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Coberturas em Manhattan (EUA) encolhem com retração do mercado de luxo

Oshrat Carmiel

29/02/2016 11h50

(Bloomberg) -- Bem no topo de seu edifício residencial recém-construído no Soho, o incorporador Kevin Maloney viu um problema: uma cobertura tríplex avaliada em US$ 45 milhões, que ele sabia que seria impossível vender no atual mercado de Manhattan, nos Estados Unidos, onde as transações de luxo estão desacelerando.

Ele então rasgou a planta da cobertura e dividiu o apartamento de quase 780 metros quadrados em duas unidades mais manejáveis. Se o edifício no número 10 da Sullivan St. não estivesse quase pronto, Maloney afirma que teria fatiado a cobertura em três unidades.

"Achamos que a cobertura era cara demais para o mercado e sua situação atual", disse Maloney, diretor e fundador da Property Markets Group, em entrevista. "O ar está muito rarefeito lá em cima onde estão esses compradores."

As mudanças resultarão em um apartamento de 279 metros quadrados no 15º andar, de US$ 11 milhões, e um duplex sobre o mesmo, de 502 metros quadrados, de US$ 29,5 milhões, disse Maloney. Com essa estratégia "o contingente de compradores aumenta - talvez não muito, mas com certeza será maior que o contingente que gastaria US$ 45 milhões".

O boom de apartamentos luxuosos de Manhattan, simbolizado pelos preços recordes de coberturas extragrandes e esbanjadoras, está parando em um momento em que o estoque aumenta e a demanda de investidores internacionais enfraquece. Quatro anos depois de um duplex no edifício One57, da Extell Development Co., ter sido comprado por US$ 100,5 milhões, os investidores de Manhattan que desejam um troféu nas alturas têm muitas opções disponíveis.

A Chetrit Group pedirá US$ 150 milhões pelo tríplex planejado de 1.997 metros quadrados no topo do edifício Sony. A Zeckendorf Development está pedindo US$ 130 milhões por uma cobertura no número 520 da Park Ave. Um arranha-céu projetado por Jean Nouvel, ao lado do Museu de Arte Moderna, tem um duplex nos andares superiores que custa mais de US$ 70 milhões.

E esses apartamentos nem sequer foram listados no StreetEasy. O site de imóveis mostra que pelo menos 13 outras coberturas recém-construídas, com preços a partir de US$ 20 milhões, estão oficialmente à venda. Exceto duas, todas estão há mais de 100 dias no mercado. Entre elas há uma cobertura da Toll Brothers, de 650 metros quadrados no número 1110 da Park Ave., à venda por US$ 29,5 milhões - um desconto de 16 por cento desde que a unidade entrou no mercado em janeiro de 2015.

No edifício Aby Rosen, projetado por Norman Foster no número 100 da East 53rd St., uma cobertura de quatro quartos era oferecida no mês passado por US$ 65 milhões.

Unidades menores

As construtoras que estão começando projetos agora já estão incorporando unidades menores às plantas. Também é um sinal dos tempos que as empresas com projetos quase prontos estejam reavaliando se algumas das unidades, projetadas anos atrás, são grandes ou caras demais para o apetite dos compradores do mercado de luxo atual, disse Nancy Packes, consultora de marketing e design para incorporadoras residenciais de Nova York.

"Isso se chama adiantar-se à curva", disse ela. "Não se trata meramente de dividir a cobertura em unidades menores e reduzir o preço absoluto, mas também de diminuir o tempo necessário para vender as unidades".

Elevador particular

A cobertura original do número 10 da Sullivan St., desenvolvida em conjunto com a Madison Equities, era para ser uma residência de seis quartos e sete banheiros, com elevador particular e uma galeria "ideal para exibir obras de arte" perto da entrada, de acordo com o anúncio no StreetEasy. O terceiro andar do tríplex incluiria uma piscina de 6 metros sob uma claraboia, com mosaico de azulejos e vista para o Soho, e um solário "rodeado de vidro onde há um bar com pia". Em cima de tudo haveria um terraço privado de 90 metros quadrados com vista de 360 graus.

"Acho que quem compra hoje um apartamento por US$ 45 milhões não necessariamente quer morar em um edifício onde todas as outras unidades custam 25 por cento desse preço", disse Maloney. "Ninguém quer ser o cara que pagou US$ 45 milhões quando todas as outras pessoas pagaram 10. É uma questão cultural."