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Sangria dos hedge funds deveria provocar reflexão

Christopher Langner

25/08/2016 13h53

(Bloomberg) -- Ai! Na verdade, nem doeu tanto assim. A notícia de que hedge funds sofreram amortizações de US$ 25,2 bilhões no mês passado pode significar que alguns gestores individuais fecharão as portas, mas, para o setor como um todo, é uma gota d'água no oceano.

A má notícia é que esta última sangria não significará a cura. Os gestores têm um futuro sombrio pela frente.

Para hedge funds do mundo inteiro, julho foi o pior mês em termos de amortizações desde fevereiro de 2009, segundo um relatório da eVestment. O mês chegou depois de fluxos líquidos de saída de US$ 23,5 bilhões em junho, o que levou o total para US$ 55,9 bilhões no ano até agora. É muito dinheiro, mas leve em conta o contexto dos US$ 2,7 trilhões administrados pelo setor, segundo dados da BarclayHedge.

Era natural que houvesse uma reversão depois da sequência de fortes fluxos de entrada para hedge funds que começou em 2009. Além disso, o esvaziamento não é generalizado. Fundos de commodities atraíram dinheiro novo de forma constante neste ano, com fluxos de entrada de US$ 10,3 bilhões nos últimos 14 meses. Enquanto isso, a estratégia mais popular, a long/short, também é uma das mais afetadas, conforme observado por Michael Regan, do Gadfly.

Esses dois fatos parecem fundamentar a ideia de que a movimentação recente é mais um ajuste do que o último suspiro do setor. A maioria das amortizações foi feita em fundos deficitários, e foram registrados fluxos de entrada para aqueles que ganharam mais de 7 por cento neste ano.

Embora os gestores de fundos possam lamentar a inconstância dos investidores, não se pode culpá-los. Quando se paga uma taxa fixa de 2 por cento dos ativos e 20 por cento dos lucros extraordinários (que muitas vezes não são tão extraordinários assim), é natural ir para onde parece haver lucro. Você pode se enganar, porque os perdedores de hoje podem ser os vencedores de amanhã -- mas nesse nível de custos, o desejo de obter grandes recompensas regularmente é natural.

A menos que a equação tradicional de taxas dos hedge funds seja questionada, seus negócios continuarão sendo cíclicos: os vencedores receberão cada vez mais dinheiro e os perdedores não terão a chance de reverter seu azar.

Além disso, o ambiente atual é cruel. Em um mundo de juros baixos, os ativos tradicionais têm tudo a favor. Os bancos centrais deram um impulso aos investimentos de duration longa, de imóveis até private equity, disse Ben Inker, codiretor de alocação de ativos da gestora GMO, com sede em Boston, em uma carta trimestral recente. O oposto vale para os ativos menos sensíveis às taxas de juros por causa de seu horizonte de prazo mais curto, como hedge funds.

Esse é o lado pernicioso da matemática financeira, que avalia tudo com base em fluxos de caixa com desconto. Embora os pagamentos projetados para o futuro da maioria desses ativos comprados não tenham mudado, à medida que a taxa de desconto cai, seu valor atual aumenta. A melhor forma de ganhar dinheiro hoje é simplesmente ficar em um índice. A maioria das estratégias dos hedge funds não funciona assim.

Como o Fed, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão estão longe de voltar a uma política monetária "normal", esse problema persistirá. Por sua vez, isso significa retornos mais medíocres em geral -- sempre há alguns gestores que se destacam -- e mais amortizações.

Serão necessárias dezenas de meses ruins como julho para que o setor de hedge funds enfrente uma ameaça existencial. No entanto, como é improvável que a atual corrida dos ativos pare, esta é uma oportunidade para que os gestores repensem seus métodos.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.