Especialistas do mercado estão céticos com recuperação das Americanas
Especialistas do mercado financeiro estão muito céticos com a capacidade das Americanas (AMER3) de se recuperarem da crise em que a empresa está, depois de divulgar fraude contábil e entrar em recuperação judicial. A empresa recentemente publicou seu balanço de 2022, mas sem a avaliação de uma auditoria externa, depois de atrasar a divulgação por quatro vezes. O Plano de Recuperação Judicial da varejista será votado no dia 19 de dezembro.
Como é o plano de recuperação?
A empresa pode estar prestes a fechar acordo com bancos. A coluna Painel S.A, do jornal Folha de S. Paulo, publicou no dia 21 que o acordo entre acionistas e bancos estava prestes a ser fechado, com uma capitalização de R$ 24 bilhões. Nesse dia, as ações da Americanas tiveram alta de 16,83%, a R$ 1,18.
O plano de recuperação judicial precisa ser votado em 19 de dezembro. É o último dia antes do recesso da Justiça. Por ele, os acionistas Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles devem aportar no curto prazo R$ 12 bilhões na empresa.
Ele inclui um desconto de dívida, que pode ajudar empresa a sobreviver. Os credores dariam para a companhia um perdão de R$ 5 bilhões. Se bancos credores aceitarem o desconto na dívida, a varejista tem chances de sobreviver. É o que acredita Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank. A queda dos juros também pode ajudar a segurar a dívida da empresa.
Mas analistas estão céticos. "É difícil que o plano vá para frente", diz José Eduardo Daronco, analista da Suno Research. "O corte que estão pedindo na dívida é muito agressivo, assim como o aporte". A empresa perdeu a confiança do consumidor. "O consumidor - que já não está muito propenso a compras - quando precisa adquirir algo, prefere outro varejista por desconfiar da Americanas", diz ele.
Contratada em junho para auditar a contabilidade das Lojas Americanas, a firma de auditoria BDO não deu o aval para o último balanço. Isso dificulta ainda mais a recuperação da empresa. É o que diz Gabriel Meira, economista e sócio da Valor Investimentos.
O cenário também não ajuda. "A concorrente, Magazine Luiza (MGLU3), não está em recuperação judicial e está tendo prejuízos", declara Daronco.
Existe muita especulação e risco com o papel da empresa na Bolsa. "Não vale a pena apostar nesse papel. Essas altas repentinas são feitas por especuladores e assim como sobem, caem em seguida", diz o especialista da Suno.
Americanas pode ser menor daqui para a frente
De acordo com o plano, as Americanas seriam uma empresa bem diferente. "Se a empresa sobreviver, ela vai ser bem menor", diz Daronco. Ela se concentraria em itens de menor valor agregado, com mais alimentos e pequenos eletroportáteis.
A empresa também venderia as redes de lojas Uni.co (Puket e Imaginarium) e Natural da Terra. Desde que entrou em recuperação judicial, a empresa demitiu mais de 10 mil funcionários. De janeiro a setembro, a companhia fechou 101 pontos de venda físicos em todo o Brasil. Atualmente, são 1.759 unidades próprias, entre Americanas e Hortifruti Natural da Terra.
Americanas devem investir em novos produtos. Leonardo Coelho dá como exemplo a retomada da venda de lâmpadas na seção de utilidades domésticas. Já os compradores de guloseimas têm à disposição marcas que vendem biscoitos cream cracker, um item que ainda não estava na prateleira, de acordo com entrevista dada pelo CEO ao UOL. Ele diz que as categorias mais vendidas de produtos são bomboniere, guloseimas e celulares.
Como está a situação da empresa?
A empresa tem prejuízo há anos. A companhia registrou um prejuízo de R$ 12,9 bilhões em 2022, além de uma dívida de R$ 26 bilhões. O prejuízo é o oitavo maior já registrado por uma empresa de capital aberto brasileira desde 2010, segundo cálculos do consultor Einar Rivero. Também reapresentou os números de 2021 - o lucro de cerca de R$ 500 milhões que haviam sido divulgados no ano foram ajustados para um prejuízo de R$ 6,3 bilhões.
A fraude foi de R$ 25,2 bilhões. A dívida bruta da empresa é de R$ 37,3 bilhões em 2022, e a líquida é de R$ 26,29 bilhões.
Em quase um ano, Americanas perderam quase 7 milhões de consumidores. Fraude prejudicou relação com clientes e fornecedores, principalmente na operação digital.
Consumidores e vendedores perderam a confiança. O número de visitas de clientes e conversões - visitas que se transformam em compras - caíram. Vendedores também ficaram em dúvidas se a empresa teria condições de repassar seus pagamentos, disse a empresa. No início da recuperação judicial da empresa, consumidores reclamaram que a entrega de produtos estava em atraso ou que sequer receberam seus pedidos.
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