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Invasão de hedge funds debilita defesas das resseguradoras

Oliver Suess e Jan-Henrik Förster

23/08/2016 14h26

(Bloomberg) -- Não será necessário outro furacão Katrina para que as companhias de resseguros enfrentem prejuízos por cobrir custos de desastres naturais. Concorrentes como hedge funds baixaram tanto os preços que um ano comum de pedidos de indenização poderia provocar perdas no setor.

Os resseguros patrimoniais e de responsabilidade estão "chegando muito perto de taxas combinadas de 100 por cento", disse Manfred Seitz, diretor administrativo de resseguro internacional da Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett, em uma mesa-redonda de executivos do setor na segunda-feira. "Mesmo com níveis normais de pedidos de indenização por catástrofes em 2016, várias empresas poderiam" atingir esse limiar. Uma taxa superior a 100 por cento significa que as indenizações e os gastos superam a renda obtida com apólices.

Os preços de resseguros, comprados por seguradoras primárias para ajudá-las a assumir riscos, caíram em oito dos últimos 10 anos, segundo um indicador compilado pela corretora Guy Carpenter que contabiliza propriedades atingidas por catástrofes. O setor vem liberando reservas relativas a pedidos de indenização feitos no passado, o que ajudou a atenuar o impacto das quedas de preço e da diminuição dos ganhos obtidos com aplicações financeiras de rendimento baixíssimo.

"O que atravessamos foi mais ou menos o oposto de uma tempestade perfeita", disse Matthias Weber, diretor de subscrição da Swiss Re, com sede em Zurique, referindo-se ao setor em geral. "Todos aproveitaram a liberação de reservas. Mas, se ajustarmos os resultados a isso e à 'boa sorte' devido à ausência de grandes prejuízos com catástrofes naturais, já não são tão fantásticos assim".

A taxa combinada para resseguros patrimoniais e de responsabilidade na Swiss Re, a maior companhia de resseguros do mundo, piorou de 92,9 por cento há um ano para 101 por cento no segundo trimestre por causa de pedidos de indenização por catástrofes, como terremotos no Japão e incêndios no Canadá. Sem as liberações do ano anterior, a taxa teria sido 5,5 pontos percentuais maior. A taxa obtida pela Munich Re no mesmo segmento subiu de 93,3 por cento para 99,8 por cento, mesmo depois que a liberação de reservas melhorou o indicador em 5,1 pontos percentuais.

A concorrência está aumentando porque os programas de estímulo quantitativo dos bancos centrais derrubaram os rendimentos de investimentos tradicionais, o que atraiu novos participantes para o mercado. Vários investidores, de hedge funds a gestores de fundos de previdência, tentam impulsionar seus retornos empregando seu capital na proteção contra riscos, por meio de instrumentos financeiros atrelados a seguros, como os chamados títulos de catástrofe.

Temporada de furacões

O nível favorável de pedidos de indenização nos últimos anos poderia ser ameaçado pela temporada de furacões nos EUA. A bacia do Atlântico enfrentará o maior número de grandes tempestades desde a temporada de 2012, ano em que o furacão Sandy provocou até US$ 50 bilhões em estragos em propriedades nos EUA. Até quatro dessas tempestades ganharão força a ponto de serem consideradas grandes furacões até 30 de novembro, de acordo com previsões do Escritório Nacional para Oceanos e Atmosfera dos EUA, divulgadas em 11 de agosto.

"Analistas e investidores têm certeza de que a boa sorte não será o novo padrão de normalidade" nos pedidos de indenização, disse Weber, da Swiss Re. "É só questão de tempo até que não reste nada a fazer e aí a resistência, o tamanho e o capital no balanço patrimonial farão a diferença".