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Ikea lidera revolução ecológica na Polônia, país com mais energia suja da Europa

Marek Strzelecki e Konrad Krasuski

23/02/2016 15h31

(Bloomberg) - Quando a sueca Ikea abriu sua primeira loja na Polônia, em 1991, as estantes Billy e os sofás Klippan simbolizavam um estilo de vida novo, moderno e ocidental para o país que tinha acabado de se livrar do comunismo.

Vinte e cinco anos depois, a fabricante de móveis para armar anuncia outro futuro alternativo. Desta vez, trata-se de um futuro que utiliza menos energia à base de carvão e que entra em colisão com o passado da Polônia.

A Ikea e a fabricante francesa de alimentos Danone são algumas das empresas que estão planejando, ou já gerando, suas próprias fontes de eletricidade "ecológica" ao mesmo tempo em que o novo governo polonês defende a produção tradicional de carvão. A primeira-ministra Beata Szydlo chocou os parlamentares da União Europeia no mês passado quando pressionou para obter mais ajuda para o maior setor carvoeiro do continente e foi repreendida por tentar voltar atrás nas metas de emissões.

"Fizemos praticamente tudo o que podíamos para reduzir nossa pegada de carbono", disse Grzegorz Bobek, engenheiro ambiental da unidade polonesa da Danone. "Sem novas fontes de energia continuamos nos saindo pior que os colegas ocidentais".

Geradores de biogás e usinas eólicas

A Danone, que fabrica iogurte na Polônia e é a maior vendedora de água mineral do país, quer aumentar a proporção de "eletricidade ecológica" em sua matriz energética para 40 por cento neste ano. Destina-se a parar de comprar energia com base em combustíveis fósseis em 2017 graças a potenciais investimentos em geradores de biogás e compras de eletricidade certificada a partir de fontes renováveis.

A Ikea, que tem mais de dez fábricas no país, além de oito lojas, está mais à frente.

A empresa sueca, que investiu mundialmente 1,5 bilhão de euros (US$ 1,6 bilhão) em projetos de energia renovável desde 2009, disse neste mês que estava finalizando um acordo para a compra de uma usina eólica de 51 megawatts, a sexta da empresa e a maior da Polônia.

O objetivo é produzir mais energia do que a empresa consome para lucrar com a venda do excedente, disse Karol Gobczynski, gerente de energia e clima da Ikea na Polônia.

Conflito energético

As turbinas eólicas são relativamente raras no país, onde cerca de 85 por cento da produção vem do carvão e produz a energia mais poluente. É preciso de 1,6 vez mais emissões de carbono para produzir um quilowatt de eletricidade na Polônia do que na Alemanha, de acordo com Elchin Mammadov, analista de serviços públicos europeus da Bloomberg Intelligence.

O governo não esconde sua posição: além de dar apoio ao carvão, também busca reduzir os subsídios à energia renovável, que precisa "caminhar com as próprias pernas", disse Piotr Naimski, principal assessor de segurança energética de Szydlo, na semana passada. O partido governante, Lei e Justiça, também apresentou ao parlamento um projeto de lei que exigiria maior distância entre as usinas eólicas e as residências, dificultando os novos investimentos nesse tipo de energia.

O lobby de energia renovável da Polônia diz que o governo, no poder há quatro meses, está perdendo uma oportunidade.

"O crescente conflito entre a política energética da Polônia e a do restante da UE poderia fazer com que mais empresas desenvolvam suas próprias fontes de energia ecológica aqui ou que importem eletricidade não poluente", disse Beata Wiszniewska, diretora administrativa do grupo. "A Polônia está sendo impedida de participar da revolução energética que está acontecendo no mundo".

Duas Polônias

Politicamente, os interesses divergentes em relação à política energética salientam a brecha que existe entre a Polônia, a boa europeia, e a Polônia, a nação que reivindica seus próprios interesses e se afasta da tendência dominante.

Filha de um mineiro e criada no coração industrial e poluído do país, Szydlo prometeu manter todas as minas de carvão abertas, a despeito dos esforços da UE para restringir as emissões de dióxido de carbono, responsável pelo efeito estufa, e das crescentes perdas do setor. A Polônia tem mais de 100.000 mineiros, a maior quantidade da Europa.

"A Silésia precisa de ajuda da União Europeia", disse Szydlo aos parlamentares da UE em Estrasburgo no dia 19 de janeiro. "Por favor, sejam solidários com as minas de carvão polonesas".