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4 pontos para entender se os dividendos da Petrobras estão perto do fim

Como o caixa da Petrobras (PETR4) estava bem robusto, investidores esperavam um pagamento gordo em dividendos extraordinários. Foi por este motivo que as recentes declarações do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, de que a empresa precisava ser mais cautelosa na distribuição de dividendos extraordinários, caiu como um balde de água fria.

O que aconteceu com as ações da Petrobras

A empresa fechou o 3° trimestre de 2023 com US$ 17 bilhões em caixa, muito mais que a média do mercado para empresas do setor, de US$ 8 bilhões. Foi aí que os analistas começaram a fazer contas - com um dinheiro que aparentemente estaria sobrando - esperando um potencial dividendo extraordinário que poderia ser anunciado no balanço do 4° trimestre de 2023, em 7 de março. Para boa parte dos analistas, a expectativa de dividendos extraordinários era entre US$ 7 e US$ 8 bilhões. Alguns, mais conservadores, estimavam US$ 5 bilhões.

A companhia chegou a esclarecer em comunicado que não havia nenhuma decisão tomada sobre dividendos ainda não anunciados e que estes seguiriam a política de remuneração da empresa. Mas o comunicado não foi suficiente para impedir o estrago nas ações da petrolífera. Segundo um levantamento feito por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, a Petrobras perdeu R$ 34,3 bilhões em dois dias de negociação. A Petrobras fechou o mês de fevereiro com um valor de mercado de R$ 530,4 bilhões. A queda foi semelhante ao tombo que a companhia teve em 23 de outubro de 2023, quando perdeu R$ 32,3 bilhões, com notícias sobre possíveis mudanças no seu estatuto social.

O mercado não ficou muito animado com o futuro dos dividendos da Petrobras. Alguns analistas até acharam impossíveis os planos de transformação energética da empresa - em 10 anos, Prates quer que cerca de metade da receita da companhia venha de fontes renováveis. Apesar disso, muitos ainda acreditam que os dividendos de curto prazo podem seguir no patamar de dois dígitos, pelo menos em 2024. Eles enxergam alguns motivos que podem influenciar na distribuição de dividendos da Petrobras. Veja a seguir.

1 - Falas políticas, mas gestão pragmática

Analistas consultados pelo UOL Investimentos destacam que nem sempre os discursos de Prates são coerentes com as práticas. Para Ricardo Penha, estrategista chefe e sócio-fundador do Hub do Investidor, Jean Paul Prates é uma indicação política, e como bom político precisa agradar a sua base. "Contudo, foi uma grata surpresa o seu pragmatismo na condução da empresa", avalia.

Na hora de gerir a Petrobras, Prates o faz de forma pragmática. É o que diz Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. "Eu imagino que a Petrobras vai pagar dividendos extraordinários sim, porque no discurso dele, Prates não disse que não iria acontecer e sim que teriam que ser mais cuidadosos", afirma.

Nem todos os discursos feitos por Prates se tornaram realidade, e o mesmo pode acontecer com os dividendos extraordinários. "O próprio Jean Prates comentou no programa Roda Viva que até fevereiro irá tomar uma decisão em relação à Braskem e nada disso aconteceu", comenta Mateus Haag, analista da Guide Investimentos. Haag espera que o fim dos dividendos extraordinários não se concretize.

2 - Governo precisa de dinheiro para estabilidade fiscal

O governo federal é um dos principais acionistas da Petrobras, com 50,26% das ações ordinárias (PETR3). Isso já o torna um dos principais beneficiados caso a companhia distribua dividendos elevados.

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Por isso, Penha não acredita que a petrolífera mude drasticamente sua política de investimentos e remuneração dos acionistas. "Atualmente o governo federal precisa do dinheiro da estatal para ajudar a fechar as contas públicas", diz. Se uma distribuição fosse de R$ 100 bilhões, o governo receberia pelos menos R$ 50 bilhões. "Eu não acredito que a Petrobras deixe de ser uma boa pagadora de dividendos. Quem mais precisa do dividendo é o governo e, com ou sem distribuições extraordinárias, a Petrobras vai continuar pagando bem", afirma.

3 - Investimentos perigosos para o caixa

A meta de Prates, de ter metade das receitas vindo de energia solar, eólica e combustíveis renováveis em 10 anos, pareceu uma missão impossível. Se a estatal fechar o ano de 2023 com uma receita líquida de R$ 470 bilhões, como acredita a Genial, metade dessa receita em uma década seria superior a seis vezes a atual receita da Eletrobras. "Achamos essa meta inexequível. É uma grande perda de energia corporativa atuar em tais segmentos, tendo em vista o grande potencial da exploração e produção de petróleo e a própria natureza de atuação da Petrobras desde a sua fundação", afirmam.

Se a empresa for além do que já foi anunciado no planejamento estratégico, isso terá um impacto negativo para o fluxo de dividendos da empresa. Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, também acredita que a meta de transição energética da Petrobras está bem longe da realidade e espera que muitas coisas sejam revistas no meio do caminho. Isso porque diluir o sucesso e a rentabilidade que o pré-sal proporciona para a Petrobras em outros investimentos renováveis - que são menos rentáveis - pode afetar o lucro e os dividendos da companhia.

