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Com queda no preço do petróleo, Shell registra maior prejuízo em 16 anos

Vanessa Ruiz/UOL
Imagem: Vanessa Ruiz/UOL

Rakteem Katakey e Javier Blas

29/10/2015 12h25Atualizada em 29/10/2015 15h29

(Bloomberg) -- A Royal Dutch Shell, maior grupo do setor de energia da Europa, reportou seu prejuízo líquido mais elevado em pelo menos 16 anos, após abandonar alguns projetos e reduzir suas expectativas para o preço do petróleo, o que provocou uma perda de quase US$ 8 bilhões.

O prejuízo ressalta os problemas que as empresas de petróleo e gás estão enfrentando devido à queda nos preços, que as força a realizar o maior aperto de cinto em uma geração. O grupo petrolífero italiano Eni SpA também entrou em prejuízo no terceiro trimestre, e a BP  e a Total  registraram quedas nos lucros.

O declínio do preço do petróleo eliminou desde o final do ano passado quase US$ 500 bilhões em valor do Bloomberg World Oil Gas Index, que monitora ações de energia globalmente, inclusive da Shell, da ExxonMobil e da Chevron.

A Shell, que está adquirindo a BG Group no maior negócio do setor de energia deste ano, reportou um prejuízo líquido de US$ 7,42 bilhões no terceiro trimestre, contra um lucro de US$ 4,46 bilhões um ano antes.

Ajustado pelos itens sazonais e pelas mudanças nos estoques, o lucro caiu 70%, para US$ 1,77 bilhão, disse a Shell, que tem sede em Haia, nesta quinta-feira (29), em um comunicado. O resultado ficou abaixo da estimativa média de US$ 2,92 bilhões de 17 analistas consultados pela agência de notícias Bloomberg.

A Shell teve um prejuízo de US$ 4,61 bilhões decorrente do cancelamento das perfurações offshore no Alasca e dos projetos de areias betuminosas no Canadá e uma perda de US$ 3,69 bilhões desencadeada pelos cortes em sua perspectiva para os preços do petróleo e do gás natural.

Transação da BG

O prejuízo aumenta a pressão sobre a maior produtora de petróleo da Europa, que cortou postos de trabalho e reduziu gastos neste ano, em um momento em que o CEO Ben Van Beurden prepara a empresa para enfrentar os preços baixos.

No mês passado, o valor de mercado da Shell atingiu o nível mais baixo nesta década em meio às preocupações de que a empresa poderia estar pagando um preço excessivo pela BG.

"Embora nosso fluxo de caixa e nosso desempenho operacional tenham sido fortes no trimestre, os números finais que estamos reportando hoje incluem prejuízos substanciais", disse Van Beurden, 57.

"Esses prejuízos refletem uma perspectiva de preços mais baixos para o petróleo e o gás e também as medidas firmes que estamos adotando para revisar e reduzir o conjunto de opções mais de longo prazo da Shell".

A Shell abandonou o projeto de areias betuminosas Carmon Creek, de 80 mil barris por dia, em Alberta, no Canadá, depois de já ter começado a construí-lo, um sinal das decisões dolorosas que a empresa está tomando.

Ela também desistiu em setembro da perfuração no Alasca depois que US$ 7 bilhões em investimentos foram destinados a um poço onde não foram encontrados hidrocarbonetos.

Fluxo de caixa

Apesar de a escala das baixas contábeis ter surpreendido o mercado, Oswald Clint, analista de petróleo da Sanford C. Bernstein, disse que os investidores deveriam se consolar com o progresso que a Shell tem feito para equilibrar seu fluxo de caixa com os investimentos.

A empresa conseguiu recuperar seu investimento de capital e seus dividendos com o dinheiro que ganhou com suas operações somado às vendas de ativos, uma meta que "todas as outras grandes empresas estão empurrando para 2017", disse ele.

A Shell, que está comprando a BG por mais de US$ 70 bilhões, disse em julho que o negócio ampliará o fluxo de caixa a um nível de US$ 67 por barril em 2016. Van Beurden insistiu, nesta quinta-feira, que o acordo beneficiará a Shell e gerará dividendos mais elevados.

A aquisição, que será concluída no início do ano que vem, dará à Shell ativos em águas profundas no Brasil, aumentará sua posição no mercado australiano de gás e expandirá seu acesso ao emergente setor de exportação de gás natural liquefeito dos EUA.

As ações B da Shell, as mais negociadas, estavam em baixa de 2,2%, a 1.703,5 pence, em Londres. As ações caíram 24% neste ano.