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Momento Jekyll e Hyde do minério mostra que rali é 'perigoso'

Jasmine Ng

26/07/2017 11h27

(Bloomberg) -- O último rali do minério de ferro foi além dos fundamentos e existe o risco de uma inversão acentuada à medida que os preços caírem para menos de US$ 50 por tonelada no ano que vem, segundo Justin Smirk, economista sênior do Westpac Banking, para quem a matéria-prima tem uma espécie de natureza dividida.

"A maioria das commodities são como Jekyll e Hyde", disse Smirk em entrevista. "O minério de ferro se encaixa nessa tendência. O Hyde tem propensão a ficar nervoso e o Jekyll é adorável, agradável", disse ele, em referência ao personagem principal do clássico do século 19 de Robert Louis Stevenson que luta com sua dupla personalidade.

A matéria-prima tem oscilado nos últimos três anos, ficando abaixo de US$ 40 no fim de 2015, subindo no ano passado e depois passando por uma montanha-russa em 2017 no momento em que os investidores estudavam o panorama da demanda diante do aumento da oferta das minas. Desde que mergulhou em direção aos US$ 50, em junho, o minério de ferro se recuperou em meio a sinais de produção de aço sustentada na China, beneficiando mineradoras como BHP Billiton, Rio Tinto e Vale. Esse último período de exuberância deixa Smirk cauteloso.

"Nesse sentido, provavelmente estamos vivendo em um forte ambiente Jekyll", disse ele, em Cingapura, na terça-feira, referindo-se aos recentes ganhos de preços. "Para mim, pessoalmente, estamos na verdade em um ambiente Hyde porque há um excesso de otimismo, especulação e espíritos animais neste momento que estão levando os preços do minério de ferro para o alto, acima dos fundamentos. Eu acho perigoso."

O minério à vista com 62 por cento de teor ferroso em Qingdao estava a US$ 70,43 por tonelada seca, na quarta-feira, após um ganho em cinco das últimas seis semanas, segundo a Metal Bulletin. Smirk afirma que o rali pode continuar por um tempo e testar a barreira dos US$ 80, mas que ele ainda espera uma queda para cerca de US$ 40 em 2018.

Embora outras empresas, incluindo a Capital Economics, também esperem declínios, principalmente impulsionados pelo aumento da oferta, nem todos estão pessimistas. O BNP Paribas afirma que o minério de ferro está subvalorizado e que os preços deverão avançar no fim do ano, citando um modelo interno que monitora a economia e a moeda chinesas.

A pleno vapor

No momento, os primeiros indicadores mostram que o motor econômico da China está a pleno vapor neste verão (Hemisfério Norte), inclusive com a recuperação da confiança das pequenas e médias empresas e com um sentimento melhor das traders e produtoras de aço. O país é o maior comprador de minério do exterior.

Smirk disse esperar uma desaceleração da China no ano que vem e acredita que a produção de aço pode começar a cair antes disso. Após o 19º Congresso do Partido, neste outono (Hemisfério Norte), que estabelecerá a hierarquia política para os próximos cinco anos, "o mais provável é que haja uma política mais rígida e mais políticas em torno da reforma da economia em vez de políticas voltadas ao crescimento", afirmou.

(Atualiza o preço no quinto parágrafo.)