ESG: Ter responsabilidade social impacta nos resultados da empresa?
A temática ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), avançou e se tornou fundamental no mercado financeiro brasileiro nos últimos anos. Mas o que isso significa na prática? Por que tais políticas são importantes para as empresas? Existe um custo de implementação dessas diretrizes? É vantajoso para o investidor?
Para esclarecer as dúvidas de investidores, o Guia do Investidor UOL, série de eventos quinzenais e gratuitos do UOL Investimentos para quem quer aprender a lidar com o próprio dinheiro de forma eficiente e saudável, conversou com Mariana Oiticica, co-head de ESG e investimento de impacto e sócia do BTG Pactual, e Larissa Quaresma, analista de investimento e responsável pela carteira ESG da casa de análises Empiricus.
Entenda mais sobre como o ESG impacta as empresas e os investidores.
O que é ESG?
Mariana Oiticica, do BTG Pactual, afirma que, em primeiro lugar, isso quer dizer que a empresa é responsável e atua para reduzir o seu impacto no meio ambiente.
Um segundo ponto fundamental, segundo ela, é a parte social. Ou seja, como a companhia trabalha para ter um relacionamento de qualidade e saudável com a comunidade interessada (os stakeholders), como colaboradores, fornecedores e consumidores.
Para direcionar tais políticas, o terceiro ponto é a governança, com a criação de comitês e processos determinados pela companhia. É a governança, por exemplo, que contribui para que a estratégia seja cumprida no longo prazo.
"Então, as empresas que adotam o ESG como pilar têm seus negócios de forma sustentável e transparente com esses players", afirmou Mariana.
Por que tais políticas são importantes?
Larissa Quaresma diz que as companhias passaram a incorporar o ESG no início dos anos 2000. No entanto, o discurso e a prática estavam distantes.
Atualmente a dinâmica é diferente, segundo ela. Um exemplo é como as empresas de celulose, que utilizam madeira como matéria-prima, lidam com a preservação das florestas. "Se elas não preservarem e ficarem só desmatando, não vão gerar matéria-prima para o amanhã."
No caso de companhias do setor de saúde, os investidores podem questionar se os clientes são bem atendidos e se os médicos, bem pagos e têm uma carga horária de trabalho justa. "Do ponto de vista das empresas, torna-se um bom indicador da sustentabilidade como negócio", declarou ela.
Para Mariana, há diversos aspectos favoráveis a favor do ESG. Primeiro, ajuda a despertar diferentes olhares para a inovação.
Em outro aspecto, com colaboradores satisfeitos, a rotatividade é menor, e a companhia consegue desenvolver um serviço de maior qualidade no longo prazo.
Outro benefício é na parte de governança. "Quanto mais transparente a empresa for e quanto mais processos e controle de riscos houver, mais ela consegue se adaptar a situações adversas e diminuir eventuais perdas", afirmou.
Há custos extras para a implementação dessas políticas?
Larissa, da Empiricus, entende que pode, sim, ocorrer um aumento nos gastos. No entanto, acredita que isso é mínimo para empresas de grande porte.
"Quando a gente olha para as grandes empresas, um custo trimestral de R$ 10 milhões ou R$ 20 milhões não é nada para quem fatura R$ 5 bilhões ou R$ 6 bilhões. Então, para as grandes empresas, não é uma coisa tão relevante", disse.
Além disso, ela acredita que a compressão das margens de lucro no curto prazo pode significar um crescimento no horizonte de longo prazo. "O ESG é uma filosofia de negócio de longo prazo", declarou.
Por isso a importância de a diretoria estar envolvida no tema, segundo a sócia do BTG. "Se essas pessoas não estiverem convencidas, de fato essas políticas ficam no papel e não vão se mostrar eficientes", afirmou Mariana.
Isso porque a implementação da agenda é um movimento importante de mudança de cultura das companhias. "As empresas com um ESG forte têm resiliência e inovação maiores", disse.
Como o Brasil está posicionado no tema?
De acordo com Larissa, o Brasil vem evoluindo bastante em aspectos como atitude e ações das empresas. Um exemplo é a Suzano, maior produtora de celulose do mundo, que possui metas para a venda de créditos de carbono, um movimento que contribui tanto para a sustentabilidade ambiental como financeira da empresa.
Mas, com a quantidade vasta de florestas e enorme produção agropecuária, a analista entende que o país pode ir além. Essa transformação passa também pela disponibilidade de dados das companhias. "Podemos nos tornar uma potência ambiental."
Para Mariana, é possível implementar práticas de países desenvolvidos, onde o ESG é aplicado há mais tempo, como a Europa.
Ela entende que a geografia do país é favorável à energia renovável. "Temos muito a aproveitar dessa onda porque a nossa geografia e os nossos negócios são próprios para a sustentabilidade."
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