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Coronavírus nos EUA: 3 mudanças drásticas causadas pela pandemia no país que chegou a 100 mil mortos

Na quarta-feira, Estados Unidos ultrapassaram a barreira de 100 mil mortes pelo novo coronavírus - Getty Images
Na quarta-feira, Estados Unidos ultrapassaram a barreira de 100 mil mortes pelo novo coronavírus Imagem: Getty Images

28/05/2020 17h36

Quando o novo coronavírus se expandia em silêncio nos Estados Unidos no início do ano, o crescimento econômico do país e o baixo índice de desemprego eram figuras-chave da campanha de reeleição do presidente Donald Trump. Na época, ele havia firmado um acordo que encerrava a guerra comercial com a China, algo aguardado há tempos.

Mas aquele panorama de meses atrás mudou de forma radical em razão da pandemia da covid-19 e do efeito devastador que ela causou nos Estados Unidos.

Na quarta-feira (27/05), o país ultrapassou a marca de 100 mil mortos pelo vírus, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

É uma marca que nenhum outro país registrou em decorrência do novo coronavírus até o momento. O dado é superior a outros episódios trágicos que marcaram a política nacional e internacional dos Estados Unidos na história recente.

O número de óbitos por covid-19 no país é superior até mesmo à soma de mortos em todas as tragédias recentes dos Estados Unidos: as guerras do Vietnã e da Coreia, os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e em Washington, e o furacão Katrina, em 2005.

O Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus, e as medidas para enfrentá-lo estão alterando, ao menos temporariamente, o ritmo de grandes cidades dos EUA. Em Nova York, o epicentro das infecções no país, restaurantes, bares, teatros, cinemas e outros comércios que não são essenciais seguem fechados.

Assim como a pandemia alterou hábitos e costumes sociais, também transformou o cenário econômico, eleitoral e de relações exteriores da nação mais rica e poderosa do planeta.

Abaixo, listamos três dessas mudanças mais drásticas dos últimos meses:

1. Colapso econômico e aumento do desemprego

O coronavírus forçou um giro de 180 graus na economia americana, em espacial nos empregos.

Até os dois primeiros meses de 2020, os Estados Unidos passavam por seu melhor ciclo de expansão econômica dos últimos anos. Em fevereiro, a taxa de desemprego no país estava em um de seus níveis mais baixos das últimas décadas: 3,5%.

Então, surgiu a pandemia do novo coronavírus. Os americanos tiveram de ficar em suas casas para reduzir a propagação do vírus e a economia do país encolheu 4,8% no primeiro trimestre do ano.

Para diversos economistas, o segundo trimestre de 2020 trará uma queda de, aproximadamente, 30% no PIB. É a pior marca desde a Grande Depressão, após o crash da bolsa em 1929.

A taxa de desemprego no país disparou para 14,7% em abril e, segundo especialistas, segue crescendo. Desde meados de março, mais de 40 milhões de pessoas recorreram ao seguro-desemprego, conforme dados oficiais.

"Este momento é único, em razão da parada repentina de todos os tipos de atividades econômicas. Em geral, as crises econômicas começam no sistema financeiro e se expandem a outras partes da economia. Desta vez, porém, todos os setores da economia sofreram, principalmente a área de serviços, que é uma grande parte da economia americana", diz Jonathan Levy, especialista em história econômica na Universidade de Chicago.

Levy acrescenta que, em comparação a outros países, os Estados Unidos têm a vantagem de que o dólar é a moeda mais buscada em momentos de crises.

Mas o especialista ressalta que a situação sanitária dos Estados Unidos é um fator que prejudica o país em relação a outras nações.

"Em muitos aspectos, talvez em todos, os Estados Unidos estão piores e isso tem um impacto terrível nas atividades econômicas gerais do país", diz Levy à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Agora que as atividades começam a ser reabertas, fica a pergunta: quanto tempo a economia americana demorará para se recuperar?

A resposta depende de fatores que ainda são incertos, como o tempo que o coronavírus seguirá presente, se haverá uma segunda onda de infecções, se a população será imunizada em razão do contágio ou por uma nova vacina e quanto o governo será eficaz em reduzir as crises sanitária e econômica.

Os assessores da Casa Branca admitem que é possível que a taxa de desemprego continue em dois dígitos até novembro.

