IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

OPINIÃO

Governo é quem mais ganha dinheiro com lucro histórico da Petrobras

O presidente Jair Bolsonaro criticou o lucro da Petrobras - MATEUS BONOMI/ESTADÃO CONTEÚDO
O presidente Jair Bolsonaro criticou o lucro da Petrobras Imagem: MATEUS BONOMI/ESTADÃO CONTEÚDO

Rafael Bevilacqua

06/05/2022 09h22

Esta é a versão online da edição de hoje da newsletter Por Dentro da Bolsa. Para assinar este e outros boletins e recebê-los diretamente no seu email, cadastre-se aqui.

Após a Petrobras (PETR4) ter divulgado na quarta-feira (4) seu balanço referente ao primeiro trimestre deste ano, com números fortes e acima do esperado pelo mercado, o presidente Jair Bolsonaro declarou que o lucro auferido pela estatal é "abusivo" e "um crime".

No período, a estatal obteve lucro líquido de R$ 44,5 bilhões, o terceiro melhor resultado trimestral de sua história, tendo sido impulsionado pelo aumento em 27% do preço do barril de petróleo tipo Brent com relação ao trimestre anterior.

Diante dos bons resultados, a Petrobras aprovou o pagamento de dividendos no valor de R$ 3,71 por ação, que, segundo o presidente, serviriam para sustentar "pensões gordas fora do Brasil".

As falas de Bolsonaro devem contribuir para conter a alta das ações da estatal, uma vez que reacendem a preocupação com a intervenção governamental na política de preços da companhia.

Mas, afinal, quem de fato se beneficia do lucro da Petrobras?

É importante destacar que o principal acionista da companhia é a União, com 28,6% do capital social da empresa. O governo também detém participação na companhia via BNDESPar, com 6,9%, e BDNES, com 1% das ações.

Em 2021, do lucro de R$ 106,6 bilhões auferido pela companhia, R$ 37,3 bilhões foram pagos ao governo federal na forma de dividendos. Esses recursos foram para o caixa do Tesouro Nacional, para serem alocados onde a União julgar necessário.

Além disso, apenas no primeiro trimestre deste ano, a Petrobras pagou quase R$ 70 bilhões em impostos, royalties e participações para o governo —valor superior ao lucro líquido auferido no período.

Isso quer dizer que a Petrobras alimenta os cofres do governo de diversas formas, injetando quantias expressivas no caixa da União todos os anos —quantias essas que frequentemente não são alocadas de maneira a beneficiar a população.

Conclui-se, portanto, que o governo é quem mais se beneficia do lucro da estatal, e teria o poder para utilizar os recursos provenientes deste lucro em benefício da população —mas frequentemente não o faz.

Vale lembrar ainda que nos períodos nos quais a Petrobras dava prejuízo, como ocorreu durante boa parte do governo de Dilma Rousseff, a estatal além de não remunerar a União, contraía dívidas multibilionárias para financiar uma política de preços com intenções claramente eleitoreiras.

É preciso aprender com o passado e não repetir velhos erros no futuro.

Leia no 'Investigando o Mercado' (exclusivo para assinantes do UOL Investimentos): informações sobre os resultados da PetroRio, petrolífera privada que recentemente comprou ativos importantes da Petrobras, referentes ao primeiro trimestre de 2022.

Um abraço,

Rafael Bevilacqua
Estrategista-chefe e sócio-fundador da Levante

Queremos ouvir você

Tem alguma dúvida ou sugestão sobre investimentos? Mande sua pergunta para uoleconomiafinancas@uol.com.br.

Este material foi elaborado exclusivamente pela Levante Ideias e pelo estrategista-chefe e sócio-fundador Rafael Bevilacqua (sem qualquer participação do Grupo UOL) e tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta de valor mobiliário ou promessa de retorno financeiro e/ou isenção de risco . Os valores mobiliários discutidos neste material podem não ser adequados para todos os perfis de investidores que, antes de qualquer decisão, deverão realizar o processo de suitability para a identificação dos produtos adequados ao seu perfil de risco. Os investidores que desejem adquirir ou negociar os valores mobiliários cobertos por este material devem obter informações pertinentes para formar a sua própria decisão de investimento. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, podendo resultar em significativas perdas patrimoniais. Os desempenhos anteriores não são indicativos de resultados futuros.