Confusos com as reformas de Maduro, venezuelanos temem mais inflação
Caracas, 23 Ago 2018 (AFP) - Habituado a falar de milhões, Alexander, operário, olha confuso os 10 bolívares que acaba de retirar de um banco de Caracas, após meia hora de fila. "Não sei o que posso comprar com isso, não entendo", diz sorridente.
As ruas da Venezuela se adaptam lentamente às reformas econômicas que o presidente Nicolás Maduro colocou em vigor na segunda-feira.
As novas notas - com cinco zeros a menos em meio à hiperinflação - já podem ser retiradas em longas filas de caixas automáticos, e os pagamentos eletrônicos se normalizaram nesta quarta-feira.
Entretanto, muitos se complicam ao pagar ou receber bolívares com cinco zeros a menos.
"As pessoas não sabem com qual nota pagar o transporte, se com a nova ou a antiga. Não sabem que câmbio vai ser dado", afirmou à AFP José Bravo, um aposentado de 63 anos.
Complicando as transações, as novas notas conviverão com as da velha família, devorada pela inflação, porque só servem para pagar o transporte ou a gasolina mais barata do mundo.
"Se eu der uma nota de dois bolívares (200.000 das antigas notas) e a passagem custa 0,6 (60.000 bolívares de antes) Como você tem o troco? Às vezes eles dão com as notas antigas e as pessoas perdem dinheiro", disse à AFP Jonathan Campos, técnico em informática.
Manuel, um mototaxista em Caracas, ainda não foi pago com as novas notas, mas ri de como seus clientes se confundem quando fazem transferências de seus celulares.
"Uma corrida curta custa 20 bolívares (dois milhões das notas antigas), e as pessoas às vezes pensam que são 200 ou 2.000, mas eu sou bom, não me aproveito e explico", assegura o motorista.
- 'É uma loucura' -Muitos apoiam o aumento do salário mínimo em cerca de 3.400%, ficando em 30 dólares segundo a cotação oficial. Não obstante, todos temem que em poucos meses seja pulverizado pela hiperinflação, que segundo o FMI poderia superar 1.000.000% este ano.
"Esse aumento é uma loucura, é muito excessivo e o que vai trazer é desemprego, porque muitos empresários vão ter que demitir pessoas. E os que pagarem, vão ter que aumentar os preços", assinalou Manuel.
Jonathan considera que os aumentos salariais deveriam ser acompanhados por um aumento na produção, algo que descarta pela queda das exportações petroleiras (fonte de 96% das divisas do país).
A produção de petróleo na Venezuela está em queda: dos 3,2 milhões de barris diários que foram exportados em 2008, agora apenas 1,4 milhão são produzidos, segundo a estatal petroleira Pdvsa.
"Se não há bens, isso se traduz em inflação. Há mais dinheiro na rua e os preços sobem", explicou Jonathan, o técnico em informática.
- 'Maquiagem à crise' -Alguns, como José Bravo, defendem o aumento e pedem ao governo que congele os preços dos produtos básicos, em grave escassez.
Os ministros se reuniram nesta quarta-feira para definir "preços justos" de vários produtos. O governo socialista diz ser vítima de uma "guerra econômica" da direita que contempla o aumento dos preços para gerar descontentamento e derrubar o presidente.
"Os empresários querem destruir o país. O que Maduro tem que fazer é congelar os preços", considerou José.
A Procuradoria e a Superintendência de Defesa dos Direitos Socioeconômicos (Sundde) começaram a supervisionar estabelecimentos comerciais com 68 procuradores especialistas em crimes econômicos, para evitar aumentos.
O gerente e subgerente de um supermercado em Caracas foram detidos por uma "remarcação de preço de até 200%", anunciou o ministro do Interior, Néstor Reverol, e a Sundde informou de pelo menos outros cinco responsáveis por supermercados foram presos.
Em meio a uma grave escassez de medicamentos, a Sundde ordenou que uma das principais cadeias farmacêuticas do país congelasse seus preços.
"Proíbe você ajustar seus preços depois de um enorme aumento salarial. A empresa sofrerá uma perda considerável de estoques. A reposição será feita a um preço muito mais alto do que o vendido", disse à AFP o economista Henkel García, diretor da empresa Econométrica.
O economista e o mototaxista concordam: "Se o governo coloca preços fixos, os produtos desaparecem", resumiu Manuel, ligando sua motocicleta.
Muitos venezuelanos, que passam horas em fila para comprar produtos escassos, como o pão, parecem resignados com o fato de as reformas não funcionarem.
