EUA e outros países fazem inédita ofensiva para derrubar preços do petróleo
Em uma aliança inédita, os Estados Unidos e outros países, dentre eles a China, recorrerão a suas reservas estratégicas de petróleo para tentar provocar uma queda nos preços desta commodity, anunciou a Casa Branca nesta terça-feira (23).
Usar as reservas estratégicas do petróleo é uma iniciativa "maior" que "fará uma diferença" nos preços da gasolina, que dispararam nos Estados Unidos, garantiu nesta terça-feira o presidente Joe Biden em discurso na Casa Branca.
"Isso levará tempo, mas em breve devemos ver o preço da gasolina baixar", afirmou o presidente.
Biden ordenou a liberação de 50 milhões de barris de petróleo das reservas estratégicas dos Estados Unidos.
"Esta decisão será tomada em paralelo com outras nações que têm um consumo importante de energia, como China, Índia, Japão, República da Coreia e Reino Unido", disse a Casa Branca.
A decisão surge em um momento em que os preços nos postos de gasolina continuam subindo nos Estados Unidos. Este quadro representa um grande problema político para Biden, especialmente na véspera do Dia de Ação de Graças, feriado em que os americanos se deslocam para se reunir com seus familiares.
Apresentada como inédita pelos americanos, a iniciativa conjunta busca fazer os preços caírem de forma mecânica diante do aumento da oferta.
O petróleo bruto aumentou em meio à reativação econômica na esteira da suspensão das restrições pela pandemia da covid-19.
Paradoxalmente, após o anúncio, os preços do petróleo aumentaram acentuadamente nesta terça-feira.
O Brent do Mar do Norte para entrega em janeiro subiu 3,27%, para US$ 82,31 em Londres. Enquanto isso, em Nova York, o barril de WTI no mesmo mês subiu 2,22%, para US$ 78,50.
"Os preços do petróleo estavam em queda há mais de duas semanas devido à especulação sobre as reservas estratégicas", informou Mark Finley, do Baker Institute, explicando que os preços já incorporavam um anúncio de uso de reservas estratégicas.
A queda ficou próxima a 10% nos últimos dias, diante dos rumores dessa operação coordenada.
Nos três meses anteriores, entre 19 de agosto e 22 de novembro, o WTI havia aumentado 20,5%.
Os preços também foram sustentados "pelo fato de não estar claro quanto petróleo realmente chegará ao mercado, ou com quanto os outros países contribuirão", acrescentou Finley.
Para chegar a um acordo, Washington e Pequim puseram sua rivalidade de lado, já que a China também é um dos maiores consumidores de petróleo do mundo.
Cartel de consumidores
As tentativas dos Estados Unidos de pressionar os países produtores, especialmente a Arábia Saudita, para que aumentem sua oferta, até agora não funcionaram.
Louise Dickson, analista da Rystad Energy, explica que "esta ação histórica e pouco ortodoxa é claramente uma mensagem que diz à OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) que ela não é o único ator no mercado de petróleo".
"Esse esforço coordenado forma uma aliança informal do lado dos países consumidores", em resposta ao cartel dos países produtores, afirma.
O presidente dos Estados Unidos também tem na mira as grandes empresas do setor, acusadas de transferirem para os postos de gasolina apenas a alta dos preços, enquanto registram lucros gigantescos.
Há alguns dias, a Casa Branca pediu à autoridade de concorrência que se pronuncie "imediatamente" sobre o comportamento "eventualmente ilegal" das companhias petroleiras, e não descarta ações judiciais.
As reservas americanas são o maior estoque de emergência do mundo.
Segundo um funcionário de alto escalão do governo americano, a liberação começará entre meados e final de dezembro. É possível que novas intervenções para estabilizar o mercado sejam feitas.
O preço médio de um galão de gasolina (3,78 litros) subiu de US$ 2,12 para US$ 3,41 em um ano, de acordo com a Associação Americana de Automobilistas (AAA).
O galão a US$ 4 é problemático para os consumidores, segundo especialistas.
"O objetivo do governo é encontrar um equilíbrio e, claramente, um barril a 80 dólares é considerado caro demais pelos Estados Unidos", resumiu James Williams, da WTRG Economics.
Os 50 milhões de barris que os Estados Unidos vão liberar representam uma fração do consumo anual do país, considerando que a demanda é de 19,5 milhões de barris diários: são "três dias de demanda das refinarias", explicou Andy Lipow, da Lipow Oil Associates.
As reservas dos EUA estão armazenadas em locações subterrâneas nos estados de Louisiana e do Texas, com 714 milhões de barris, de acordo com o Departamento de Energia. Foram usadas, por exemplo, quando grandes furacões afetam o Golfo do México, crucial para a produção de petróleo, ou em resposta a crises internacionais.
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