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Trabalhadores da zona do euro avaliam exigir salários mais altos

Maria Tadeo e Carolynn Look

13/07/2017 14h06

(Bloomberg) -- Os representantes sindicais da zona do euro estão prestes a testar se o maior crescimento econômico em anos conseguirá render um aumento salarial decente.

Sindicatos nos maiores países do bloco monetário, entrevistados pela Bloomberg neste mês, culpam o crescimento salarial medíocre e as reformas que enfraqueceram seu poder de negociação pela queda das expectativas entre os trabalhadores desde a crise financeira da região. Agora eles podem apontar para quatro anos de recuperação econômica e para a volta da inflação no momento de pedir que os empregadores aceitem aumentos maiores nos contratos coletivos de trabalho.

Salários melhores não são fundamentais somente para os trabalhadores. Os governos temem o ressurgimento do populismo e o Banco Central Europeu, que se reunirá daqui a uma semana para definir sua política, está preso ao fornecimento de um estímulo extraordinário na tentativa de atingir sua meta de inflação. O presidente do BCE, Mario Draghi, demonstrou estar particularmente preocupado com que os salários baixos estejam refreando a economia.

"Concordamos com Draghi", disse Carlos Martín, diretor do departamento econômico das Comisiones Obreras, o maior sindicato da Espanha. "Quem recebeu um aumento salarial de verdade na Espanha? Com certeza não foi a classe trabalhadora."

Espanha

A Espanha é um exemplo claro do choque que os problemas financeiros da Europa causaram para os trabalhadores. O desemprego disparou para mais de 26 por cento e até hoje, com uma taxa inferior a 19 por cento, o país tem um quarto dos desempregados no bloco monetário. Martín diz que as cicatrizes e reformas do trabalho realizadas pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy deram vantagem aos empregadores.

A média de crescimento anual dos salários na Espanha desde que a zona do euro saiu da recessão, em 2013, é de apenas 0,8 por cento. Contudo, a quarta maior economia do bloco crescerá pelo menos 3 por cento neste ano, e os preços ao consumidor estão voltando a aumentar após dois anos de deflação.

Itália

Parece que a batalha dos trabalhadores italianos será muito mais dura. O governo e os sindicatos estão negociando pequenos aumentos salariais para servidores públicos, mas isso chega após anos de congelamentos, e o escopo para conseguir mais nos setores público e privado está prejudicado pela perspectiva econômica. A média de crescimento salarial no país é de 0,3 por cento desde 2013.

"Temos que agir em duas frentes - a primeira, o papel clássico do sindicato de trabalhadores, que é pedir salários mais altos", disse Riccardo Sanna, economista-chefe do CGIL, o principal sindicato de trabalhadores da Itália. "O outro pilar de nossa atuação precisa ser a geração de emprego."

Alemanha

Se existe uma economia da zona do euro capaz de exemplificar como é difícil estimular o crescimento salarial após a crise, é a maior delas - a Alemanha.

Trabalhadores alemães têm mais poder de negociação do que outros, graças a um desemprego mínimo histórico e um boom de exportações, mas a média de crescimento salarial anual no país desde 2013 é de apenas 2,1 por cento. Dados publicados nesta quinta-feira mostraram uma inflação de 1,6 por cento.

O sindicato do setor de metal e produtos eletrônicos do país, que tem 3,8 milhões de membros, testará o clima no terceiro trimestre, quando começar a elaborar as exigências salariais.

"Esta recuperação é diferente", disse Martín, da Espanha. "Os trabalhadores não querem correr o risco de perder o emprego, essa é uma das cicatrizes que a crise deixou. As pessoas já não fazem mais greve. É difícil pressionar empresas quando as pessoas estão com medo."


--Com a colaboração de Mark Deen Lorenzo Totaro e Kevin Costelloe

Versão em português: Patricia Xavier em Sao Paulo, pbernardino1@bloomberg.net.

Repórteres da matéria original: Maria Tadeo em Madrid, mtadeo@bloomberg.net, Carolynn Look em Frankfurt, clook4@bloomberg.net.