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Economia dos EUA está sofrendo do mesmo velho problema

Luke Kawa

09/08/2016 12h16

(Bloomberg) -- Dois resultados mensais acima do esperado de criação de empregos nos EUA reafirmaram que a economia local não tem um problema novo, ou seja, desaceleração acentuada da expansão do mercado de trabalho. O problema é aquele velho conhecido: produtividade lenta.

As autoridades monetárias vão tentar garantir que essa mazela desapareça à medida que a ociosidade no mercado de trabalho diminui, de acordo com uma equipe do Deutsche Bank AG liderada pelo estrategista Dominic Konstam. Isso porque o crescimento continuamente baixo da produtividade provavelmente significa que as empresas não estão investindo em um momento em que outro fator do processo de produção ? o trabalho ? se torna mais caro e escasso.

Uma "implicação da produtividade persistentemente baixa é que é criticamente importante que o Fed [Federal Reserve] proteja a demanda agregada, particularmente à medida que o ritmo de expansão das vagas se desacelera com a aproximação do pleno emprego", ele escreveu.

O crescimento trimestral da produtividade ? medido pela variação do produto por hora trabalhada ? ficou em apenas 0,7 por cento na média dos quatro trimestres até os primeiros três meses deste ano, bem abaixo da média de longo prazo de 2,2 por cento.

A produtividade teve queda trimestral de 0,5 por cento no segundo trimestre, segundo relatório divulgado hoje. A estimativa era aumento de 0,4 por cento.

A elevação da produção total da economia é conquistada somente por meio do aumento do número agregado de horas trabalhadas ou da produção de mais bens e serviços por hora trabalhada.

O envelhecimento da população nos EUA vai frear o ritmo de crescimento do produto do trabalho, ao passo que a geração nascida logo após a Segunda Guerra Mundial deixa a força de trabalho. Assim, se a produtividade não crescer, a economia talvez não cresça quase nada.

O banco central americano está ciente da necessidade de investimentos para aumentar a produtividade em um mercado de trabalho que apresenta cada vez menos ociosidade, de acordo com Konstam.

"A lógica é bem simples: o setor corporativo dificilmente aumentará o investimento na ausência de demanda final (global) forte e o investimento historicamente é requisito para o aumento da produtividade", escreveu o estrategista. "A questão espinhosa é que os empregados também são consumidores, portanto uma desaceleração exagerada do nível de emprego facilmente deprime a demanda."

A necessidade de impulsionar a produtividade ajuda a explicar o foco do Fed nas condições financeiras, dado que os níveis de taxas de juros, spreads de crédito, taxa de câmbio e preços das ações hipoteticamente influenciam as decisões de investimento das empresas. Esse quadro indica que as preocupações da autoridade monetária em relação a essas variáveis não diminuirão tão cedo.

"Enquanto o mercado de trabalho estiver saudável, o Fed pode subir os juros modestamente, mas tendo cuidado para não criar obstáculos à demanda agregada que possam impedir uma transição para o crescimento puxado pela produtividade", alertou Konstam. "Obstáculos novos criados pelo aperto do Fed provavelmente reforçariam a tendência (baixista) existente no investimento privado real."

Os diversos obstáculos ao aumento da produtividade (aposentadoria em massa dos mais experientes, período prolongado de alta do preço do petróleo antes de uma queda acentuada, lenta integração de tecnologias inovadoras ao processo de produção e, acima de tudo, baixo investimento pelas companhias) significam que a taxa básica de juros permanecerá ainda mais baixa ao longo do ciclo atual do que os níveis contidos que as autoridades monetárias pretendem atingir no longo prazo, de acordo com analistas do Bank of America Merrill Lynch.