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Quem é Chambriard, nova presidente da Petrobras, e qual a visão do mercado

Com a demissão de Jean Paul Prates do comando da Petrobras pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quem deve assumir o posto é Magda Chambriard. Analistas do mercado acreditam que sua gestão à frente da estatal será mais desenvolvimentista, com maior investimento em outras áreas, como energias renováveis e refino. Isso pode afetar os retornos das ações e dividendos. As ações da Petrobras estão em queda hoje, 15.

Antes de ser nomeada presidente, Magda Chambriard precisa integrar o conselho de administração da Petrobras. A norma é determinada pelo estatuto social da estatal. Após fazer parte do conselho, ela deve ser aprovada pelos demais membros.

Carreira

Será a segunda mulher na presidência da companhia.

Segundo a XP, Chambriard é uma profissional experiente na indústria de petróleo e gás. A executiva possui mestrado em Engenharia Química pela COPPE/UFRJ (1989) e graduação em Engenharia Civil pela UFRJ (1979), e é especializada em engenharia de reservatórios e avaliação de formações.

Chambriard foi diretora geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo) no governo de Dilma Rousseff (2011-2016). Foi indicada agora para substituir Prates pelo Ministério de Minas e Energia.

"Acredito que, em relação à parte técnica, ela seja super capaz", diz Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama. Já em relação à relação com o governo, "ela ainda terá de se provar. Foi onde o Jean Paul Prates não foi bem sucedido ao longo do seu mandado."

Já o BTG está otimista, pela nomeação técnica. "Vemos a indicação de Magda Chambriard como um indício de que a partir de agora todas as nomeações terão que seguir um viés técnico. Acreditamos que esse pragmatismo permanecerá em vigor, impulsionado pela necessidade do governo federal de continuar gerindo as contas fiscais e por conta das rigorosas regras de governança e métricas de rentabilidade necessárias para a aprovação de investimentos inorgânicos."

De maneira geral, não possuímos apontamentos quanto ao seu perfil acadêmico/profissional, porém a forma como chega ao poder alimenta preocupações quanto à interferência estatal na forma como a companhia será conduzida.
Ativa Investimentos, em relatório

Interferência do governo

A nova executiva poderá ser mais alinhada com os planos do governo, dizem analistas do mercado. "Deverá ceder mais aos anseios do Executivo, que é vocal quanto ao interesse em expandir investimentos", diz a Ativa.

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Ação no governo Dilma preocupa. "As credenciais dela, na minha opinião, são um pouco piores, não em termos de experiência, mas em termos de envolvimento com o governo, com a Dilma, ex-presidente. A Magda foi presidente da ANP no governo dela. Teve um pouquinho de envolvimento com a OGX, mas que causou polêmica na época. Então, não acho que o mercado vê o nome dela com bons olhos", diz Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.

A nova CEO parece muito mais alinhada aos anseios políticos expansionistas do governo, o que pode resultar em uma guinada na política de investimentos e dividendos.
Ruy Hungria, analista da Empiricus Research

Já tivemos falas também da Magda no passado em que ela disse acreditar que grande parte dos investimentos, dos resultados, deveriam ficar no Brasil. Então, fica claro que é uma presidente muito mais pró-governo do que pró-mercado.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos

Mais investimentos em outras áreas

O plano de investimentos da empresa deve ser revisto. Hoje, o plano é de US$ 102 bilhões em investimentos até 2028. Segundo a Ativa, "já surgem notícias que Magda teria se comprometido a acelerar projetos duvidosos, como o Comperj e a Refinaria Abreu e Lima".

Distribuição de dividendos está no centro da polêmica. Segundo analistas, a decisão de reter 100% dos dividendos extraordinários na divulgação dos resultados do quarto trimestre, que foi mal recebida pelo mercado, foi do governo e do Ministério de Minas e Energia.

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A intenção é que a estatal invista mais em outras áreas, sem distribuir esses recursos aos acionistas, como energias renováveis e em refino, dizem especialistas. Para Soares, da Órama, o poder executivo tem mais interesse em aumentar os investimentos em refinarias e fazer uma nova rodada de investimentos em navegação.

Mas o mercado prefere que a Petrobras mantenha o foco nos segmentos em que já é forte. Isso porque o retorno dos investimentos é maior - assim como os pagamentos distribuídos aos acionistas.

Já o UBS acredita que ela deve manter a política da estatal. "Nossa visão é que a governança deverá dar suporte para a manutenção da estratégia, retorno e alocação de capital de forma racional e, em última análise, retornos aos acionistas."

O mercado teme que, depois de um período de desinvestimentos, vendendo ativos para recuperar o que foi bagunçado naquele período, agora a empresa volte a fazer investimentos ruins
Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messen Investimentos

Como sempre gostamos de lembrar, a Petrobras gera retornos altíssimos no segmento de Exploração e Produção (E&P) de petróleo, especialmente em águas profundas e ultraprofundas, onde possui campos extremamente produtivos e enorme expertise. Mas quando tentou investir em outros setores - como naval, fertilizantes, geração de energia, etc -, raramente conseguiu retornos que justificassem esses aportes.
Ruy Hungria, analista da Empiricus Research

O que a gente precisa medir daqui para a frente é qual vai ser o retorno sobre o capital empregado, se a empresa vai aumentar o nível de capex (investimentos). Relembrando que o dividendo vem do fluxo de caixa. Quanto mais capex, menos fluxo de caixa.
Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest

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A Magda tem histórico de crítica ao pagamento de dividendos. Tem uma abordagem desenvolvimentista. Foi diretora da ANP no auge da "doutrina Dilma" na indústria de petróleo; com controle de preços, investimentos sem retorno e aceleração da corrupção.
Tiago Reis, fundador da Suno Research

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