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Investir em ações de empresas em recuperação judicial vale a pena?

Lílian Cunha

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/03/2023 04h00

Ações de empresas em recuperação judicial podem dar um bom ganho se tudo for bem. Mas os riscos são altos. Vale a pena?

Ações ficam mais instáveis

A B3 tem hoje 17 empresas listadas que estão em recuperação judicial (RJ). Considerando ordinárias e preferenciais, são 23 ações de companhias que estão passando pelo processo de renegociação de dívidas e pagamentos. Dentre elas, além de Oi (OIBR4) e Americanas (AMER3), estão a Rossi Residencial (RSID3), Hoteis Othon (HOOT3), Livraria Saraiva (SLED3 e SLED4) e Lupatech (LUPA4), entre outras.

Assim que a empresa entra em recuperação, as ações perdem muito valor. Em janeiro, por exemplo, as lojas Americanas pediram na Justiça para entrar em RJ. Antes do estopim da crise, em 11 de janeiro, a ação valia R$ 12. Agora custa R$ 1,04.

A ação de empresa em RJ não pode fazer parte do Ibovespa. Por estar fora do principal índice da B3, a Bolsa de Valores brasileira, ela é muito menos negociada que outras ações. Qualquer compra ou venda significativa pode alterar bastante o valor da ação - o que chama a atenção de quem especula na Bolsa ou busca ganhos altos em pouco tempo.

Ganho pode ser alto

Quando uma empresa entra em recuperação judicial, muita gente confunde com falência. Mas é uma oportunidade, na verdade
Ariane Benedito, economista
e especialista em mercado de capitais da Esh Capital.

Esh é especializada em comprar ações em empresas que estão passando por dificuldades. Com uma boa porcentagem do capital acionário, a Esh entra no conselho administrativo dessas empresas e começa a mudar a governança. Assim, ajuda a companhia a se recuperar.

Existe mercado para isso. É a possibilidade de recuperação do valor das companhias que alimenta o que se costuma chamar de "mercado de títulos podres". Ele inclui não somente ações em recuperação, mas até títulos de países em moratória, como a Venezuela, explica Bruno Mori, economista e sócio fundador da Sarfin Planejamento Financeiro.

Recuperação judicial busca melhorar a empresa. A companhia em RJ tem condições especiais para prazos para pagamentos dos créditos. Isso, além do plano de retomada, pode ajudar a companhia a se reerguer. Se a RJ der certo, a recuperação de valor é bem vantajosa para o acionista.

As empresas em RJ são mais transparentes que as empresas listadas em Bolsa. As finanças são abertas para que processo seja acompanhado publicamente, diz Ariane.

Um exemplo é o da metalúrgica Wetzel (MWET4). Ela passou por um processo de recuperação judicial de 2016 até setembro do ano passado. Nesse período, a ação passou de R$ 1,40 para os atuais R$ 10,20.

Há risco de perder todo o dinheiro

Mori acredita que não vale a pena investir nessas ações. Quem investe nessas empresas geralmente está muito bem informado sobre as condições da companhia. É preciso estudar muito bem e acompanhar constantemente o processo de recuperação da companhia. "É difícil que uma pessoa física, um investidor comum, faça esse acompanhamento corpo a corpo" diz Ariane.

Há opções de fundos. Para o pequeno investidor que quer, mesmo assim, entrar nesse nicho, uma saída é investir em fundos que fazem essas operações. Eles têm times de advogados e analistas que fazem esse acompanhamento.

Mesmo que a RJ funcione, é um processo que leva anos. No caso da Oi, levou seis anos para terminar. E poucos meses depois, a companhia pediu o recurso novamente. Quando pediu recuperação judicial pela primeira vez, em junho de 2016, elas haviam despencado de R$ 18,30 (preço do início de janeiro daquele ano) para R$ 10. Agora custam R$ 3,04.

Se não der certo, o acionista perde tudo que investiu. O acionista está no fim do fim da fila de credores. A chance de receber o dinheiro de volta é quase nula, diz Mori.

Quais são as empresas da B3 atualmente em RJ?

  • Americanas (AMER3)
  • Atmasa (ATMP3)
  • Bardella (BDLL3 e BDLL4)
  • Eternit (ETER3)
  • Pomifrutas (FRTA3)
  • Hoteis Othon (HOOT4)
  • IGB (IGBR3)
  • João Fortes (JFEN3)
  • Lupatech (LUPA3)
  • Nexpe (NEXP3)
  • Oi (OIBR3 e OIBR4)
  • Paranapanema (PMAM3)
  • Renova (RNEW11, RNEW3, RNEW4)
  • Pet Manguinhos (RPMG3)
  • Rossi Residencial (RSID3)
  • Livraria Saraiva (SLED3 e SLED4)
  • Teka (TEKA3, TEKA4)

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