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Salários de Wall Street dobram em 25 anos ao contrário do resto

Jenny Surane

11/04/2016 14h24

(Bloomberg) -- Querida Wall Street: Pare de reclamar do seu salário.

Cinco anos após os manifestantes de Occupy Wall Street tomarem o parque Zuccotti, no centro de Manhattan, gerando uma discussão nacional sobre a divisão entre os maiores e os menores salários dos EUA, as disparidades salariais só aumentaram.

Agora, quando os banqueiros lamentam a queda em seus bônus e perspectivas de emprego, estão ajudando a alimentar as campanhas de Donald Trump e Bernie Sanders.

A diferença é ainda mais acentuada nos últimos 25 anos. Quando ajustado pela inflação, os salários de banqueiros de investimento e funcionários da indústria de títulos, incluindo salário e bônus, aumentou 117% de 1990 a 2014, de acordo com dados do Bureau of Labor Statistics (BLS).

Durante o mesmo período, os salários de todas as outras indústrias aumentaram 21%, para US$ 51.029 em 2014, cerca de um quinto dos US$ 264.357 que os banqueiros e corretores ganharam aquele ano.

A indústria de bancos de investimento e negociação de títulos inclui empresas dedicadas principalmente em subscrever, originar e manter mercados de títulos.

Os candidatos presidenciais foram rápidos em capitalizar essa divisão. Favoritos dos dois partidos --a democrata Hillary Clinton e Trump, o bilionário republicano-- têm como alvo uma lei que permite que os gerentes financeiros tenham seus rendimentos tributados a uma taxa mais baixa.

Sanders, senador de Vermont, propôs taxar os especuladores de Wall Street para financiar sua proposta de tornar as faculdades públicas gratuitas. O senador do Texas Ted Cruz zombou do dinheiro de Manhattan e disse que ia deixar os grandes bancos falirem.

"Essa diferença de salários está no topo das agendas tanto de Trump quanto de Sanders como uma das questões que mais refletem no público", disse John Challenger, CEO da empresa de recolocação Challenger, Gray & Christmas, de Chicago. "O resultado final está na corrente anti-Wall Street que existe nos EUA".

A desigualdade de renda

A diferença é ainda maior em Nova York, de acordo com dados compilados pelo State Comptroller Thomas DiNapoli com base nos registros de impostos de renda de uma ampla gama de funcionários em empresas que lidam com títulos, contratos de commodities e outros investimentos financeiros.

O salário médio anual na indústria em Nova York em 2014, incluindo salário e bônus, foi de US$ 404.800, quase seis vezes mais do que a média de US$ 72.300 para todos os outros empregos no setor privado, mostram os dados.

Isso é mais amplo do que a margem em 2011, o ano dos protestos de Occupy, quando os salários médios na indústria de títulos em Nova York eram cerca de cinco vezes mais do que os de todos os outros funcionários não-governamentais.

Menos popular

Apesar do aumento da massa salarial, atrair talentos é um problema. Empregados da indústria de títulos estão saindo para tentar a sorte no Vale do Silício, e os bancos não conseguiram impedir o declínio na popularidade entre os estudantes de negócios.

Nas escolas de negócios de Columbia e Harvard, o salário base mediano para os graduados que entram em bancos de investimento subiu para US$ 125 mil no ano passado, um aumento de 25% desde 2011, segundo dados compilados pela agência de notícias Bloomberg a partir de relatórios escolares.

Durante o mesmo período, a percentagem de alunos que entram na indústria caiu de 27% para 16% na Columbia e de 10% para 5% em Harvard.

Os ganhos são praticamente desconhecidos em outras indústrias, mesmo aquelas normalmente entre as mais bem pagas ou que normalmente requerem alguma forma de ensino pós-secundário, mostram os dados do BLS.

Funcionários de equipes esportivas e clubes tiveram aumentos de 66% de 1990 a 2014, ajustado pela inflação, enquanto os de empresas legais viram os salários subirem 24%. O negócio de gestão de carteira apresentou um aumento de 131%.

--Com a colaboração de Victoria Stilwell