Ações da Petrobras desabam na Bolsa após demissão de Prates
A demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras está se refletindo negativamente na Bolsa. O anúncio foi feito depois do fechamento do mercado. Preocupações sobre a intervenção do governo na operação da empresa são encaradas negativamente por analistas.
O que aconteceu
As ações da Petrobras são as maiores quedas da Bolsa hoje. Até as 12h desta quarta-feira (15), o valor de mercado da empresa caía para R$ 507 bilhões, uma desvalorização de R$ 35,3 bilhões em relação ao dia anterior. O total perdido pela empresa equivale ao valor total das ações da Equatorial Energia, segundo a consultoria Elos Ayta.
Por volta das 15h, a ação ordinária PETR3 caíra 7,52%, e a preferencial PETR4, 6,41%. Acompanhe a cotação em tempo real. No mesmo horário, o Ibovespa, principal índice da B3, estava em queda de 0,55%.
As ADRs (recibos de ações no mercado americano) da Petrobras, PBR, estão em queda. Às 9h40, a queda é de 7,25% antes da abertura de mercado. Na véspera, as ADRs da estatal brasileira já haviam fechado em baixa de 2,05%, depois de um lucro abaixo do esperado.
Oscilação puxa para baixo as ações da bolsa nacional em Nova York. Às 9h48, o fundo de índice EWZ, que acompanha as variações do mercado acionário brasileiro, apresentava queda de 1,75%.
O movimento negativo no mercado de ações reflete a demissão de Jean Paul Prates. Ele foi desligado do comando da petroleira na noite desta terça-feira (14). O desligamento deve refletir no mercado acionário brasileiro, que aguarda pela indicação do novo comandante da companhia.
Assume a presidência da Petrobras Magda Chambriard, segundo a empresa. Indicada pelo Ministério de Minas e Energia, ela é ex-diretora da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Ela comandou a agência durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Ela também já trabalhou na Petrobras de 1980 a 2002.
Antes de ser nomeada presidente, Magda Chambriard precisa integrar o conselho de administração da Petrobras. A norma é determinada pelo estatuto social da estatal. Após fazer parte do conselho, ela deve ser aprovada pelos demais membros.
Ontem, as ações da Petrobras também fecharam o dia em baixa no Ibovespa, por causa dos resultados. As quedas, de 2,7% das ações preferenciais (PETR4) e de 1,7% dos papéis ordinários (PETR3), foram ocasionadas pela redução de 38% do lucro da empresa no primeiro trimestre. O dado foi anunciado na noite da segunda-feira (13).
O que diz o mercado
Para a Ativa Investimentos, a decisão "ratifica o maior risco político da empresa". Com a mudança, a recomendação para as ações da empresa é "neura". "Sem entrar no mérito da nova escolhida, classificamos a decisão como negativa, uma vez que Prates vinha desempenhando o que classificamos como um bom papel na companhia, equilibrando os interesses econômicos e políticos da empresa com sabedoria", disse a corretora em comentário.
"Na nossa visão, a mudança na gestão adiciona incerteza ao caso de investimento e aumenta a percepção de risco dos investidores", disse a XP em relatório. "Os investidores estão particularmente preocupados com conflitos de interesse em temas como distribuição de dividendos, política de preços, planos de investimento, passivos fiscais contingentes e outros."
Avaliamos as notícias da demissão como negativas. Com base em conversas com investidores, acreditamos que o mercado tinha Prates como conciliador entre os interesses dos investidores e dos governos. Também acreditamos que o anúncio do novo presidente pode reacender preocupações sobre uma possível intervenção política nas operações da empresa.
Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins, analistas do Goldman Sachs, em relatório.
O banco também notou que a presidência da estatal mudou diversas vezes nos últimos anos, por conta de desentendimentos entre o governo e a liderança da petroleira. Nessas ocasiões, as ações da empresa tiveram instabilidade na Bolsa.
Diferenças, desavenças e dividendos
Prates vinha se desgastando com o governo porque nunca deu a Lula espaço dentro da Petrobras, segundo o UOL apurou. Ex-senador pelo PT do Rio Grande do Norte, Prates queria conduzir a petroleira como uma empresa independente do governo, mas Lula vê a Petrobras como uma extensão da sua administração.
Havia atritos com os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) faz tempo. Prates era criticado por tomar decisões sem consultar o setor e os dois ministros. Também existia uma percepção de que o ex-comandante da estatal não conseguia desempenhas um papel de liderança à frente da empresa.
A recente discussão sobre o pagamento de lucros da Petrobras aos acionistas foi a pá de cal em uma relação desgastada. Em março, a petroleira anunciou que pagaria somente uma parte dos dividendos. Lula preferia que os lucros fossem usados pela empresa para fazer novos investimentos. Mas, antes resistentes, Silveira e Costa mudaram de ideia, alinhando-se ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e concordando com a distribuição de dividendos extras para ajudar a fechar as contas do governo.
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