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Crescimento econômico, outro enigma da crise brasileira

18/04/2016 20h45

Brasília, 18 Abr 2016 (AFP) - Empresários e opositores veem no impeachment de Dilma Rousseff a chave para a recuperação da economia brasileira, mas o custo político de tomar medidas impopulares será uma batata quente para qualquer sucessor.

A economia recuou 3,8% no ano passado e o FMI prevê outra queda similar para este ano, assim como um crescimento zero em 2017.

Este panorama desolador, potencializado pela paralisia política, é um mistura de recessão, desemprego (6,8% em 2015, dois pontos mais que o ano anterior) e aumento da inflação (10,67% em 2015, a maior em treze anos).

A bolsa festeja a perspectiva de que Dilma Rousseff saia do poder enquanto a inflação começa a retroceder (o mercado prevê uma taxa de 7,08% neste ano) pela queda da demanda e a balança comercial registra um superávit, porque a recessão também reduz as importações.

O vice-presidente Michel Temer mencionou a necessidade de "sacrifícios" e esboçou medidas de reativação econômica. E, sobretudo, de restabelecimento das contas fiscais.

A dívida pública chegou a 66,2% do PIB no ano passado, quase dez anos a mais do que no ano anterior, e o déficit fiscal passou de 0,57% do PIB em 2014 para 1,88% no ano passado.

A pouca capacidade de arrecadação do Brasil levou o governo a reduzir sua meta fiscal cinco vezes em 2015 e as três maiores agências classificadoras de risco a reduzir a dívida à categoria de especulativa.

Para a consultoria de risco Eurasia, Temer provavelmente negociará uma ambiciosa reforma econômica, que colocará as aposentadorias e a recuperação fiscal sobre a mesa.

"Somos céticos sobre sua capacidade de aprovar medidas de impacto no curto prazo sobre gastos, mas sua equipe sabe que reformas estruturais são o único modo de gerar expectativas positivas", acrescentou.

De olho em 2018No plano da economia real, a produção industrial teve em 2015 um retrocesso de 8,3%.

Grandes associações patronais, como a confederação agropecuária CNA e a Fiesp, apoiaram publicamente a saída do de Dilma, culpando-a pela crise econômica.

Esses grupos econômicos apoiam Temer que, caso vire presidente, deve ter um Congresso mais favorável, o que é fundamental já que as reformas estruturais para reduzir os gastos públicos precisariam de maioria qualificada.

Segundo a Eurasia, se Temer chegar ao poder, apresentará uma equipe econômica que agrade o mercado, já que "claramente decidiram que se posicionar como a solução da crise econômica é o melhor caminho para a sobrevivência política".

O governo Dilma tentou em 2015, sem sucesso, que o Congresso aprovasse um ajuste que inclui cortes sociais e novos impostos. Os parlamentares, contudo, não aprovaram as medidas enviadas, contribuindo para o aprofundamento da crise.

Grandes centrais sindicais e movimentos de esquerda, que tradicionalmente apoiam o PT, foram às ruas para protestar contra o ajuste fiscal.

"Espera-se um ajuste pela via neoliberal. Ou seja, diminuição da participação do Estado e flexibilização das leis trabalhistas", disse à AFP o economista independente Felipe Queiroz.

"Essas medidas provocarão ainda mais recessão e perda de popularidade", avaliou o economista.

Entretanto, muitos analistas e o mercado defendem um menor gasto público e afirmam que o Estado brasileiro é um gigante ineficiente com muita ingerência na economia.