IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Lua de mel entre Bolsonaro e mercados tem fim abrupto

O presidente Jair Bolsonaro durante café da manhã com jornalistas - Marcos Corrêa/Presidência da República
O presidente Jair Bolsonaro durante café da manhã com jornalistas Imagem: Marcos Corrêa/Presidência da República

08/03/2019 17h39Atualizada em 08/03/2019 20h10

Rio de Janeiro, 8 Mar 2019 (AFP) - A euforia dos mercados pela chegada de Jair Bolsonaro ao poder diminuiu diante das dificuldades na reforma da Previdência, dos fracos dados econômicos e da caótica gestão política dos dois primeiros meses do governo, indicam analistas.

A principal crítica dos investidores a Bolsonaro é por não ter assumido uma clara defesa da reforma da Previdência --proposta pelo liberal ministro da Economia, Paulo Guedes.

Mas os ruídos gerados pelas intempestivas intervenções de Bolsonaro nas redes sociais criaram uma preocupação adicional, como o vídeo obsceno postado na terça-feira (12) no Twitter e a declaração de que "democracia e liberdade, só existe quando a (...) Forças Armadas assim o quer" (sic).

"Mais uma declaração, mais uma remediação e assim vai o pós-feriado do governo Bolsonaro. A preocupação dos investidores é de que este tipo de ruído 'Trumpeiro' [em referência ao presidente dos EUA, Donald Trump] possa ser um padrão e não uma exceção, o que é tanto ruim para os negócios, quanto para as reformas", escreveu nesta sexta-feira (8) a consultoria Infinity Assess em nota de conjuntura.

"A gente já esperava uma turbulência muito grande no processo da reforma da Previdência. Nesse sentido, não houve surpresa. O que está surpreendendo é essa instabilidade do presidente. A gente imaginava que ia ter mais crença na reforma", disse à AFP Sergio Vale, da consultoria MB Associados.

Desde que Bolsonaro assumiu, a Bovespa bateu vários recordes históricos e chegou perto de ultrapassar os 100 mil pontos (98.588 em 4 de fevereiro). Nesta sexta, abriu em baixa, mas fechou em alta, superando os 95 mil pontos. A alta do índice Ibovespa em 2019 que chegou a ser de mais de 12% atualmente é de 8,5%.

E o dólar, que desde o início do governo tinha caído de R$ 3,809 a R$ 3,658 voltou a ser cotado a R$ 3,88 nesta semana. Nesta sexta, fechou a R$ 3,87.

Economia pouco dinâmica

"O arrefecimento do otimismo dos investidores com o Brasil --o que é diferente de dizer com o governo de Jair Bolsonaro propriamente dito-- justificou-se, entre outros fatores, pela divulgação de indicadores de conjuntura mais fracos que o esperado (índices de confiança, vendas no varejo, produção industrial, etc)", afirmou Nicolás Takeo, da corretora Socopa, em entrevista à AFP.

Takeo considera "difícil avaliar se os investidores deram demasiado crédito político ao governo de Bolsonaro", mas aponta que Guedes, ao optar por uma reforma mais abrangente, "gerou divergências, com alguns agentes (...) acreditando que seria muito difícil aprová-la no Congresso".

Sergio Vale prevê que a reforma começará a ser votada, no melhor dos casos, no fim de julho. Por seu caráter constitucional, ela requer maioria qualificada de três quintos tanto na Câmara dos Deputados como no Senado. "Teremos um primeiro semestre com muita turbulência no mercado", estima.

Enquanto isso, as projeções de crescimento continuam caindo, após um decepcionante 2018, com um aumento do PIB de 1,1%, igual ao de 2017.

As expectativas do mercado para 2019 caíram de 2,57% no início de fevereiro para 2,3%, de acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central.

A OCDE prevê um crescimento de 1,9%, dois décimos a menos que em novembro passado, em um contexto de desaceleração global.