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O argumento do mercado para a ciência climática

Paul J Ferraro

28/12/2016 16h11

(Bloomberg) -- Você tem fé no poder do livre mercado? Então, naturalmente, aceita as evidências de que a atividade humana está causando a mudança climática.

Mercados livres e competitivos funcionam eficientemente em grande parte porque são agregadores fenomenais de informação, reunindo e classificando fatos sobre preferências de consumidores e custos de produção de empresas, e orientando participantes do mercado a se engajarem em ações que proporcionem benefícios para ambos os lados. Os mercados podem facilmente ajudar a entender a maneira mais eficiente de entregar café nas casas das pessoas, por exemplo, ou de reduzir a poluição do ar nas cidades. Os mercados também determinam quais ideias são bem-sucedidas (o iPhone, por exemplo) e quais fracassam (Kool Kardashian Kard).

Da mesma forma, ideias científicas prosperam ou perecem em seu próprio mercado. Enquanto participantes em um mercado econômico são recompensados por uma boa entrega de mercadorias e serviços, os participantes em um mercado de ideias científicas são recompensados por revolucionar o pensamento convencional. Isso acontece porque o método científico não funciona provando teorias, e sim refutando-as: os cientistas apresentam e testam explicações rivais e, finalmente, os conceitos que são refutados caem por terra enquanto os que não são prevalecem.

No meu caso, fiz carreira introduzindo tais explicações rivais no campo da ciência ambiental. Demonstrei, por exemplo, que a Lei das Espécies Ameaçadas de Extinção, quando não acompanhada por financiamento para ajudar a recuperar as espécies, pode colocar tais espécies em maior perigo, e não menor. Demonstrei que os impactos ambientais e sociais dos parques nacionais e reservas são muito mais modestos do que seus defensores e oponentes alegam. E descrevi como as tentativas de conservar água melhorando a eficiência da irrigação pode, na verdade, aumentar o uso de água. Em resumo, como a maioria dos cientistas, sou recompensado quando desconfirmo, e não quando confirmo, uma maneira de pensar.

Como em qualquer outro mercado, o mercado para ideias científicas tem imperfeições e atritos, mas é caracterizado pela competição, entrada e saída livre ? características do livre mercado idealizado, descrito em qualquer introdução de um texto didático de economia.

É verdade que os cientistas incumbentes, como empresas incumbentes em todos os mercados, tentam colocar barreiras contra novos competidores. Os painéis de revisão de incumbentes vetam novas ideias para revistas científicas e financiamento público para pesquisas. Mas essas barreiras são superadas a tempo. Assim como aqueles mercados perfeitos em textos didáticos de economia, os mercados científicos nunca deixam "dinheiro na mesa" ? não deixam boas ideias inexploradas, não por muito tempo. No final, essas ideias se espalham amplamente.

Depois de mais de 25 anos, a ideia de que a atividade humana levou a maiores emissões de gases de efeito estufa e, portanto, a uma maior mudança climática superou teorias rivais para explicar como o sistema climático da Terra opera. Ao longo do tempo, o número de explicações rivais diminuiu, em vez de aumentar. E refinamentos à teoria dominante reforçaram, em vez de enfraquecer, o argumento a favor. Em um encontro do qual participou recentemente, o presidente do conselho do departamento da Terra e ciências planetárias de uma universidade anunciou que não contrataria mais acadêmicos em ciência climática porque "a ciência está pronta". Apesar da continuidade de importantes medições e observações, as principais questões teóricas foram respondidas.

Também há razões para se pensar que as evidências da mudança climática causada pelos seres humanos estão prevalecendo sobre o mercado econômico: seguradoras de propriedades e outras empresas de maximização de lucro com uma participação financeira substancial no conceito estão agindo para demonstrar que acreditam nas provas. Estão trabalhando para criar modelos mais precisos de mudança climática e para precificar o risco climático em programas de seguros, até mesmo ameaçando processar atores que não tentam limitar a mudança climática atual. Como dizemos em economia, as preferências reveladas são mais convincentes do que as declaradas.

Fundamentalmente, o conceito de mudança climática causada pela atividade humana venceu porque as opiniões alternativas ? incluindo argumentos de que a teoria é uma farsa espalhada por Jeremias anticrescimento e antitecnologia ? contradizem o que os mercados competitivos estão demonstrando.

No final, então, é inconsistente aceitar simultaneamente que os mercados são formas poderosas de alocar mercadorias e serviços na economia e também negar que a atividade humana está causando uma mudança climática substancial. Há espaço para argumentar sobre as implicações econômicas da mudança climática ou sobre as melhores maneiras de mitigá-la e de se adaptar a ela, mas o conceito científico já não é tema de debate.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial da Bloomberg L.P. e a de seus controladores.