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Mercado de bonds lembra a Portugal que é difícil agradar a todos

João Lima

05/02/2016 17h12Atualizada em 08/02/2016 15h33

(Bloomberg) - O novo governo de Portugal está enfrentando um velho dilema da zona do euro: como apaziguar os eleitores, os reguladores do orçamento europeu e o mercado de bonds ao mesmo tempo.

O primeiro-ministro socialista António Costa está fazendo malabarismo com as demandas externas pela continuidade da disciplina fiscal e com as promessas em casa de aliviar os cortes de gastos. Como o ágio que Portugal paga para tomar empréstimos em comparação com o que a Alemanha paga subiu para o maior valor em 18 meses, Costa terá dificuldade para ignorar a pilha de dívida de 223 bilhões de euros (US$ 250 bilhões) do governo que ascende sobre um país que, de acordo com as três principais agências de classificação de risco, ainda não tem grau de investimento.

Embora o último governo tenha finalizado o programa de resgate de Portugal, o desafio para Costa, 54, é mostrar que ele pode continuar nos trilhos depois de ter chegado ao poder após semanas de impasse político. Talvez o país não tenha muito espaço de manobra porque a vizinha Espanha também está imersa em um impasse pós-eleitoral devido às metas orçamentárias.

"Portugal de fato necessitou um resgate internacional e agora há um novo governo de esquerda, então as instituições europeias vão querer se assegurar de que não haverá nenhum escorregão no futuro, nem a tentação de voltar aos hábitos antigos", disse Owen Callan, estrategista de renda fixa da Cantor Fitzgerald em Dublin. "A campanha pela austeridade está mais moderada agora, mas a obstinação da UE também ajuda a transmitir para a Espanha a mensagem de que ela não será indulgente".

Virar a página

Mesmo com a proteção do Banco Central Europeu, os bonds portugueses caíram novamente nesta semana, e o yield a 10 anos subiu 12 pontos-base, para 3,09%. O diferencial em relação aos bunds cresceu para 279 pontos-base, o maior desde agosto de 2014.

O orçamento pretende "virar a página da austeridade", disse Costa na quarta-feira. As medidas incluem reverter os cortes salariais feitos durante o programa de resgate para os funcionários públicos e reduzir a semana de trabalho deles. A renda familiar também vai aumentar e, no lado da receita, os impostos sobre os empréstimos ao consumidor e o combustível também vão subir.

O déficit continuará dentro do limite da UE, de 3% do PIB, até 2019 e a dívida será reduzida paulatinamente, disse Costa.

Diferenças nos cálculos

As discussões sobre o orçamento de 2016 ainda estão em andamento, e a Comissão Europeia apresentará uma opinião na sexta-feira, disse Pierre Moscovici, comissário de Assuntos Econômicos da UE. Costa também se reunirá com a chanceler alemã Angela Merkel em Berlim no mesmo dia, antes da cúpula de ministros das Finanças europeus, que acontecerá no dia 11 de fevereiro em Bruxelas.

Os números de Lisboa no momento não coincidem com os de Bruxelas. Portugal prevê um déficit primário de 2,6% do PIB neste ano, mas a Comissão Europeia diz que ele será de 3,4%.

Portugal está contando com uma recuperação mais rápida da economia. O governo projeta um crescimento de 2,1% em 2016, maior que a previsão da Comissão, de 1,6%.

O esforço para reduzir o déficit primário estrutural precisa ser intensificado "significativamente", disseram a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu em um comunicado conjunto. "Os mercados financeiros se tornaram mais voláteis, o que faz com que financiar altos níveis de dívida soberana seja mais desafiador para o governo".