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Quanto as ações da Taurus subiram no governo Bolsonaro até as eleições?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/11/2022 04h00

Impulsionadas pelo investimento de pessoas que acreditavam no aumento das vendas de armas, as ações da Taurus (TASA4 e TASA3) se valorizaram mais de 100% durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.

O presidente flexibilizou regras para o porte de armas. Em seu governo mais de 30 decretos e atos normativos a favor das armas foram publicados. A Taurus aumentou as vendas no Brasil e também sua presença nos Estados Unidos. Nos últimos anos, a empresa fabricante de armas aumentou as vendas, diminuiu suas dívidas e pagou dividendos - uma novidade em relação ao seu histórico.

Veja abaixo o que aconteceu com as ações, se valeu a pena investir e se ainda é uma boa compra.

O que aconteceu com as ações desde o início do governo Bolsonaro? Desde o início do governo Jair Bolsonaro, entre 2 de janeiro de 2019, até sexta-feira (28 de outubro), último pregão antes das eleições, as ações tiveram uma forte valorização.

As ações preferenciais TASA4 subiram 161,20%, saindo de R$ 5,98 e chegando a R$ 15,62, e as ações ordinárias TASA3 subiram 121,22%, saindo de R$ 7,21 e chegando a R$ 15,95.

Elas não foram as que mais valorizaram no período. Os papéis preferenciais (TASA4) da fabricante de armas ficaram em 24º lugar e as ordinárias, na 36º posição no ranking das que mais subiram no período, segundo a Economatica.

Mas renderam bem mais que o Ibovespa, que valorizou 36,46% nesses quase quatro anos, segundo levantamento da TradeMap. As aplicações em renda fixa ficaram bem atrás. O rendimento do CDI no período foi de 24,89%.

Já desde o começo da semana, com a vitória do rival de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, a ação TASA3 caiu 4,64%, para R$ 15,21, e a TASA4 chegou a R$ 15,39, queda de 1,47%.

Qual foi o reflexo das mudanças na legislação? Dessa maneira, entre 2018 e 2022 o número de licenças para armas de fogo subiu 473%, chegando a 973 mil em junho passado, segundo dados do Atlas da Violência de 2021 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mais de um milhão de armas estão nas mãos de 673 mil CACs, segundo dados obtidos pelos Institutos Igarapé e Sou da Paz.

Além da flexibilização da posse de armas, a corrida pelos ativos ajudou a empresa financeiramente, segundo Pedro Queiroz, especialista em renda variável da SVN, de Salvador. O analista-chefe do PagBank, Marcio Loréga, concorda. "O governo Bolsonaro foi o propulsionador da valorização da ação", diz ele.

A valorização não foi a mesma com as empresas pares da Taurus. Em Nova York, a fabricante de armas americana Smith & Wesson (SWBI) teve valorização no mesmo período de 4,92% na Nasdaq. A Sturm Ruger & Company (RGR), também na Nasdaq, cresceu apenas 0,53%.

Quem saiu ganhando? Essa corrida de investidores, no final, foi boa para a companhia. Capitalizada, a empresa conseguiu diminuir consideravelmente sua dívida. Ao final do segundo trimestre deste ano, a Taurus tinha uma dívida líquida de R$ 329,0 milhões, 24,7% menor que no mesmo período de 2021.

Alem disso, a fabricante de armas saiu de um prejuízo de R$ 156,9 milhões no primeiro trimestre de 2020 para um lucro líquido de R$ 68 milhões no balanço dos três primeiros meses de 2021 - o que fez a busca por ações da empresa pularem de R$ 4,63 para R$ 24 nesse período.

"Além disso, nessa mesma época a empresa conquistou mais participação de vendas nos Estados Unidos, seu maior mercado", explica Queiroz.

A Taurus também bateu recordes de produção, vendas, receita operacional, resultado bruto e ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) nos anos seguintes. O resultado foi tão bom que fez Salesio Nuhs, presidente da empresa, retomar o pagamento de dividendos aos acionistas, em abril de 2022, depois de quase dez anos de seca.

Investidores também ganharam? A fabricante de armas pagou R$ 194,3 milhões em dividendos, sendo R$ 1,62 por ação, seja ela ordinária (TASA3) ou preferencial (TASA4). A busca pelos proventos fez as ações da empresa darem um salto de mais de 100% em poucos dias. Isso ocorreu no final de 2020 e foi responsável pelo maior salto no valor das ações da empresa nesses anos.

Além disso, houve a promessa, ainda não cumprida, de pagar dividendos trimestralmente.

Para quem a Taurus mais vende? As vendas no Brasil cresceram principalmente no começo do governo Bolsonaro - 174,3% no terceiro trimestre de 2020, na comparação com igual período de 2019, com 89,7 mil unidades), 84% dos negócios da Taurus estão nos Estados Unidos - um mercado que enfrenta problemas e pode passar por uma estagnação.

Nos EUA discute-se uma legislação que aperta o comércio de armas. Aqui, em setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) também suspendeu alguns decretos de liberação irrestrita ao acesso a grandes quantidades de munições e armas de uso restrito, incluindo fuzis. Pela decisão, os compradores terão que provar efetiva necessidade para aquisição de armas de fogo.

É uma boa investir na empresa? Com a vitória da oposição de Bolsonaro, é importante ficar de olho na política americana. "Caso essa política americana continue ganhando força, o maior componente que leva os investidores a compra a ação se desmancha", diz Loréga, que desaconselha o investimento.

Por outro lado, Queiroz, da SVN, acredita que a empresa pode continuar crescendo sim, com base em mercados como a Índia. "A Taurus tem uma saúde financeira muito melhor agora", afirma ele. Em forma, a companhia tem mais condições agora de ganhar mercado de suas concorrentes internacionalmente e continuar crescendo.

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