BC e mercado dão razão a Lula, com revisão para cima de alta do PIB em 2024
A economia brasileira deve crescer em 2024 mais do que se previa antes do início do ano. Uma série de pesquisas e estudos, divulgados nesta última semana de março, não deixa dúvida de que o primeiro trimestre do ano foi positivo para a atividade econômica, deixando indicações de expansão mais robusta para o conjunto do ano.
Essa conclusão se apoia no RTI (Relatório Trimestral de Inflação), documento produzido pelo Banco Central, a cada três meses, com análise detalhada do comportamento da economia, com as devidas projeções para o futuro, divulgado nesta quinta-feira (28).
Também grupos de conjuntura no meio acadêmico, departamentos de economia de bancos e consultorias econômicas divulgaram revisões de seus cenários econômicos, com projeções para a variação do PIB (Produto Interno Bruto) acima das anteriores.
Mais revisões para cima
Partindo de um crescimento de 1,5% em 2024, nas previsões anteriores, as novas projeções avançaram agora para expansão econômica entre 1,8% e 2%. A do Banco Central, por exemplo, subiu de 1,7% para 1,9%.
Se as novas projeções se confirmarem, o crescimento da economia, nos dois primeiros anos do terceiro mandato de Lula chegará perto de 5%, com média anual de 2,5%. É mais do que o crescimento médio anual, nos governos de Temer e de Bolsonaro, que ficou em 1,5%. Também supera a média anual de 2,3%, no primeiro governo Dilma (no seu breve segundo mandato, a média foi um recuo de 3,5%) e da média dos 20 anos, entre 2002 a 2020, que ficou em 2,2%.
A julgar pelas explicações oferecidas para justificar as revisões para números mais fortes, a tendência é de que ocorram novas correções para cima. No Boletim Focus, por enquanto, a mediana das projeções aponta alta de 1,85% em 2024, um ponto percentual acima da previsão de quatro semanas atrás. Para o Ministério da Fazenda, em sua mais recente projeção, divulgada agora em março, o PIB vai crescer 2,2% neste ano.
Razões para a alta
Há convergência nas justificativas para as novas — e mais otimistas — previsões. Em primeiro lugar, o mercado de trabalho aquecido e resistente, com ampliação na absorção de mão de obra e manutenção em alta dos rendimentos, deve impulsionar o consumo das famílias. Esse impulso seria reforçado por avanços nas concessões de crédito, diante de um quadro de condições financeiras menos restritivo.
Os números do mercado de trabalho, tanto no setor formal quanto no informal, nos primeiros dois meses de 2024, também divulgados nesta semana, corroboram as justificativas.
No Caged, que informa o total de admitidos e demitidos — e o respectivo saldo —, em dado período, no segmento com carteira assinada, o saldo subiu para a criação de mais de 300 mil vagas, em fevereiro, muito acima das previsões de novos 230 mil postos de trabalho. É um aumento forte, de 21% sobre o resultado de fevereiro de 2023, e o terceiro melhor para fevereiro da série histórica, só perdendo para o saldo de criação de vagas em 2021 e 2022, na época da saída da pandemia, no governo Bolsonaro.
Mercado de trabalho aquecido
Quando se toma o acumulado dos dois primeiros meses de 2024, foram criadas 475 mil vagas de emprego formal, um volume que levou a uma ampliação da projeção para a absorção de mão de obra no conjunto do ano, no mercado de trabalho formal, de 1,2 milhão para 1,5 milhão, repetição do registrado em 2023.
Chamou a atenção o número de demissões a pedido, que chegaram a quase 700 mil, em fevereiro, mais de um terço do total de demissões. É sinal de que o mercado de trabalho se mantém aquecido.
Esse aquecimento seria aparentemente contraditório com a alta na taxa de desemprego, no mercado de trabalho como um todo — formal e informal —, conforme os dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgados pelo IBGE também nesta quinta-feira (28). No trimestre encerrado em fevereiro de 2024, o total de trabalhadores desocupados subiu a 8,5 milhões, 300 mil a mais do que no trimestre encerrado em novembro de 2023, com a taxa de desemprego avançando de 7,5% da força de trabalho para 7,8%.
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Quero receberNa realidade, o aumento do desemprego, neste momento, reflete não só uma situação típica do período de início de ano, como também indica, por contraditório que possa parecer, uma maior movimentação na atividade econômica. Primeiro, é nesta época do ano que são dispensados os contratados como temporários para reforço da atividade com vistas a atender o aumento da demanda no fim do ano.
Além disso, e mais importante, com perspectivas melhores de emprego, contingente de trabalhadores desalentados, que anteriormente haviam desistido de procurar ocupação, voltam ao mercado em busca de colocação. Trabalhadores que não buscam emprego não são, obviamente, computados como desempregados, mas entrarão nas estatísticas como tal se procuram emprego e ainda não conseguem admissão. O fenômeno foi observado nesta mais recente apuração da PNAD.
O fato é que o número de trabalhadores na população ocupada permaneceu estável em fevereiro, e a renda real habitual seguiu em alta, em R$ 3.110, ficando 1,1% acima do valor de novembro de 2023 e quase 4,5% mais do que fevereiro de 2023.
São esses indicadores favoráveis de emprego e renda que levam os analistas a projetar aumento no consumo das famílias em 2024, com efeitos positivos e mais diretos nos serviços e no comércio varejista. Previsões, inclusive a do Banco Central, registrada no RTI de março, são de que o consumo da família cresça em torno de 2,5% no ano.
Programas sociais impulsionam o PIB
Na origem desse avanço é possível localizar os programas sociais e a política de aumentos reais do salário mínimo, empreendidas pelo governo Lula. Segundo cálculos de economistas do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas), os gastos públicos registraram alta real de 12,5%, nos 12 meses acumulados até janeiro.
Os principais riscos nessa trajetória favorável vislumbrada para a economia em 2024 advêm de possíveis pressões inflacionárias, na esteira do aumento da demanda por bens e serviços, propiciado pela injeção de recursos públicos na economia. Essas pressões poderiam levar o Banco Central a apertar sua política de juros, encarecendo e dificultando o acesso ao crédito.
Não só o consumo, neste caso, seria negativamente afetado, como também os investimentos, outro fator de expansão ou retração da economia. Há expectativas de que o investimento, que se encontra em níveis historicamente muito baixos, apresente alguma recuperação em 2024, dependendo das perspectivas para a economia e das condições financeiras para financiamentos, mas não o suficiente para reverter a baixa taxa de investimento dos últimos muitos anos.
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