Haag, da Guide, acredita que esses projetos levariam muito tempo para se concretizar e os investimentos teriam que ser muito elevados. Penha, do Hub do Investidor, lembra ainda que uma estratégia como essa pode acabar provocando uma destruição de valor na Petrobras. O analista cita que outras petrolíferas internacionais já tentaram fazer isso e deram errado. "O CEO da Exxon se posicionou recentemente sobre o tema, falando que a empresa não fará nenhum investimento que não seja rentável. Algumas petroleiras europeias se aventuraram nisso e amargaram baixos retornos", destaca.

4 - Preço do petróleo

Mesmo com uma nova política de preços de combustíveis, a Petrobras ainda é muito beneficiada com a alta do petróleo Brent. Soares, da Órama, acredita que em 2024 o petróleo fique no patamar entre US$ 80 e US$ 90 o barril, o que seria super vantajoso para a Petrobras e sua lucratividade. Eurico Rodrigues, sócio e head de ações do Desmistificando Research, acredita que o petróleo negociado aos US$ 70 já garantiria um bom caixa para a Petrobras em 2024.

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Vale investir?

Com a queda das ações, os preços entre R$ 35 e R$ 40 são uma uma oportunidade de compra para quem ainda não investe na petrolífera. "Comprar PETR4 abaixo de R$ 30 seria o melhor cenário, porque teria diluído até o risco político", comenta Duarte. Para quem já possui as ações ao preço de R$ 40, patamar atual, ele aconselha a segurar a posição, contudo não fazer novas compras. "A Petrobras está mais barata que petroleiras argentinas e russas. A assimetria entre preço e valor chegou a níveis irracionais", destaca Penha, do Hub do Investidor.

Como ficam os dividendos?

Com um endividamento controlado, analistas esperam que a Petrobras ainda possa entregar dividendos robustos em 2024, ainda que menores que no passado. Duarte, da Ticker, projeta um dividend yield (retorno em dividendos) de entre 10% e 12% para 2024, apenas com dividendos regulares, e que pode haver pagamento de proventos extraordinários tanto em relação ao 4°TRI de 2023 e ao exercício de 2024.

Penha recomenda a compra de Petrobras desde 2021. Para 2024, ele espera que as ações PETR4 tenham um dividend yield de 18%, sem pagamentos extraordinários. Já para o 4°TRI 2023, espera uma distribuição extraordinária de entre US$ 4 e US$ 5 bilhões.

Na Guide, também há recomendação de compra para PETR4 com foco em dividendos. A casa espera um dividend yield de 17% para os próximos 12 meses.

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Rodrigues, da Desmistificando Research, espera um dividend yield de 12,5% apenas contando com dividendos regulares. Para ele, uma compra de PETR4 até R$ 44 ainda garantiria ao investidor dividendos superiores a 11%, sem contar distribuições extraordinárias. A recomendação é de compra.

A Genial Investimentos espera que a Petrobras distribua dividendos regulares com um retorno de 8,8% em 2024, e de 14,5% com os extraordinários. A recomendação da casa é manter o papel, com preço-alvo de R$ 47. "Preferimos alterar a nossa recomendação em um momento mais apropriado e com maior margem de segurança por entendermos que PETR4 é um case com maior risco versus os pares privados", destacam.

A Órama Investimentos tem recomendação neutra para o papel e acredita que existem melhores oportunidades para dividendos na Bolsa de Valores. Soares projeta um dividend yield de entre 16% e 18% para 2024, equivalente a R$ 7 de dividendos por papel.

O que o investidor deve olhar ao analisar Petrobras?

O primeiro passo é entender como funciona a política de dividendos da Petrobras. A companhia se compromete a distribuir aos seus acionistas 45% do fluxo de caixa livre trimestralmente. Este caixa livre é a diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos e aquisições feitas pela empresa. A estatal também possui uma remuneração mínima anual de US$ 4 bilhões para exercícios em que o preço do petróleo brent seja superior a US$ 40 o barril. Além disso, a companhia precisa ter uma dívida bruta igual ou inferior ao nível máximo, atualmente de US$ 65 bilhões.

Duarte aconselha aos investidores avaliar o preço do petróleo. Quanto maior estiver, será melhor para a lucratividade da companhia.

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O investidor também deve ver quanto a Petrobras destina para novos ativos, exploração, máquinas, entre outros, chamado Capex. "Quanto menor o Capex, o caixa fica mais robusto e melhor para os dividendos", pontua. Mas o Capex da empresa não pode ser zero, porque a companhia precisa reinvestir para ter rentabilidade no futuro.

O último ponto é o endividamento, que deve ser observado pelo indicador dívida líquida/ ebitda. Duarte explica que se trata de a dívida total da empresa menos o caixa que a companhia tem disponível para pagar a dívida, que por sua vez é dividido pela geração de caixa da companhia - o ideal é que seja de no máximo 3,5 vezes. Atualmente a dívida líquida/ebitda da Petrobras está em 0,8 vezes.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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