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Diamante dá vida à República Centro-Africana em meio a guerra

Fleury Koursany

24/07/2017 11h14

(Bloomberg) -- Diamantes brutos permitiram que Abdoul Raouf casasse com três mulheres e colocasse seus nove filhos na escola. Agora que sua cidade, no Oeste da República Centro-Africana, pode exportar as gemas para os mercados internacionais novamente, seus vizinhos esperam ter a mesma sorte.

"Os diamantes são a minha vida", disse Raouf, que comercializa as pedras compradas de garimpeiros na cidade de Gamboula, perto da fronteira com Camarões, a 10 horas de carro da capital, Bangui. "É por causa dos diamantes que eu posso cuidar da minha família."

Gamboula é uma das cinco regiões do Oeste do país que voltaram a poder comercializar diamantes livremente após a flexibilização gradual de uma proibição imposta à exportação há três anos. Enquanto o conflito continua na região Sudeste, forçando dezenas de milhares de pessoas a fugir, a prefeitura ocidental de Mambéré-Kadéï lançou uma tentativa de paz, permitindo que os residentes retornassem à busca de diamantes.

O governo estima que pelo menos 20 por cento da população da região Oeste, cerca de 60.000 pessoas, obtenham renda com o garimpo de diamantes. Não é incomum ver crianças não irem à escola para acompanhar os pais e ajudá-los a peneirar cascalho em busca das gemas.

"A suspensão parcial do embargo foi muito importante para o governo, porque nos permite cobrar impostos e fortalecer os cofres do Estado", disse o ministro das Minas, Léopold Mboli-Fatrane, em entrevista em Bangui.

Zonas verdes

Em maio de 2013, vários meses depois de uma aliança de insurgentes principalmente muçulmanos ter assumido o poder, a República Centro-Africana foi suspensa do Processo de Kimberley, um grupo internacional que representa a indústria, a sociedade civil e os governos que tentam deter a venda de diamantes das zonas de guerra. Isso significou que o país não poderia mais exportar os diamantes, mesmo que as casas compradoras ainda pudessem comprá-los e armazená-los localmente.

Até o embargo, os diamantes eram o maior produto de exportação do país, com uma capacidade de produção anual estimada em 840.000 quilates, de acordo com a organização. Os Emirados Árabes Unidos são um comprador importante. A República Centro-Africana foi classificada como o 10º maior produtor mundial de diamantes por valor em 2012.

O conflito se acalmou no Oeste e no ano passado o Processo de Kimberley propôs suspender parcialmente a proibição geral a fim de permitir as exportações de diamantes das chamadas zonas verdes, mantendo a proibição em vigor nas regiões onde as lutas continuam e os diamantes podem cair nas mãos da milícia. A primeira cidade a começar a comercializar internacionalmente foi Berbérati, na prefeitura de Mambéré-Kadéï, em maio de 2016.

Mambéré-Kadéï é o lar de um dos dois principais sistemas fluviais da República Centro-Africana que juntos têm cerca de 39 milhões de quilates em reservas de diamantes, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos.

"Continuaremos a colaborar para que as exportações de diamantes possam ser retomadas em todo o país, que é o que esperamos ", disse o ministro das Minas, Mboli-Fatrane.

O governo também reduziu em mais de 30 por cento o custo de uma licença para garimpeiros de diamantes, para 680.000 francos CFA (US$ 1.200).

(Adiciona classificação de produção de diamantes no segundo parágrafo depois da zona verde subjugada.)