Hypera e outras indústrias prometem genérico do Ozempic: vale investir?
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O Ozempic, remédio desenvolvido em 2017, indicado para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, movimenta US$ 23 bilhões ao ano em vendas mundialmente.
No Brasil, entretanto, a corrida por ganhos com ações de empresas farmacêuticas está apenas começando.
O que está acontecendo?
Na semana passada, a farmacêutica Hypera (HYPE3) anunciou que deve entrar nesse mercado no ano que vem. Mais exatamente em março de 2026, quando a patente da substância semaglutida, princípio ativo do medicamento, expira. A ideia é lançar sua versão do remédio, com o mesmo princípio ativo e dosagens.
Ozempic e outros medicamentos semelhantes, como Wegovy e Rybelsus custam de R$ 800 a R$ 1.500 no Brasil. "Estamos trabalhando para lançar assim que cair a patente e estamos bastante otimistas com esse produto a partir do ano que vem", afirmou o presidente da Hypera, Breno de Oliveira, em teleconferência sobre os resultados da empresa na semana passada.
As vendas do Ozempic cresceram 22 vezes no Brasil, passando de US$ 27,5 milhões em 2019 para US$ 621,6 milhões em 2023. Esses são os dados mais recentes, fornecidos pela IQVIA, provedora global de dados sobre mercado farmacêutico. Ainda é bem pouco, se comparado ao mercado americano, onde as vendas totalizaram US$ 30,3 bilhões em 2023.
No mundo, as vendas devem continuar crescendo até 2029, pelo menos mais de 30% até lá, conforme preveem empresas do mercado. Mas o cenário será bem mais competitivo que o atual.
Também é preciso levar em conta que não é só porque o medicamento vende bem que ele é um bom investimento. "A Hypera não estará sozinha na disputa: ao menos quatro outras empresas já solicitaram registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comercializar medicamentos genéricos com o mesmo princípio ativo", afirma Julio Vieira, gestor e contribuidor do Tradesclub.
Mas o mercado gosta de antecipar as coisas. Ou seja: o investidor gosta de comprar uma ação, antevendo que a companhia pode ter uma alta no lucro. "Com a expiração da patente da Novo Nordisk, a fabricante dinamarquesa e desenvolvedora do Ozempic, o mercado brasileiro poderá passar por uma transformação significativa nos próximos anos. Caso a Hypera consiga lançar sua versão rapidamente, a empresa terá a chance de se posicionar como uma concorrente relevante no Brasil", diz Vieria.
Nada, entretanto, será como antes. "Esse mercado tem potencial para crescer, mas muito já ficou no passado porque esses medicamentos já estão na pista há algum tempo", diz Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da casa de análise Top Gain.
Com mais concorrentes fabricando a mesma droga, o preço deve cair bastante. Isso já vem acontecendo internacionalmente. A ação da companhia Novo Nordisk, a fabricante do Ozempic — a NVO, negociada em Nova York — teve queda no ano passado de 18%.
Na Bolsa brasileira, o recibo de ação da companhia também deu prejuízo. O BDR N1VO34 ficou com rendimento negativo de 18,45% em 2024. Isso porque os resultados dos testes da Novo Nordisk para seu novo medicamento para obesidade, o CagriSema, decepcionaram os investidores ao não mostrar resultados superiores aos fármacos já existentes.
Mas, neste ano, a ação deu uma virada. Novos resultados de pesquisa com o CagriSema foram mais animadores e o BDR e a ação subiram 9% desde janeiro.
Vale investir?
Quem quiser investir tem que saber que ação da Hypera pode variar este ano. "A Hypera encerrou 2024 com uma decisão estratégica importante: reduzir os estoques em seus clientes. Essa medida, embora necessária para otimizar a gestão de inventário, terá um impacto temporário nos resultados financeiros", diz Lima. "Além disso, o grande desafio da Hypera e das demais empresas será garantir produção eficiente e competitiva, sem comprometer a qualidade do tratamento".
No entanto, a ação está bem barata. "A expectativa, no entanto, é que a empresa já comece a apresentar melhora nos resultados a partir do primeiro trimestre de 2025", diz Lima. "Caso consiga concluir o projeto da semaglutida com eficiência, a Hypera consolidará sua posição em um mercado altamente promissor", acrescenta ele.
Dentre 14 corretoras e bancos que cobrem a ação publicados no site da empresa, sete recomendam a compra. Outros sete preferem classificá-la como neutra: melhor não comprar nem vender.
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