"O que eles fizeram foi maquiar a crise, o poder aquisitivo continua o mesmo. Estamos em uma suposta paz que está prestes a explodir", disse Jonathan.
As ruas da Venezuela se adaptam lentamente às reformas econômicas que o presidente Nicolás Maduro colocou em vigor na segunda-feira.
As novas notas - com cinco zeros a menos em meio à hiperinflação - já podem ser retiradas em longas filas de caixas automáticos, e os pagamentos eletrônicos se normalizaram nesta quarta-feira.
Entretanto, muitos se complicam ao pagar ou receber bolívares com cinco zeros a menos.
"As pessoas não sabem com qual nota pagar o transporte, se com a nova ou a antiga. Não sabem que câmbio vai ser dado", afirmou à AFP José Bravo, um aposentado de 63 anos.
Complicando as transações, as novas notas conviverão com as da velha família, devorada pela inflação, porque só servem para pagar o transporte ou a gasolina mais barata do mundo.
"Se eu der uma nota de dois bolívares (200.000 das antigas notas) e a passagem custa 0,6 (60.000 bolívares de antes) Como você tem o troco? Às vezes eles dão com as notas antigas e as pessoas perdem dinheiro", disse à AFP Jonathan Campos, técnico em informática.
Manuel, um mototaxista em Caracas, ainda não foi pago com as novas notas, mas ri de como seus clientes se confundem quando fazem transferências de seus celulares.
"Uma corrida curta custa 20 bolívares (dois milhões das notas antigas), e as pessoas às vezes pensam que são 200 ou 2.000, mas eu sou bom, não me aproveito e explico", assegura o motorista.
- 'É uma loucura' -Muitos apoiam o aumento do salário mínimo em cerca de 3.400%, ficando em 30 dólares segundo a cotação oficial. Não obstante, todos temem que em poucos meses seja pulverizado pela hiperinflação, que segundo o FMI poderia superar 1.000.000% este ano.
"Esse aumento é uma loucura, é muito excessivo e o que vai trazer é desemprego, porque muitos empresários vão ter que demitir pessoas. E os que pagarem, vão ter que aumentar os preços", assinalou Manuel.
Jonathan considera que os aumentos salariais deveriam ser acompanhados por um aumento na produção, algo que descarta pela queda das exportações petroleiras (fonte de 96% das divisas do país).
A produção de petróleo na Venezuela está em queda: dos 3,2 milhões de barris diários que foram exportados em 2008, agora apenas 1,4 milhão são produzidos, segundo a estatal petroleira Pdvsa.
"Se não há bens, isso se traduz em inflação. Há mais dinheiro na rua e os preços sobem", explicou Jonathan, o técnico em informática.
- 'Maquiagem à crise' -Alguns, como José Bravo, defendem o aumento e pedem ao governo que congele os preços dos produtos básicos, em grave escassez.
Os ministros se reuniram nesta quarta-feira para definir "preços justos" de vários produtos. O governo socialista diz ser vítima de uma "guerra econômica" da direita que contempla o aumento dos preços para gerar descontentamento e derrubar o presidente.
"Os empresários querem destruir o país. O que Maduro tem que fazer é congelar os preços", considerou José.
A Procuradoria e a Superintendência de Defesa dos Direitos Socioeconômicos (Sundde) começaram a supervisionar estabelecimentos comerciais com 68 procuradores especialistas em crimes econômicos, para evitar aumentos.
O gerente e subgerente de um supermercado em Caracas foram detidos por uma "remarcação de preço de até 200%", anunciou o ministro do Interior, Néstor Reverol, e a Sundde informou de pelo menos outros cinco responsáveis por supermercados foram presos.
Em meio a uma grave escassez de medicamentos, a Sundde ordenou que uma das principais cadeias farmacêuticas do país congelasse seus preços.
"Proíbe você ajustar seus preços depois de um enorme aumento salarial. A empresa sofrerá uma perda considerável de estoques. A reposição será feita a um preço muito mais alto do que o vendido", disse à AFP o economista Henkel García, diretor da empresa Econométrica.
O economista e o mototaxista concordam: "Se o governo coloca preços fixos, os produtos desaparecem", resumiu Manuel, ligando sua motocicleta.
Muitos venezuelanos, que passam horas em fila para comprar produtos escassos, como o pão, parecem resignados com o fato de as reformas não funcionarem.
"O que eles fizeram foi maquiar a crise, o poder aquisitivo continua o mesmo. Estamos em uma suposta paz que está prestes a explodir", disse Jonathan.
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