Ações de Azul e Gol iniciam recuperação na Bolsa; vale investir agora?
O avanço da vacinação no Brasil, mesmo que em velocidade ainda lenta, animou investidores e fez com que ações de empresas fortemente atingidas pela pandemia, como as das companhias aéreas, voltassem a subir. Somente em maio, os papéis da Azul (AZUL4) e da Gol (GOLL4) acumulam altas de 22% e 17%, respectivamente.
Mas, apesar da alta recente, especialistas ouvidos pelo UOL ainda mostram ceticismo em relação a uma recuperação das companhias e o retorno dos preços a patamares pré-pandemia. "As duas empresas estão mostrando uma recuperação das ações no último mês, precificando um otimismo pela chegada da vacina, mas ainda estão longe dos patamares negociados pré-pandemia", afirma Victor Bueno, analista de investimentos da Top Gain.
Essa retomada nos preços das ações das companhias aéreas pode ser oportunidade para os investidores, ou é melhor ficar longe desses papéis? Confira o que disseram os especialistas ouvidos pelo UOL.
Azul quer "consolidação do setor" e ações disparam
No último dia 24, a Azul comunicou ao mercado o fim do acordo de compartilhamento de voos com a Latam. No comunicado a empresa diz que caminha para um "possível movimento de consolidação do setor".
"A companhia acredita que um movimento de consolidação é uma tendência do setor no pós-pandemia e a Azul está em uma posição forte para liderar um processo nesse sentido. A empresa contratou consultores e está estudando ativamente as oportunidades de consolidação da indústria", afirmou a empresa no comunicado.
A movimentação animou os investidores e as ações da empresa dispararam quase 25% na sessão do último dia 26.
Essa notícia fez os mercados se agitarem, com Azul subindo bastante e as ações da Latam caindo forte lá fora, em reflexo a isso. A Azul buscando consolidar mercado e a Latam passando por um momento difícil.
Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimento
Retomada não chega aos níveis pré-crise
Mesmo a alta recente não fez com que os papéis retornassem a níveis anteriores à crise. Desde o começo de 2020, quando a pandemia chegou de vez ao Brasil, os papéis da Azul caem 17% e os da Gol, 23%.
Esse setor foi muito impactado pela pandemia e de forma mais estrutural do que os shoppings, por exemplo.
Pietra Guerra, analista da Clear Corretora
O ramo de viagens corporativas, que representava cerca de 65% do faturamento das companhias, segundo dados da Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas), deve passar por uma mudança ainda mais forte do que a sentida no turismo tradicional.
De acordo com a Abracorp, o mercado de viagens nacionais a trabalho caiu 67% no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado. Já as viagens internacionais deste ramo despencaram 91%.
Apesar da queda brusca dessa fonte de receita e da possível redução de viagens a partir de então, a pandemia não deve acabar de vez com tal demanda.
A demanda corporativa vai ser afetada [pós-pandemia], já que as pessoas vão fazer muito mais videoconferências do que viajar. Mas não acho que vai ser totalmente disruptivo a ponto de acabar com essas viagens.
Rodrigo Glatt, sócio da GTI Administração de Recursos
Outro ponto negativo para as companhias aéreas foi a desvalorização do real ante o dólar.
Os custos [das companhias] são dolarizados, desde a compra das aeronaves a gasolina. Por isso, as companhias são penalizadas com a alta do dólar, somado às pessoas viajando menos com a desvalorização da nossa moeda.
Pietra Guerra, da Clear
De acordo com analistas ouvidos pelo UOL, apenas o avanço da vacinação, e consequente amenização da pandemia; e a desaceleração do dólar ante o real devem melhorar os resultados apresentados pelas companhias.
É hora de comprar as ações das aéreas?
Apesar dos desafios ainda vigentes, as ações das companhias apontam para um ciclo de alta, segundo especialistas. Ainda assim, eles reforçam para o risco dos investidores não verem retorno tão cedo.
O que é mais importante é entender o risco a que você está exposto. Hoje não indico a compra de nenhuma dessas empresas, mas a pessoa pode fazer um bom negócio se entender o risco em que está exposta, sabendo também que é um setor que está muito fragilizado, que tem a variável do dólar e uma mudança estrutural na forma de consumo.
Pietra Guerra, analista da Clear
Para Victor Bueno, da Top Gain, apesar de a Azul estar em uma posição melhor do que a Gol, os preços das ações de ambas ainda embutem um risco muito grande e pouco potencial de valorização.
Não vejo tanto potencial de alta e o risco é muito grande. Não vejo como um setor imprescindível e essencial em que os acionistas vão comprar mais do que estão comprando atualmente.
Victor Bueno, da Top Gain
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