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A complexa operação para retirar os cereais da Ucrânia

20/07/2022 09h54

Paris, 20 Jul 2022 (AFP) - As negociações para abrir corredores marítimos e retirar 20 milhões de toneladas de grãos da Ucrânia estão avançando, embora um acordo só representará um alívio parcial para os países importadores.

Negociações cruciaisAs negociações começaram no início de junho entre Rússia e Ucrânia, mediadas pela Turquia.

Os dois países em conflito respondem por 30% do comércio mundial de trigo.

Essas negociações são cruciais porque nenhum outro país produtor conseguiu até agora aliviar o colapso das exportações ucranianas (25 milhões de toneladas inicialmente), em um mercado já severamente afetado pela alta dos preços das commodities antes da eclosão do conflito.

O preço do trigo e do milho disparou após a invasão russa em 24 de fevereiro, e países como Egito, Líbano e Tunísia sofrem particularmente com a falta desses cereais.

Os preços começaram a cair nas últimas semanas graças a uma nova safra e esperanças em torno das negociações para o corredor marítimo.

A Turquia afirmou na segunda-feira que "um acordo de princípio" foi alcançado entre os dois lados, embora "nem todas as questões" tenham sido resolvidas.

O papel da Turquia"Existem apenas alguns países, incluindo Turquia e Catar, capazes de conversar com quase todo o mundo e evitar mais infortúnios", disse à AFP Colin Clarke, especialista do centro de análise Soufan, nos Estados Unidos.

O presidente turco Recep Tayyip "Erdogan mostrou que pode fazê-lo e é por isso que ele é um intermediário confiável não apenas para a Rússia, mas também, embora com relutância, para os países da Otan", explicou Clarke.

Essa crise oferece novas cartas ao governo de Ancara.

Erdogan "pode alegar que está trabalhando para resolver a crise alimentar mundial, embora o mundo inteiro saiba que a Turquia bloqueia as negociações em outros campos", comentou.

Os termos do acordoDas exportações de trigo, milho e girassol da Ucrânia, 90% foi realizado por via marítima, essencialmente através do porto de Odessa, que representa 60% da atividade portuária do país.

Um acordo entre os russos e os ucranianos deve, em primeiro lugar, garantir a desminagem dos portos, realizada "pelos ucranianos ou pela ONU", depois o embarque de grãos, "que poderia ser feito sob a proteção da ONU" e, finalmente, "a inspeção da carga" e a escolta dos navios, que a Rússia exige, para impedir a entrada de armas, segundo Edward de Saint-Denis, corretor da empresa francesa Plantureux.

Esse controle poderia ser realizado em águas ucranianas ou internacionais? E que navios estariam autorizados a carregar os grãos, e com que bagagem? "Os russos não querem os ucranianos e vice-versa", explica este especialista em commodities.

A Turquia propôs sua frota, mas eventualmente o compromisso pode vir por meio de navios de bandeira de conveniência, de acordo com um observador do mercado.

As consequências "Um acordo vai baixar os preços no curto prazo, mas em termos de fluxos não vai mudar muito", explica Edward de Saint-Denis.

"Tem que contar entre um e dois meses para a desminagem" e depois "tem que recondicionar as áreas de desembarque", em particular a área administrativa do porto de Odessa, destruída pelo bombardeio, acrescenta.

"Todos estão interessados em ver a retomada do tráfego no Mar Negro, tanto os ucranianos quanto os russos, que terão uma safra excepcional para exportar", diz o analista de mercado agrícola Gautier Le Molgat.

sb/ico/jz/zm