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Ação dos EUA não deve derrubar preço da gasolina, muito menos no Brasil
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O presidente americano Joe Biden anunciou nesta terça-feira (23) um acordo inédito para elevar a oferta de petróleo no mercado global, em conjunto com outros países, entre eles a China. Os Estados Unidos vão retirar 50 milhões de barris de suas reservas estratégicas para aumentar a oferta de petróleo no mercado americano.
Não se sabe ainda o volume de óleo que os chineses vão tornar disponível, mas, mesmo sem essa informação, especialistas avaliam que os impactos diretos sobre o preço dos combustíveis nas bombas não serão significativos.
Outros participantes do acordo - Índia, Coreia, Japão e Reino Unido - não tornariam disponíveis muito mais do que 15 milhões de barris. O total não chega a fazer cócegas num mercado em que oferta e demanda se aproximam de 100 milhões de barris/dia.
Para o Brasil, onde valores finais nas bombas seguem as cotações internacionais, convertidos pela taxa de câmbio do dólar ante o real, o efeito direto tende a ser ainda menos expressivo. Uma eventual redução nas cotações internacionais em razão do movimento coordenado por EUA e China sobre os produtores tende a ser compensada pela atual pressão altista sobre a taxa de câmbio.
Trata-se, resumindo, de uma ação mais política do que efetivamente de contenção de preços. No caso dos Estados Unidos, é ação política para dois públicos-alvo.
É, de um lado, uma ação destinada a sinalizar para a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o cartel de produtores que domina a oferta, a necessidade de elevar a produção e evitar desequilíbrios no mercado. Apelos anteriores de Biden nesse sentido não foram atendidos pelo cartel.
Objetiva também, de outro lado, dar satisfações ao público interno americano e mostrar que o governo não está indiferente à alta dos preços nas bombas de combustíveis. Não deixa de chamar a atenção que o anúncio tenha sido feito às vésperas do feriado de Ação de Graças, quando pelo menos 50 milhões de americanos viajam de automóvel para comemorar a data com familiares.
A pandemia produziu fortes instabilidades no mercado internacional de óleo e gás. Em março de 2020, as cotações desceram a US$ 35 por barril e chegaram a um impensável valor negativo no mês seguinte, diante do colapso global da atividade econômica.
Com a recuperação dos negócios em 2021, combinada com a redução da oferta - só nos Estados Unidos, a redução da produção entre 2020 e 2021 chegou a 70% - os preços escalaram e já subiram mais de 60% em dólares. Tanto o barril do tipo Brent quando o do WTI estão sendo vendidos acima de US$ 80. Em fins de 2019, pouco antes da pandemia, o preço médio, num mercado estável, rondava as vizinhanças de US$ 60.
A tendência de curto prazo, tudo considerado, é de alguma queda nas cotações internacionais. Enquanto temores de nova onda de covid-19, principalmente na Europa, indicam possível redução temporária no consumo, a OPEP caminha para confirmar o aumento da produção em 400 mil barris/dia, em dezembro. Sem falar na provável retomada de pelo menos parte da produção ainda ociosa, a começar dos Estados Unidos.
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