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Nigéria tenta evitar desvalorização moeda com acordo com China

Paul Wallace

11/05/2016 16h21

(Bloomberg) -- Estrategistas estão criticando o mais recente plano da Nigéria para resgatar sua moeda - dessa vez recorrendo ao dinheiro chinês.

Em uma visita feita no mês passado a Pequim, o presidente Muhammadu Buhari assinou um acordo cambial no intuito de encorajar o comércio com a China e reduzir a demanda de dólares da Nigéria para aliviar a pressão sobre reservas cada vez menores de moeda estrangeira.

Embora o acordo, cujos detalhes ainda estão sendo negociados, ajude na campanha da China para entrar na maior economia da África, no melhor dos casos ele dará à Nigéria alguns meses antes que o país se veja obrigado a imitar o exemplo de outros exportadores de petróleo e desvalorize a moeda, segundo o Citigroup e o Bank of America.

É "muito improvável" que o acordo de swap entre o naira e o yuan diminua a pressão sobre o naira ou sobre as reservas da Nigéria, disse Andrew Howell, estrategista para mercados de fronteira em Nova York do Citigroup. "O mercado quer ver um caminho claro para uma taxa de câmbio sustentável, onde a oferta e demanda de moeda estrangeira esteja equilibrada".

Desvalorização

A Nigéria tem mantido o naira em 197 a 199 por dólar desde março do ano passado, apesar de que a receita obtida com o petróleo e os lucros das exportações afundaram e de que outros produtores de petróleo bruto, de Angola até a Rússia, permitiram que suas moedas se enfraquecessem. As reservas caíram 29 por cento desde meados de 2014 e atingiram o valor mais baixo em mais de dez anos já que controles de capitais do banco central desaceleraram quase até parar os investimentos estrangeiros.

Embora o nível de desvalorização implicado pelos contratos futuros do naira tenha caído porque Buhari resiste aos pedidos para deixar que a moeda se enfraqueça, eles predizem um declínio de 37 por cento para o ano que vem. Como a economia se expandirá neste ano no ritmo mais lento desde 1999, segundo o Fundo Monetário Internacional, Buhari assinou na semana passada a aprovação de um orçamento recorde que deixa o governo com um déficit de 2,2 trilhões de naira (US$ 11 bilhões).

Mercado negro

Buhari e o presidente do banco central, Godwin Emefiele, afirmam que permitir uma desvalorização do naira prejudicaria os nigerianos ao elevar os preços em um país que importa a maior parte dos produtos acabados. A maioria das empresas é obrigada a usar a taxa de câmbio do mercado negro, que é de 320 por dólar, aproximadamente 60 por cento mais fraca do que a taxa oficial. Isso está impulsionando a inflação, que acelerou para 12,8 por cento em março, a taxa mais alta em quase quatro anos.

"Nigéria tem um déficit comercial persistente com a China", disse Oyin Anubi, economista do Bank of America em Londres. "A menos que a China esteja disposta a tomar mais nairas de que precisa para comprar petróleo bruto nigeriano, o qual ela não tende a fazer em grandes quantidades, o déficit cambial da Nigéria, seja em yuans ou dólares, provavelmente continuará".

Buhari poderia empregar um swap com a China para tentar adiar uma desvalorização, mas isso não lhe dará muito fôlego, segundo o JPMorgan Chase. Pode ser que o acordo não faça mais do que aumentar o déficit comercial do país com a China, que atingiu US$ 15 bilhões em 2015.

"É improvável que tenha impacto significativo no curto prazo", disse Yvette Babb, estrategista para a África Subsaariana do credor com sede em Nova York, que projeta uma taxa de câmbio de 240 a 260 por dólar para o fim do ano. "Um swap tem capacidade limitada de influência sobre o descasamento estrutural entre a oferta e a demanda".