esperava no começo do ano. O crescimento será mais lento. Isso faz com que os investidores também esperem lucros menores para as empresas, o que afeta os preços das ações”, declarou Figueredo.

Com a economia mais fraca e a possibilidade de alta dos juros para conter o avanço do dólar, a Bolsa deverá continuar sofrendo nas próximas semanas, disse o analista.

Juros nos EUA devem subir na próxima semana

Os diretores do Fed (“Federal Reserve”, banco central dos Estados Unidos) deverão aprovar uma nova alta dos juros por lá, de 1,75% para 2,0% ao ano, na reunião de política monetária marcada para a próxima semana.

A decisão já é amplamente aguardada pelo mercado. Mesmo assim, a sua confirmação tende a fortalecer ainda mais o dólar. "É como uma maré que vem subindo devagar. A alta do juro nos Estados Unidos está fortalecendo o dólar no mundo todo", diz Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae.

Com juros mais altos, investidores devem retirar seus recursos de mercados mais arriscados, como o Brasil, e migrar para o mercado norte-americano.

“Há uma questão técnica que é o diferencial de juros, ou seja, a diferença entre o juro pago no Brasil e o juro nos Estados Unidos. Como o juro está subindo lá e caindo aqui, o diferencial diminuiu muito. Para o investidor estrangeiro continuar aqui, o diferencial tem de compensar o risco”, afirmou Figueredo.

“O problema é que o Congresso está parado. Algumas das reformas prometidas, como a da Previdência, não avançaram. Na semana passada, houve uma série de notícias ruins envolvendo a Petrobras. E agora há essa incerteza sobre as eleições”, disse o analista da Eleven Financial.