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Equipes de Israel ajudam a intensificar as buscas por vítimas em Brumadinho

28/01/2019 10h04

Brumadinho, Brasil, 28 Jan 2019 (AFP) - As buscas por sobreviventes da tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, foram intensificadas em seu quarto dia nesta segunda-feira com o apoio de um contingente de especialistas israelenses que chegou à região o domingo.

Apesar de com o passar do tempo as possibilidades de achar sobreviventes tenham se reduzido, "ainda há alguma chance de encontrar pessoas vivas", afirmou à AFP o tenente-coronel da Defesa Civil, Flávio Godinho, que coordena os trabalhos.

A expectativa era dar continuidade aos trabalhos durante a noite, mas as condições do lugar obrigaram a paralisar as operações, que foram retomadas nesta madrugada às 4H00 da manhã. Até o momento, não foram confirmados resgates ou recuperação de corpos.

A ruptura da barreira da mineradora Vale na sexta-feira deixou até agora 58 mortes confirmadas, 305 desaparecidos e outras centenas de pessoas resgatadas.

Brumadinho amanheceu nesta segunda em relativa calma, contrastando com o clima de domingo, quando a Vale acionou uma sirene durante a madrugada alertando para o risco iminente de ruptura em outra barreira na mina Córrego do Feijão, epicentro da catástrofe.

Um contingente de 136 efetivos e 16 toneladas de equipamentos enviados por Israel chegou no estado na noite de domingo e imediatamente se somou aos trabalhos de buscas.

Um segundo ônibus foi localizado perto do que era a sede administrativa da Vale, a primeira a sofrer o impacto e ser destruída pela força do rio marrom que atravessou a região.

O barro tomou conta da localidade e os bombeiros trabalham em condições difíceis, tendo de realizar escavações em cerca de 15 metros de argila movediça em busca de sobreviventes ou corpos de vítimas.

"Considerando o tipo de tragédia e as proporções, existe a possibilidade de alguns corpos não serem recuperados", admitiu no domingo o tenente Pedro Aihara, porta-voz dos bombeiros.

As vias de acesso em alguns pontos permanecem bloqueadas e o apoio aéreo tem sido essencial para monitorar a região duramente atingida e desolada pela fúria do rio de lama que começa a secar e solidificar.

- Incertezas -No domingo, centenas de pessoas voltaram para suas casas em Brumadinho depois que as autoridades confirmaram que não havia mais risco de uma nova ruptura no complexo de mineração.

No entanto, muitos optaram por ficar nos abrigos. "As pessoas estão com medo de que a sirene soe novamente, volte para suas casas e não saibam o que fazer se ocorrer outra catástrofe", explica o médico Maicon Nunes.

Enquanto isso, o desespero continua. Dezenas de pessoas desconhecem o paradeiro de familiares e amigos, e apenas um terço dos corpos foi reconhecido até agora. Pessoas que conseguiram sobreviver ao pesadelo da maré de barro ainda não se recuperaram do trauma.

"Correremos para o alto e vimos tudo indo embora. Perdemos tudo", relatou Lauriane Oliveira da Souza. "Me ajoelhei, comecei a chorar e agradeci porque minha família está viva", acrescentou.

O presidente Jair Bolsonaro, que sobrevoou a zona no sábado, se comprometeu a "investigar os fatos, reclamar justiça e prevenir novas tragédias como as de Mariana e Brumadinho".

- Vale impactada -A Vale informou nesta madrugada que suspendeu o pagamento de dividendos a seus acionistas depois do desastre.

A decisão acontece poucas horas depois da abertura da Bolsa de São Paulo, onde os papéis da mineradora têm um peso de 11,39%. Na sexta-feira, feriado na capital paulista, as ações da Vale caíram 8,08%.

A justiça ordenou o bloqueio cautelar de 11 bilhões de reais da Vale para ressarcir as vítimas e cobrir os danos ambientais desta nova tragédia, e a mineradora também recebeu três multas milionárias por parte das três esferas do governo.

"A Vale foi inconsequente e incompetente, acabou com nossa cidade. Esperávamos que a Vale aprendesse a lição com o que aconteceu em Mariana", declarou o prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo.

A barragem não era usada há três anos e era verificada regularmente, de acordo com a empresa.

A tragédia provocou críticas de organizações ambientais, líderes políticos e especialistas em gestão de risco.

"Esse é um governo que não indica que vai agir com maior controle sobre a questão ambiental (...) vai considerar que as corporações a priori operam com responsabilidade e o que estamos vendo é o contrário", disse Luiz Jardim Wanderley, especialista em mineração da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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