Facebook é onipresente. Mas é confiável?
(Bloomberg) -- Este foi o ano do Facebook. O preço de suas ações aumentou cerca de 50 por cento, pois a empresa continua afirmando seu domínio na atividade dos usuários e na receita de publicidade digital. O Facebook prejudicou uma das empresas que tentava alcançá-lo, Snap, adicionando um recurso semelhante, Stories, ao Instagram, seu serviço cada vez mais dominante. E a investigação sobre seu papel na eleição presidencial de 2016 nos EUA continua a crescer, enquanto os políticos procuram mais informações sobre o envolvimento da Rússia no Facebook nas semanas e nos meses que antecederam novembro do ano passado.
Como o Facebook deve reagir ao momento? Para pensar sobre aonde a empresa poderia chegar, considere a história da televisão e como sua identidade evoluiu com a cultura.
Como veículo de notícias nos EUA, a televisão surgiu na década de 1960. Se a de 2016 foi a primeira "eleição do Facebook", 1960 pode ter sido a primeira eleição da televisão, pois o contraste estético entre John F. Kennedy e Richard Nixon ajudou a colocar Kennedy na Casa Branca. Se você perguntasse a alguém sobre a influência da televisão na política dos EUA no início da década de 1960, poderiam ter respondido que ela melhorou o aspecto dos líderes e fortaleceu as instituições. O período entre a posse de Kennedy e seu assassinato pode ter sido o auge das instituições americanas.
Mas aqueles eram os primeiros estágios da televisão como veículo de notícias e, à medida que a confiança institucional começou a diminuir, a televisão se adaptou. As filmagens da Guerra do Vietnã e dos protestos nos EUA chocaram os americanos e ajudaram a criar algumas das divisões culturais do país que persistem até hoje. O programa de jornalismo investigativo "60 Minutes" estreou em 1968, e seus primeiros anos coincidiram com o tumultuado governo de Nixon. No livro "How We Got Here: The 70's: The Decade That Brought You Modern Life", David Frum observou que a televisão era a única instituição americana a registrar um aumento de confiança durante esse período, conquistando credibilidade ao atacar a credibilidade de todo mundo. As raízes culturais do "Daily Show" de Jon Stewart, que ridicularizava os líderes americanos durante a década de 2000, ou do "jornalismo faixa-preta" do "Last Week Tonight with John Oliver", de hoje em dia, foram formadas décadas atrás.
O Facebook está atingindo a maioridade em um ambiente muito diferente. A confiança institucional é mínima. É provável que este seja um dos motivos que levam o Facebook a se definir como empresa de tecnologia ou "plataforma", em vez de empresa de notícias. O problema com "plataforma" aparece quando grupos extremistas, como os supremacistas brancos, usam esse veículo para disseminar o ódio, ou quando governos estrangeiros nefastos recorrem a ele na tentativa de influenciar as eleições americanas. Um estudo recente com estudantes universitários mostrou que apenas 29 por cento acreditam que o Facebook tem um impacto positivo no discurso político, em comparação com 57 por cento que acreditam que ele tem um impacto negativo.
Em última análise, se o Facebook quiser ser mais influente e mais valioso, ele precisa ser uma plataforma que conquiste a confiança de seus usuários e anunciantes. Não pode ser visto como uma guarida para grupos de ódio e golpistas. E ele está caminhando lentamente nesta direção, tentando ajudar os usuários a ver a origem do conteúdo para gerar confiança na plataforma.
É impossível fortalecer as instituições sem um esforço concertado da população, dos eleitores, dos políticos e dos veículos de notícias. A audiência da televisão está em queda, e a influência do Facebook continua a crescer. Seu legado não precisa ser o de notícias falsas e influência russa. Mas esses assuntos serão dominantes se o Facebook não tomar as rédeas de sua plataforma e conquistar a confiança da população.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.
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