Por que há menos mulheres investindo do que homens?
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Só 8% das mulheres brasileiras colocaram dinheiro em investimentos financeiros no ano passado. Entre os homens, porém, esse percentual foi de 14%. Os dados são da oitava edição do "Raio X do Investidor Brasileiro", da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em parceria com o Datafolha. Foram ouvidas 5.846 pessoas, sendo 52% do público feminino. No total, 33% das respondentes tinham algum tipo de investimento. Mas a maior parte — 92% — não aportou nenhum capital nessas aplicações durante 2024.
Embora ainda seja menor, o conjunto de mulheres que investiu algum valor em 2024, cresceu. Passou de 5% em 2022 para 7% em 2023 e chegou aos atuais 8% no ano passado. O de homens também aumentou: de 5% em 2022 para 7% em 2023, chegando a 14% no ano passado.
Por que elas investiram menos que eles?
Entre as mulheres que não investiram em 2024, o principal motivo apontado pela pesquisa foi a falta de dinheiro, apontada por 83%. Apenas 5% indicaram não ter interesse e outras 5% citaram não ter conhecimento ou informações suficientes. Outras 4% disseram não fazer aplicações financeiras por insegurança e 2% apontaram ganhar pouco.
Elas não têm dinheiro porque as mulheres ganham menos que os homens. As trabalhadoras mulheres ganham 19,4% a menos que os homens no Brasil, segundo o "1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios", levantamento feito em 2024 pelos ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego. "Então, a capacidade de poupança que elas têm é menor", diz Ana Leoni, presidente da Planejar e especialista em comportamento financeiro.
Além disso, as mulheres têm mais responsabilidades financeiras. "Elas acabam destinando seus recursos para os gastos domésticos, e o homem, no caso o marido, é que fica com a função de prover o futuro da família", diz Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank. E em 2024, a inflação ficou em 4,83%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mas a inflação dos alimentos ficou bem acima disso: o grupo fechou com alta de 7,60%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Ou seja, gastando mais com as compras, elas não puderam alimentar os investimentos.
Universo masculino
Um dos fatores que também contribuíram para a "masculinização" dos investimentos é que o mercado financeiro é predominantemente formado por homens. Pesquisas de mercado de trabalho mostram que de cada 10 profissionais do setor financeiro, apenas dois são mulheres. "Ainda existem barreiras culturais e estruturais que dificultam a entrada e a ascensão das mulheres, embora isso esteja mudando com o tempo. Observo isso claramente nesses 23 anos de atuação nesse mercado, sendo mais de 15 anos contratando e fazendo gestão de pessoas", diz Pollyanne Venturini Maia, assessora da Valor Investimentos.
Em sua carreira, ela enfrenta piadinhas e comentários não apropriados. "Comentários sutis ainda aparecem no dia a dia, reforçando estereótipos que não condizem com a realidade. No entanto, vejo que esse comportamento tem diminuído à medida que mais mulheres conquistam espaço e a cultura do mercado se profissionaliza", afirma Pollyanne.
Pode melhorar?
Em 2025, espera-se que o percentual de mulheres aplicando dinheiro em investimentos aumente mais. Metade das participantes que não investiram mostrou a intenção de fazer alguma aplicação neste ano, em busca, principalmente, de segurança financeira (47%) e aumento do poder de consumo (35%).
A democratização das informações sobre como investir vem ajudando a aumentar a participação feminina. É o que diz Marcelo Billi, superintendente de sustentabilidade, inovação e educação da Anbima. "Ainda assim, a parcela do público feminino que investe é bem inferior a do masculino, o que mostra que temos ainda um caminho longo a percorrer para promover a maior participação."
Outro fator que poderia ajudar a criar mais investidoras é ter mais profissionais femininas atendendo às mulheres, dizem especialistas. "A representatividade gera identificação e confiança. Quando uma mulher vê outra atuando com competência e segurança no mercado financeiro, ela se sente mais encorajada a investir e buscar conhecimento sobre o tema", diz Pollyanne.
O que faz as mulheres quererem investir?
- Conseguir segurança financeira 47%
- Poder consumir 35%
- Abrir/ aumentar negócio (empresa) 6%
- Melhorar a qualidade de vida/ conforto 3%
- Investir na saúde 4%
- Motivos pessoais 2%
- Não sabe/ não tem motivo 3%
Fonte: "Raio X do Investidor Brasileiro", da Anbima/2024
A independência financeira está muito associada à sensação de segurança que os investimentos dão. "Embora seja um fator priorizado por todas as pessoas, a tranquilidade em ter uma reserva de recursos é mais valorizada pelas mulheres", explica Billi.
Onde elas investem?
No conjunto das que investem, a caderneta de poupança ainda é a principal escolha. Mesmo assim, a adesão à caderneta de poupança recuou dois pontos percentuais entre o público feminino em 2024 (de 26%, em 2023, para 24%).
As mulheres são notadamente menos propensas ao risco. É o que diz Larissa Frias, do C6. "E por ser menos agressivas, elas têm mais cuidado ao escolher seus investimentos e acabam errando menos", afirma a especialista.
Para ela, a mulher precisa ter mais preocupação com investimentos porque o sexo feminino tem longevidade maior que os homens. Em 2023, a expectativa de vida das mulheres era de 79,7 anos, enquanto a dos homens era de 73,1 anos, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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