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ETFs tropeçam na Europa com falta de dinheiro e fundos demais

Sofia Horta e Costa

28/09/2016 14h22

(Bloomberg) -- Os veículos de investimento de maior crescimento no mundo, os fundos negociados em bolsa (ETFs), não conseguem decolar na Europa.

Preponderância de opções, falta de clientes e uma variedade estonteante de regulamentações limitam a expansão do negócio em centros financeiros de Dublin a Frankfurt. Traders e vendedores estão tendo problemas exatamente onde os ETFs deveriam nadar de braçada: na liquidez.

A região abriga mais de 35 por cento dos ETFs do mundo, mas somente 20 por cento do dinheiro investido, segundo dados compilados pela Bloomberg. Sua fatia no volume global de negócios é ainda menor, ficando em 4,1 por cento em agosto, de acordo com o Deutsche Bank. Só trocaram de mãos na Europa no mês passado aproximadamente US$ 63 bilhões em produtos negociados em bolsa, comparado a US$ 1,3 trilhão nos EUA.

“É claro que a liquidez na Europa não parece tão forte quanto nos EUA”, disse Erol Steiner, diretor-gerente da Crossflow Financial Advisors, corretora de ETFs sediada em Munique. “Tudo bem para o investidor profissional, especializado, que sabe quem chamar quando quer fazer uma operação. Mas este sempre será um clube bem menor.”

Diferentemente dos fundos mútuos, os ETFs podem ser negociados em tempo real. Nos EUA, estão se tornando cada vez mais complexos e diversos desde que estrearam em 1993. Já os ETFs europeus, desenvolvidos pela Merrill Lynch mais de sete anos depois, estão presos a um círculo vicioso, no qual não há volume de negócios suficiente para tornar esse mercado eficiente e capaz de atrair investidores.

A liquidez é importante porque diferencia esses ativos dos fundos mais tradicionais e não listados em bolsa que não podem ser negociados de modo intradiário, de acordo com Simon Klein, da Deutsche Asset Management. Nos EUA, a vantagem da liquidez colaborou para que os ativos em ETFs aumentassem para o equivalente a 17 por cento dos ativos aplicados em fundos mútuos, segundo dados do Deutsche Bank. Na Europa, essa parcela é de apenas 3,4 por cento.

“Há uma percepção de que esses produtos não são tão líquidos quanto deveriam”, disse Klein, responsável por vendas passivas na Europa, África, Ásia e no Oriente Médio, em entrevista por telefone de Frankfurt. “A Europa é bastante fragmentada e a maioria das operações é feita fora das bolsas por grandes agentes institucionais. Isso desincentiva os pequenos investidores, que já são muito conservadores.”

Os investidores individuais e aqueles que compram e vendem valores mobiliários para suas próprias contas ainda não entraram na onda dos ETFs na Europa, embora os custos sejam frequentemente bem mais baixos que os dos fundos mútuos, devido à ausência de taxas de administração. A Lyxor, terceira maior fornecedora do produto na região e subsidiária do Société Générale, calcula que os clientes de varejo sejam donos de apenas 2 por cento desse mercado de forma direta por meio de contas de renda variável e planos de poupança. Essa fatia sobe para 10 por cento quando entram as aplicações por meio de bancos privados. Nos EUA, os investidores individuais representam cerca de 50 por cento do mercado de ETFs.