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UE vislumbra plano de recuperação após quatro dias de tensão

20/07/2020 18h37

Bruxelas, 20 Jul 2020 (AFP) - O chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, considerou nesta segunda-feira (20) ser "possível" um acordo para enfrentar a crise do coronavírus, antes de apresentar uma nova proposta que mantém o valor do fundo de recuperação e busca amenizar a resistência dos países "frugais".

"Os últimos passos são sempre os mais difíceis, mas, embora sejam difíceis ..., estou convencido de que um acordo é possível", disse Michel, sem especificar os detalhes de seu novo plano de consenso.

Segundo o documento, consultado pela AFP, o fundo de recuperação da União Europeia (UE) permaneceria nos 750 bilhões de euros (840 bilhões de dólares) propostos, mas com um novo balanço entre empréstimos e subvenções.

A Comissão Europeia tomará empréstimos dos mercados o montante do fundo, destinado principalmente aos países mais afetados pela pandemia, mas os 27 reembolsariam coletivamente os subsídios, que passam de meio bilhão a 390 bilhões.

Esse valor, abaixo do mínimo de 400 bilhões exigido por países como a França, mas acima do máximo de 350 bilhões exigido pela Holanda, Áustria, Suécia, Dinamarca e Finlândia, procura se aproximar do consenso necessário.

Depois de aceitarem com resistência o princípio de emitir dívida comum através de Bruxelas, esses países, adeptos do rigor fiscal e apelidados de "frugais", juntamente com a Finlândia, se apresentaram como os mais relutantes ao plano nos últimos quatro dias de negociações.

"Foram muitos [dias de negociação] porque, de fato, é um passo muito importante que a UE é chamada a dar para dar uma grande resposta" à crise, justificou o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez.

Prova da difícil negociação, Michel reuniu pela primeira vez os 27 por volta das 21h30 (16h30 de Brasília) em um jantar de trabalho depois de mais um dia de negociações em grupos pequenos, que transformaram a cúpula na mais longa da história da UE desde a de Nice em dezembro de 2000.

- Para além do montante -"Enquanto o valor do fundo de recuperação não for claramente definido, não poderemos avançar", disse uma fonte europeia, explicando que Michel aumentou no domingo a pressão sobre os "frugais", que "andavam em círculos há três dias".

Em uma tentativa de acalmar as nações ricas, o chefe do Conselho aumentou a redução de suas contribuições anuais ao orçamento comum da UE para o período 2021-2027, com negociações em andamento. Haia economizaria quase dois bilhões de euros por ano, por exemplo.

O debate também incluiu o Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, o primeiro orçamento comum sem o Reino Unido.

Michel manteve sua proposta do montante de 1,074 trilhão de euros.

Segundo um diplomata europeu, se o acordo sobre o montante puder ser confirmado, as negociações deverão se concentrar em outros aspectos, como clima, energias limpas e Estado de Direito. Este último ponto enfrenta relutância no leste.

Polônia e Hungria, bem como, em menor grau, Eslovênia, exigem que a concessão de fundos europeus não esteja vinculada ao respeito do Estado de direito. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, alertou que essa negociação levará "tempo".

"Para que a Polônia aceite um compromisso", não deve haver "poder discricionário para as instituições da UE sobre o estado de direito", disse o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki a jornalistas nesta segunda-feira.

A cúpula é realizada sob pressão. Devido à pandemia, a economia mundial poderá contrair 4,9% em 2020, uma queda que sobe para 10,2% na zona do euro, e 9,4%, na América Latina e no Caribe, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

bur-tjc/mb/lb/jc