José Paulo Kupfer

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Opinião

Pressão de preços nos EUA atropela alívio da inflação bem comportada aqui

Depois do salto de fevereiro, a inflação de março, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), foi lá para baixo, fechando com alta de 0,16%, bem menos do que a variação de 0,25% prevista pelos analistas, conforme divulgou o IBGE, nesta quarta-feira (10). No ano, o IPCA avançou 1,42%, mas recuou no acumulado em 12 meses de 4,5% para 3,93%.

São esperados repiques moderados da inflação em abril e maio, na faixa entre 0,3% e 0,4%. Mas, caso se confirmem as projeções do economista Fábio Romão, experiente especialista em acompanhamento de preços na LCA Consultores, a marcha inflacionária deverá seguir sem sobressaltos até o fim do ano.

Núcleos e dispersão em baixa

Nas projeções de Romão, revisadas depois dos números de março, as variações mensais do IPCA ficarão abaixo de 0,2% de junho a setembro, e entre 0,3% e 0,5% ao mês, no último trimestre do ano. Com isso, a inflação terminará 2024 com alta entre 3,5% e 3,7%, dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas, pelo segundo ano consecutivo.

O bom comportamento dos preços, em março, foi confirmado pelo expressivo recuo da média dos núcleos de inflação — que medem as variações mais estruturais dos preços —, que caiu para 0,15%, depois de alcançar 0,5%, em fevereiro, recuando para alta de 3,8%, no acumulado em 12 meses. O mesmo se pode dizer do índice de dispersão — que contabiliza o percentual de bens e serviços, entre os quase 400 que compõem o IPCA —, que ficou em 55,7%, no mês passado, ante média histórica superior a 62%.

O efeito do esperado bom comportamento dos preços na trajetória da taxa básica de juros (taxa Selic) e nas cotações do dólar, contudo, tende a ser menos intenso do que os níveis moderados de inflação poderiam fazer supor. A inflação, no Brasil, sofre impactos da alta de preços nos Estados Unidos, e de seus reflexos na taxas de de juros de referência, no mercado americano, definidas pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano).

Também divulgada nesta terça-feira, a inflação ao consumidor, nos Estados Unidos, veio acima do estimado, com alta de 0,4%. Para a grande maioria dos analistas, o resultado inviabiliza um movimento de redução dos juros de referência pelo menos até setembro.

Pressões no dólar vêm dos EUA

Essa perspectiva de manutenção dos juros em nível relativamente alto, nos Estados Unidos, levou o dólar a se valorizar contra quase todas as moedas do mundo. No mercado brasileiro, mesmo com boas notícias na inflação, a cotação da moeda americana subiu forte, tendo chegado a R$ 5,09 durante o pregão, com alta de quase 1,5%, fechando a R$ 5,07.

Também refletindo a perspectiva de que juros americanos mais altos atraiam capitais externos aplicados na Bolsa brasileira, o Ibovespa recuou, na sessão desta terça-feira. Chegou a descer a menos de 128 mil pontos, com queda também de quase 1,5%.

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Altas nas cotações do dólar são fonte de pressão sobre a inflação, assim como preocupa a evolução dos preços dos serviços, num ambiente de aquecimento do mercado de trabalho e massa salarial em elevação. De fato, as previsões são de que os preços dos serviços adjacentes — aqueles menos voláteis — chegariam ao fim de 2024 com alta de 5,3%, puxando a variação do IPCA como um todo para cima.

Alimentos sobem, mas abaixo da média

Já a variação de preços no subgrupo dos alimentos em domicílio, item politicamente sensível do IPCA, mostra tendência a pressionar menos o índice geral, em 2024. A despeito da possibilidade de uma nova alta em abril sobre março, as previsões de Fábio Romão, considerando o conjunto do ano, sinalizam avanço de 3,8%, na alimentação em domicílio, a mesma do IPCA cheio.

É uma taxa alta quanto comparada ao recuo de 0,5% registrado em 2023. Mas, como lembra Romão, representa praticamente a metade da média de alta do subgrupo, nos últimos dez anos, que foi de 7,6% ao ano.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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