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ESG: Empresa sustentável faz o investidor ganhar mais dinheiro na Bolsa?

Fernando Barbosa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

05/01/2022 04h00

O tripé meio ambiente, preocupação social e governança, resumido na sigla ESG, ganhou bastante destaque nos mercados nos últimos anos. Mas por que essas políticas são importantes para as empresas? Essas companhias são mais lucrativas para investir?

Duas especialistas falaram sobre isso no Guia do Investidor UOL, série de eventos quinzenais e gratuitos do UOL Investimentos para quem quer aprender a lidar com o próprio dinheiro de forma eficiente e saudável. São elas: Mariana Oiticica, sócia do BTG Pactual e co-head de ESG e Investimento de Impacto do banco, e Larissa Quaresma, analista de investimento da casa de análises Empiricus, responsável pela carteira de ESG da instituição. Confira os destaques da conversa a seguir, em vídeo e texto.

Assista ao programa na íntegra:

Afinal, o que é ESG?

Segundo Mariana Oiticica a sigla quer dizer que a empresa é responsável nas atividades do dia a dia. "Primeiro, ela respeita o meio ambiente ou faz com que o impacto no meio ambiente seja o menor possível", disse.

Em segundo lugar, o aspecto social pode ser resumido nas corporações que têm um relacionamento saudável com a comunidade interessada (os chamados "stakeholders"), que são funcionários, fornecedores e consumidores. Um exemplo claro da atuação social é ter um plano de desenvolvimento de carreira para o crescimento de colaboradores.

Um terceiro ponto importante é a governança. "A governança estabelece quais são os processos e os comitês com as funções determinadas na companhia. E a governança faz com que tudo o que foi determinado em termos de estratégia seja cumprido no longo prazo", disse Mariana.

"Então, as empresas que adotam o ESG como pilar têm seus negócios de forma sustentável e transparente na relação com esses players", afirmou.

Por que essas políticas são importantes?

Larissa Quaresma explica que, no início dos anos 2000, as companhias passaram a incorporar o ESG no discurso. Na prática, porém, as atuações estavam longe do ideal.

"Mas, ao longo do tempo, esse tema vem evoluindo muito, e hoje é enxergado quase como um indicador de vanguarda sobre o sucesso daquele negócio", afirmou.

Um exemplo da importância de avaliação desses critérios é entender como uma empresa de celulose, que tem a madeira como matéria-prima, lida com a preservação das florestas. "Se ela não preservar e ficar só desmatando, ela não vai gerar matéria-prima para o amanhã", disse.

Outros casos que podem ser levados em consideração são empresas do setor de saúde. "Os clientes se sentem bem atendidos? Os médicos são bem pagos, com uma carga de trabalho justa? Se o médico estiver sobrecarregado, sendo explorado e mal pago, com o tempo os clientes percebem e vão abandonar aquela operadora", afirmou Larissa.

Por isso, é necessário compreender que o ESG vai além de questões relacionadas ao meio ambiente. Do ponto de vista das empresas, segundo a analista de investimento da Empiricus, "torna-se um bom indicador da sustentabilidade do negócio."

Como identificar as companhias?

Mariana diz que os investidores podem solicitar os relatórios emitidos pelos bancos sobre setores e empresas. Assim, podem entender os gargalos de cada segmento. "A partir daí, os bancos estabelecem quais são as empresas que estão à frente desse enfrentamento dos problemas."

Por outro lado, Larissa frisa que a transparência da companhia já é um ótimo passo a ser avaliado. "Se a empresa tem um relatório de sustentabilidade e abre todas as métricas relevantes para o setor dela, é um bom indicador. Depois, é hora de comparar os números entre empresas do mesmo setor", afirmou.

Outro ponto importante para a agenda ESG é o investidor entender como a remuneração da alta gestão da companhia está conectada às metas traçadas, segundo a analista da Empiricus.

Na Bolsa de Valores brasileira, há também indicadores específicos, como o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e o S&P/B3 Brasil ESG —parceria da B3 com a S&P Dow Jones.

Para Larissa, da Empiricus, o investidor profissional precisa ir além dos indicadores. "Uma empresa tem score 80 e a outra, 90. Tudo bem, mas por quê? Você levou em conta mais a transparência ou a performance?", disse.

Já Mariana, do BTG, acredita que os índices podem evoluir ao longo do tempo e mudar as suas composições. "Na minha visão, o importante desses índices é que eles são móveis. O peso e a prática de cada empresa são levados em conta na hora de aumentar ou diminuir a relevância da companhia", disse.

As empresas que adotam ESG são mais lucrativas?

Segundo Mariana, no Brasil ainda há poucos dados para mensurar esse aspecto de forma eficiente. No entanto, é possível observar o histórico de regiões mais desenvolvidas, como a Europa, onde existem índices para empresas que possuem notas superiores de ESG. "E esses índices são consistentemente mais rentáveis do que os tradicionais", disse.

Ela acredita ainda que as empresas que têm o ESG incorporado estão mais prontas para eventuais disrupções de mercado. "Uma empresa assim está mais preparada para lidar com qualquer inovação. Por isso, elas são mais rentáveis no longo prazo", declarou.

A analista da Empiricus concorda. E acrescenta que as companhias que adotam tais práticas possuem sustentabilidade financeira. "Quem faz, já se sustenta, tem lucro, e agora está correndo atrás de garantir que o negócio vá sobreviver no futuro", afirmou.

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