Por que a Bolsa está empacada, apesar da queda dos juros?
Os especialistas de mercado costumam dizer que a Bolsa e os juros são inversamente proporcionais: se eles sobem, a Bolsa cai. Se a taxa de juros cai, as ações se valorizam. Mas depois de dois cortes na Selic, por que a Bolsa não está subindo?
O Banco Central já cortou duas vezes a taxa Selic, que caiu de 13,75% para os atuais 12,75%. Mas no último mês, por exemplo, o Ibovespa subiu apenas timidamente. O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo encerrou setembro com leve alta de 0,71% no acumulado mensal, aos 116.565,17 pontos. Desde o começo de outubro, a queda é de 2,70%.
Por que a Bolsa não subiu depois do corte de juros
Um dos fatores que impedem a alta do Ibovespa é que a onda de ganhos com a queda da Selic já foi antecipada pelos investidores. É o que explica Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Banco Inter. Desde o final de março até as vésperas do primeiro corte na Selic, o Ibovespa subiu 24,53%. Esse foi o movimento entre 23 de marco e 31 de julho - a primeira queda da Selic foi decidida no dia 2 de agosto. "É a máxima de sempre: o mercado sobe no boato e cai no fato", diz ela.
Os investidores, logo depois do primeiro corte da Selic, passaram a vender. Em agosto, a Bolsa teve a maior sequência de quedas da história. "Os investidores quiseram embolsar a valorização de 24%. Depois disso, a Bolsa ficou meio sem mola propulsora para crescimento", explica a estrategista.
O problema é que mesmo com os cortes, 12,75% ainda são uma taxa muito alta. Por isso os cortes não aliviam tanto, nem para empresas endividadas ou que precisam de empréstimos para crescer, e nem para o consumidor.
No longo prazo, os juros continuam altos. Então a situação da Bolsa deve melhorar no curto prazo, mas não muito. Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, diz que no longo prazo os juros previstos pelos analistas continuam muito altos. "O relvante, para a Bolsa, são essas taxas de longo prazo", diz Soares.
Juros dos EUA têm impacto
Outro motivo que impede a valorização da Bolsa é a alta dos juros dos Estados Unidos. "Os juros nos Estados Unidos e na Europa estão subindo. Então o capital estrangeiro sai daqui e vai para esses mercados, onde os rendimentos são maiores", explica Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.
Ritmo de corte da Selic não deve ser acelerado. É o que explica Paulo Weickert, cogestor e analista de empresas da Apex. Para ele, o mercado não enxerga que o Banco Central vá aumentar a velocidade dos cortes no ano que vem, justamente por conta dessa situação internacional, de juros altos e riscos de recessão.
Preço do petróleo é outro fator. A estimativa é que o valor do barril, hoje em US$ 90, deva chegar a US$ 100 no começo do ano que vem, o que causaria mais inflação e - consequentemente - interromperia a queda de juros. Por tudo isso, a Bolsa continua sem grande picos, sem engrenar em uma sequência de alta.
Neste cenário, em que ações investir?
A melhor estratégia é diversificar. O melhor é colocar um pouco de recursos em empresas que podem se beneficiar da queda atual da Selic, além de investir também em outras ações que devem se manter estáveis com a situação difícil dos mercados internacionais.
Quais ações se beneficiam com a queda da Selic? As companhias voltadas para o mercado interno, como Hapvida (HAPV3), CCR (CCRO3), Localiza (RENT3). "Essas são empresa que costumam se beneficiar da queda nos juros assim que eles acontecem", diz Weickert.
A XP recomenda a compra de Hapvida. A ação teria, segundo a corretora, um potencial de valorização em 12 meses de 25,55 %, passando de R$ 4,54 para R$ 5,70. Para o BTG, CCR pode passar dos atuais R$ 12,63 para R$ 19. E o Goldman Sachs projeta alta de 41% para Localiza, que hoje custa R$ 57.
Mas é bom também investir em nomes mais seguros. Nesse quesito, os especialistas recomendam ações de bancos e de empresas de infraestrutura, principalmente as de energia elétrica.
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