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O que a Bolsa de Valores de Londres sugere sobre a saída britânica da UE?

Isobel Finkel

13/07/2016 11h49

(Bloomberg) -- A capa de ontem do tabloide "Daily Express" celebrava a disparada do índice FTSE 100 da bolsa de Londres com a manchete "Brexit Boom", após tantas previsões de desastres com a decisão do eleitorado britânico de sair da União Europeia.

Houve forte alta das ações após o referendo. Desde 23 de junho, os ganhos do FTSE 100 passam de 5 por cento. A partir do piso atingido em fevereiro, o indicador já avançou mais de 20 por cento, merecendo a terminologia bull market ou mercado otimista.

Na leitura do "Daily Express", o movimento da bolsa representa apoio dos investidores ao chamado Brexit, afrontando quem proclamava que o divórcio da UE acabaria com a economia do Reino Unido.

O tabloide não é o único a dar esse veredicto, bastante reproduzido no Twitter pelos que defendem a saída do bloco. "As previsões de desastre para a libra esterlina, as bolsas e os juros não se provaram corretas", nas palavras mais moderadas de Andrea Leadsom, que já atuou no mercado financeiro e, na segunda-feira, disputava sozinha com Theresa May a liderança do Partido Conservador.

Deixando momentaneamente de lado a discussão sobre se o comportamento das bolsas serve como indicador da saúde da economia doméstica, os argumentos em si não estão claros.

Aparentemente, o principal índice da bolsa de Londres ignorou o resultado do referendo. Porém, entre todos os índices do mercado acionário britânico, "o FTSE 100 é provavelmente o menos representativo do sentimento em relação ao Brexit", de acordo com Thomas Pearce, estrategista do Deutsche Bank AG.

Dependendo do ponto de vista, Londres é um centro financeiro internacional sacrossanto ou que corre risco de vida. Mas por ser esse centro financeiro, nem todas as empresas listadas na bolsa de Londres têm sede no Reino Unido e, para muitas, o Reino Unido nem é fonte essencial de receita.

Uma parte bem maior da receita das componentes do FTSE 100 é gerada fora das ilhas britânicas, segundo Pearce. Portanto, com a depreciação da libra, essas empresas agora podem valer muito mais em moeda local.

Além disso, muitas das grandes corporações do FTSE 100 têm natureza "defensiva", ou seja, vendem artigos essenciais de consumo e a demanda pelos mesmos não é tão sensível, diferentemente do que ocorre para componentes de outros índices acionários.

As mineradoras, por exemplo, estão entre as ações mais cíclicas negociadas no Reino Unido. Esses papéis dispararam junto com os preços das commodities nas últimas semanas, mas os motivos pouco têm a ver com o Brexit.

"O FTSE 100 não deveria ser usado, mas o FTSE 250 poderia", disse Pearce. As companhias listadas nesse último só geram um terço do faturamento no exterior e a tendência do índice após o Brexit é bem diferente, com queda de mais de 3 por cento desde o referendo.

Um fator em comum entre esses índices é que as ações de ambos são denominadas em libras e o valor da libra desabou, de forma que, com tudo mais constante, é preciso mais libras enfraquecidas para se comprar uma ação. Em dólares, o valor do FTSE 250 desabou 13 por cento.