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Brexit caminha para desfecho "duro", afirmam acadêmicos

Alex Morales

23/12/2016 08h39

(Bloomberg) -- Seis meses após o eleitorado britânico votar pela saída da União Europeia, tudo indica que o Brexit será "duro", de acordo com relatório assinado por 12 acadêmicos e pesquisadores de políticas públicas.

A chocante decisão uniu os outros 27 integrantes da UE de modo raramente visto e expôs o grau de divisão dentro do próprio Reino Unido, concluiu o relatório publicado nesta sexta-feira pelo programa de pesquisas chamado U.K. in a Changing Europe, que tem sede na King's College de Londres e é bancado pela UE. Segundo pesquisadores de nove universidades e do Instituto Nacional de Pesquisa Econômica e Social, o Brexit levou à reorganização do governo e deixou claro o desarranjo dentro do Partido Trabalhista, que é de oposição.

Os britânicos estão um "pouco mais perto de saber o que o Brexit realmente significa", disse Anand Menon, professor de política europeia da King's College. Mídia, políticos e empresários especulam se o Reino Unido caminha para um Brexit "suave", no qual retém laços comerciais robustos, ou "duro", saindo do mercado comum e voltando ao regime de tarifas.

"Eu apostaria no duro", disse Menon a repórteres em Londres, citando a falta de flexibilidade do resto da UE e os esforços da primeira-ministra Theresa May para acomodar a ala mais à direita de seu Partido Conservador. "Combinando isso ao nível de agressividade que esperamos nas negociações do Artigo 50 e ainda mais nas negociações comerciais, não consigo imaginar um caminho daqui até o que chamamos de Brexit suave."

Falta de clareza

May se prepara para iniciar dois anos de conversas sobre o Brexit quando acionar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa até o fim de março.

Ela não revelou suas prioridades de negociação, citando o risco de dar vantagem a suas contrapartes na UE. Não se sabe muito sobre como ela pretende conciliar suas duas maiores demandas: acesso máximo ao mercado único e controle da imigração.

A complexidade passa pelas exigências de governos da Escócia e Irlanda do Norte, onde os eleitores votaram pela permanência na UE, pelo pagamento de dívidas e pelo estabelecimento de novas agências reguladoras.

A primeira-ministra precisa chegar a dois acordos principais: um sobre os termos do divórcio e outro sobre o novo relacionamento entre o Reino Unido e a UE. Os britânicos querem trabalhar nos dois simultaneamente, mas o principal negociador da UE, Michel Barnier, prefere a abordagem europeia tradicional de negociar um capítulo por vez dos tratados.

Jogando pesado

"Se houvesse boa vontade de ambos os lados, talvez as duas negociações - o divórcio e o relacionamento futuro - ocorressem em paralelo", disse Catherine Barnard, professora de legislação europeia na Universidade de Cambridge. "No momento, a UE está jogando pesado com isso e dizendo que não vai sequer começar as negociações sobre um acordo futuro até que a outra parte se torne um terceiro estado."