Ações da Sabesp oscilam depois de primeiro balanço pós-privatização
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Privatizações são sempre bem vindas pelo mercado: espera-se que a empresa ganhe mais eficiência e transparência. Mas o primeiro balanço publicado pela Sabesp (SBSP3), a companhia de água e saneamento de São Paulo, passou longe disso. "Poluído" e "mal explicado" e foram alguns dos adjetivos usados por analistas e bancos para classificar a divulgação da empresa. Mesmo assim, as ações tiveram alta de 3,3% no dia seguinte à divulgação, na terça-feira (25), pois a maior parte dos números divulgados agradou os investidores.
O que está acontecendo?
A desestatização da Sabesp foi concluída em 23 de julho do ano passado. A nova gestão assumiu no fim de setembro. Então, o balanço divulgado na noite da segunda-feira (24) referente ao quarto trimestre de 2024 foi o primeiro da nova gestão privada.
O lucro líquido contábil foi de R$ 1,435 bilhão, uma alta de 21% em relação ao mesmo período de 2023. No ano fechado, o resultado líquido (descontado de valores destinados às reservas legais e para imprevistos, mais a reserva de contingência não usada no período) teve um salto de 171,9%, para R$ 9,58 bilhões. Esses resultados vieram em linha com o que o mercado esperava, nem mais, nem menos.
O que o mercado criticou?
Os problemas começaram com o Ebitda, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. O total ficou em R$ 2,3 bilhões, com expansão de 4,1%, e em R$ 11,3 bilhões em 2024, aumento de 18,8%. No entanto, esse valor veio 20% abaixo do que era esperado pelos analistas do mercado. "O Ebitda veio cheio de 'não recorrentes'", diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank. Não recorrentes são despesas ou ganhos extras, que não acontecem todos os trimestres, com regularidades.
Logo após uma privatização, a empresa geralmente demite e revê contratos. Isso gera despesas com demissões e rescisões. Foi nesse quesito das despesas não recorrentes que a Sabesp não foi clara, explica Bresciani. "Mas como os números operacionais em geral foram bons, houve uma reação positiva do mercado", acrescenta ele. Se não houvesse tantas lacunas, diz ele, talvez a alta pudesse ter sido maior. Tanto é que nesta quarta-feira (26), a ação teve uma baixa, caindo 0,51%, para R$ 101,58, conforme dados preliminares.
O mercado também criticou a forma como foi divulgado o resultado do programa de demissão voluntária (PDV). O PDV teve adesão de 2.039 funcionários. "Teve pouca divulgação sobre os resultados do programa de demissão voluntária", criticou Sá.
A empresa poupou R$ 705 milhões durante o quarto trimestre relacionados às medidas de PDV. "No entanto, havia informações limitadas sobre a redução de pessoal e potenciais economias de custos", publicou o Itaú BBA. "Ficou muito mal explicado", diz Bresciani.
Ficou difícil também fazer a comparação com os outros trimestres do passado. "A divulgação foi muito poluída, com vários ajustes feitos pela empresa, tornando desafiador conciliar todos os números reportados com os números ajustados no trimestre", publicou Marcelo Sá, analista do Itaú BBA.
A empresa removeu a tabela que mostra o Ebitda ajustado do release de resultados, juntamente com os ajustes não recorrentes. "Além disso, divulgou apenas os números anuais ajustados e comentou sobre os ajustes anuais, tornando muito desafiador obter os números trimestrais ajustados. Não conseguimos encontrar o Ebitda ajustado mencionado pela empresa na página 2 de seu release", diz Sá.
Em relação ao índice de inadimplência, o indicador atingiu 2,6% da receita bruta ajustada. Ficou ligeiramente acima dos trimestres anteriores e da estimativa do BBA.
Quais são os desafios?
O investidor deve saber que a empresa vai gastar bastante com investimentos, alerta a Genial. "O plano de investir R$15 bilhões ao ano é bem desafiador tendo em vista o patamar de investimentos atual (R$ 6,9 bilhões em 2024)", publicou a empresa. Gabriel Cecco, especialista da Valor Investimentos, concorda. "A Sabesp vai ter que equilibrar expansão, com eficiência e resultado para os investidores. O Plano de Demissão Voluntária deve ajudar bastante, mas vamos ter mais clareza sobre os resultados disso nos próximos trimestres", afirma.
Vale investir?
Para o Itaú BBA é melhor não comprar, nem vender. Mas para o Goldman Sachs é uma boa compra, com potencial de valorização de 15,9% sobre o preço de 24 de março, para R$ 114,50. "Os dividendos relacionados a 2024 podem chegar a R$ 2,4 bilhões, dado o valor do lucro não ajustado de R$ 9,6 bilhões", publicou o banco americano.
A Genial corretora também recomenda compra, com preço alvo de R$ 120. O Bank of America também classifica a ação como compra, com preço alvo de R$ 116. "A Equatorial (EQTL3) como a nova operadora, tem experiência bem-sucedida em reestruturações', analisa o banco, em relatório. O BTG recomenda compra, com preço alvo de R$ 98.
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