2. Novo cenário eleitoral

Antes da crise do coronavírus, Trump parecia ter a sua campanha eleitoral bem encaminhada para as eleições de novembro, quando buscará a reeleição.

Na época, a situação econômica e os índices de emprego eram favoráveis para o presidente, e a isso se somava a absolvição de Trump no processo de impeachment que enfrentava no Senado por abuso de poder, no início de fevereiro.

Mas a covid-19 destruiu os índices econômicos que o presidente sempre ressaltava como uma das grandes conquistas de sua gestão.

Além disso, a pandemia também causou uma onda de críticas a Trump por sua resposta tardia e errada à crise sanitária, situação que havia sido apontada por especialistas do governo antes do início da pandemia.

Quando a covid-19 já se propagava pelos Estados Unidos, Trump previu, no final de fevereiro, que o vírus iria desaparecer como se fosse um "milagre".

Em 10 de abril, ele logo descartou que o país pudesse chegar ao trágico recorde que alcançou. "Parece que teremos um número (de mortes) substancialmente inferior a 100 mil", disse.

A postura adotada pelo presidente em meio à pandemia deu muita munição para a oposição democrata, que agora tem o ex-vice-presidente Joe Biden como principal pré-candidato. Atualmente, o adversário aparece à frente de Trump em algumas pesquisas eleitorais.

Assim, os Estados Unidos se encaminham para uma eleição muito diferente do que se imaginava até o início do ano.

"De alguma maneira, a pandemia mudou drasticamente a campanha, já que os candidatos não estão viajando pelo país, não estão organizando manifestações e é possível que nem possam celebrar as convenções de nomeação (que oficializam os candidatos)", afirma Alan Abramowitz, estudioso de política da Universidade Emory e autor de livros sobre eleições nos EUA e a ascensão de Trump.

O especialista acrescenta que, ao contrário do que aconteceu em muitos países durante a pandemia, o presidente não teve uma melhora sustentada em seus índices de aprovação nos EUA, que estão abaixo dos 50%, como antes da crise.

"(Trump) não está ganhando terreno. Ele não está expandindo sua coalizão e pode estar fazendo que parte dela acabe se afastando, principalmente os eleitores mais velhos", relata Abramowitz à BBC News Mundo. "Ele está um pouco mais fraco", declara o especialista.

Porém, o estudioso declara que ainda está longe para assegurar a vitória dos democratas.

"Continua sendo uma eleição acirrada e incerta. (Trump) tem tempo para se recuperar", diz.

3. Enfrentamento com a China

A pandemia também elevou a tensão entre os Estados Unidos e a China ao seu maior nível desde que os dois países normalizaram suas relações, quatro décadas atrás, apontam especialistas.

À medida em que cresceram as críticas pelo modo como conduziu a crise sanitária nos EUA, Trump acusou a China de falhar na contenção do início do coronavírus em seu território, onde foram registrados os primeiros casos de covid-19 no mundo, no fim de 2019.

Estrategistas do Partido Republicano de Trump estimam que isso pode favorecer as possibilidades de reeleição do presidente, pois pesquisas apontam que os americanos veem a China de forma cada vez mais negativa.

Mas também há indícios de que a tensão entre as maiores economias do mundo pode trazer graves riscos.

"O propósito dos EUA neste momento é usar essa crise para criar uma nova Guerra Fria intencionalmente", disse o economista estadunidense Jeffrey Sachs em uma recente entrevista à BBC News Mundo. "É uma situação perigosa e ridícula."

A China reagiu às declarações de Trump e acusou os Estados Unidos de promover "conspirações e mentiras" sobre o vírus.

Outro ponto de tensão recente entre os dois países foi a decisão do presidente chinês, Xi Jinping, de adotar uma lei de segurança nacional em Hong Kong, em meio à crise - a medida é duramente criticada, pois especialistas dizem que ela acabará com a autonomia da região, que foi cenário de diversas manifestações pró-democracia no ano passado.

Alguns especialistas acreditam que a pandemia acelerou a concorrência que os EUA e a China possuíam em áreas como comércio, tecnologia e capacidade militar.

De toda forma, o imbróglio atual entre as duas potências contrasta com os presságios de uma nova relação bilateral que havia sido firmada com a trégua na guerra comercial em janeiro, justamente quando o vírus começava a dar a volta pelo mundo.