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Otimismo de Obama em discurso contrasta com ansiedade do eleitor

Mike Dorning e Margaret Talev

13/01/2016 15h54

(Bloomberg) -- O presidente Barack Obama não estará na eleição de novembro, mas seu discurso sobre o Estado da União teve todas as características de uma retórica cativante focada, em pleno ano eleitoral, em manter seu partido no poder.

Fiel ao estilo Obama, o discurso foi um chamado para que a esperança vença o medo. Ele usou argumentos contra a melancolia que domina a retórica da campanha republicana. Ele pediu unidade nacional contra os ataques do candidato favorito do Partido Republicano, Donald Trump, contra muçulmanos e imigrantes. Ele fez um apelo por justiça econômica, algo que levaria a eleição para um terreno favorável aos democratas.

Se soou familiar, é porque ecoou o tom otimista e a visão unificadora do discurso de 2004 na Convenção Nacional Democrata que colocou Obama no cenário nacional.

No entanto, também provocou uma forte lembrança, no momento em que ele se prepara para deixar o palco, de como a promessa feita na chegada de Obama, em 2008, não se cumpriu. Ele prometeu unidade na época. Em vez disso, conseguiu sete anos de amarga polarização partidária.

Obama admitiu, este "é um dos poucos arrependimentos da minha presidência -- que o rancor e a desconfiança entre os partidos piorou em vez de melhorar".

Marinheiros detidos

A detenção de 10 marinheiros americanos pelo Irã horas antes do discurso provocou uma nota inquietante e foi um lembrete da ansiedade popular em relação ao terrorismo e às ameaças externas pelas quais todos os candidatos presidenciais, incluindo os democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders, precisam navegar.

Obama não mencionou os marinheiros e os republicanos atacaram, dizendo que Obama enfraqueceu os EUA perante o mundo.

"O discurso desta noite foi menos Estado da União e mais estado de negação", disse Ted Cruz, senador pelo Texas, que, juntamente com Trump, lidera o lado republicano, no Twitter. "Precisamos de um presidente que derrote o terrorismo islâmico radical".

Existe uma razão para que os argumentos republicanos sejam escutados. Apesar de declarar que os EUA possuem "a economia mais forte e duradoura do mundo", Obama discursou para uma audiência preocupada com a estagnação dos salários da classe média e com o terrorismo. Sessenta e cinco por cento dos americanos dizem que o país caminha para a direção errada, segundo uma pesquisa CBS-New York Times realizada entre 7 e 10 de janeiro.

Gasolina a US$ 2

Contudo, o discurso de despedida de Obama ao país lhe deu a oportunidade de se vangloriar. A indústria automotiva "acaba de ter seu melhor ano na história", lembrou aos americanos. "A gasolina a menos de dois dólares o galão também não é nada mal".

Os EUA passaram da perda de 800.000 empregos por mês quando ele assumiu, após o colapso financeiro, aos maiores ganhos anuais consecutivos em 2014 e em 2015 desde os anos de expansão da década de 1990. O Standard Poor's 500 Index mais do que dobrou e a taxa de desemprego, de 5 por cento, está próxima do nível que muitos economistas consideram pleno emprego.

"Quem diz que a economia dos EUA está em declínio está tentando vender uma ficção", disse ele em uma das muitas referências focadas, embora indiretamente, na retórica da campanha presidencial republicana.

Desempenho econômico

A definição do desempenho econômico do governo é fundamental para as perspectivas de uma nomeação democrata que inevitavelmente será responsabilizada politicamente pelos mandatos de Obama. Embora Hillary Clinton insista que não está disputando um terceiro mandato de Obama, ela tuitou na noite desta terça-feira: "Os EUA são um país melhor por causa do governo do @POTUS. Tenho o orgulho de chamá-lo de amigo. Vamos construir sobre o progresso dele".

O discurso deu a Obama um momento único para promover uma narrativa democrática em grande parte ofuscada na cobertura da imprensa durante uma temporada política na qual a atenção se concentrou nas primárias republicanas, mais competitivas, e na retórica provocativa dos principais candidatos republicanos à presidência, principalmente Trump e Cruz.

Trump respondeu no Twitter com uma de suas frases de ataque favoritas, classificando o discurso de Obama como "realmente chato, lento, letárgico".