Fed positivo e Copom negativo: como fica Bolsa?
Com o banco central americano, o Fed, acenando com três cortes na taxa de juros dos EUA, mas o BC brasileiro alertando para "incertezas", como fica a Bolsa de Valores de São Paulo?
O que está acontecendo?
Nesta quinta-feira, o primeiro pregão depois dos anúncios dos dois bancos centrais, o Ibovespa operou em baixa. Encerrou o dia em queda de 0,75%, com 128.158 pontos.
Na quarta-feira (20), o Federal Reserve, nos Estados Unidos, deu boas novas. Informou que manterá a taxa de juros americana inalterada pela quinta vez consecutiva, entre 5,25% e 5,50%. Também prometeu três cortes nesses percentuais ainda este ano. O mercado aposta que eles devam começar em julho. Essa decisão foi boa para o Ibovespa. O índice fechou com alta de 1,25%, aos 129.124,83 pontos.
Mas depois do fechamento do mercado, o BC brasileiro deu a má notícia. O Comitê de Política Monetária baixou a Selic para 10,75% ao ano, mas mudou a sinalização daqui para frente. A manutenção deste ritmo de cortes (de meio ponto percentual por vez) é incerta agora. "O BC apontou incertezas, sem dizer quais são elas, mas a gente sabe que é a inflação replicando e os riscos fiscais", diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.
E para onde vai a Bolsa?
Ela pode dar uma leve e vagarosa melhorada, já que os investidores estrangeiros poderão voltar. É o que diz Leonardo Piovesan, analista da Quantzed. "Tendo a crer que o investidor de fora agora deve ter uma visão mais positiva em relação aos mercados emergentes", diz ele.
Quedas nos juros americanos atraem investidores para o Brasil. Os juros americanos são o investimento mais seguro do mundo. Se eles estão em alta, dinheiro do planeta todo sai das bolsas de valores e vai para os EUA. Quando eles caem — como deve acontecer este ano — o movimento é inverso: os investidores aceitam aplicações de maior risco, mas que possam pagar mais. A Bolsa brasileira é um exemplo.
Em relatório, a Galapagos Wealth Management também aposta na tese do ambiente internacional favorável ao Brasil. "Esperamos que o cenário internacional seja benigno, que o El Niño tenha um impacto limitado na safra deste ano, que a atividade econômica continue esfriando, e que haja algum esforço fiscal para reequilibrar as contas públicas. Assim, mantemos nossa projeção de taxa Selic em 8% no final de 2024."
Mas há quem discorde disso. "Os estrangeiros estão muito seletivos porque há questões que envolvem as contas públicas, déficit fiscal, endividamento público, ou seja: fundamentos econômicos. A volta ainda não deve ser agressiva", diz Ricardo Martins, economista chefe da Planner Investimentos.
E o investidor brasileiro?
Esse deve continuar mais afastado da Bolsa. O comunicado do Copom adia a volta desse investidor para Bolsa. "O brasileiro só sai da renda fixa e vai para Bolsa quando as taxas de juros caem bastante e isso ainda não aconteceu", diz Piovesan, da Quantzed.
Muitos apostam que a Selic não deve mais chegar a 8,50% até o fim do ano. No mercado, as apostas estão mais para algo entre 9,50% e 9,70%, diz Fernando Bresciani. O J.P. Morgan, por exemplo, aposta em 9,50% até o fim de 2024. É a mesma estimativa do Bank of America. "Continuamos esperando cortes de 50 pontos base por reunião, com um corte final de 25 pontos base em julho, atingindo uma taxa terminal de 9,50% em 2024", publicou o BofA.
O que fazer com as ações?
Elas estão baratas, dizem os especialistas. É ainda uma boa hora para compras. Os setores mais defensivos, como bancos, infraestrutura e shoppings.
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