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Russos buscam lanches baratos e tornam siberiano bilionário

Alexander Sazonov e Ilya Khrennikov

31/10/2017 11h53

(Bloomberg) -- Dennis Shtengelov sabe que os russos gostam de junk food, especialmente quando a economia está um lixo.

Empenhado em dar aos 147 milhões de cidadãos do país uma dose para cada desejo de lanche doce ou salgado ? tipicamente, por menos de US$ 1 ?, ele se tornou o mais novo bilionário da Rússia.

Sua empresa, a KDV Group, tirou proveito da recessão econômica e da inflação desenfreada da Rússia, bem como da obsessão do país por lanches, para fazer frente aos líderes do mercado, a Frito-Lay e a Mondel?z International.

"Shtengelov aproveitou a recessão para expandir e fortalecer seriamente seus negócios", disse Artem Motorny, sócio-gerente da Walnut Capital, com sede em Moscou, que em junho aconselhou o acordo em que Shtengelov comprou uma fábrica de confeitaria em Ulyanovsk, sudeste de Moscou. "Os varejistas estão ávidos para ganhar margens adicionais com a venda de produtos de boa qualidade e bom preço em grande volume. A KDV lhes dá isso."

Shtengelov, de 45 anos, possui um patrimônio líquido avaliado pelo Bloomberg Billionaires Index em pouco mais de US$ 1 bilhão. Ele fundou a KDV em 1997 e expandiu-a para uma operação que produz 350 lanches com 20 marcas distintas ? como Yashkino, popular por seus tradicionais biscoitos wafer e de gengibre, e BEERka, uma linha de salgadinhos de peixe seco e de carne que os russos gostam de comer com uma cerveja.

As vendas dessas iguarias distintamente russas mais do que dobraram desde 2013, para 95 bilhões de rublos (US$ 1,6 bilhão), pouco antes de os preços do petróleo caírem, de os EUA e a Europa imporem uma série de sanções à Rússia e de o presidente Vladimir Putin retaliar com uma proibição à importação de alimentos, que agora entra em seu quarto ano.

'Fadada ao sucesso'

Shtengelov, que não quis ser entrevistado, está entre os empresários locais que se beneficiaram com a desvalorização de 45 por cento do rublo nos últimos quatro anos, que aumentou o custo de importar ingredientes básicos, particularmente o cacau. O chocolate ficou tão caro que muitos russos se voltaram para produtos de pastelaria feitos com farinha local, de acordo com Elizaveta Nikitina, diretora executiva do Centro de Pesquisa de Mercado de Confeitaria em Moscou.

O modelo de negócios da KDV funciona bem em recessões porque Shtengelov fez questão de adquirir empresas em toda a cadeia de abastecimento, de fazendas de leite a fábricas que produzem chocolates, massa choux e biscoitos. Por isso, mesmo quando a inflação disparou, atingindo cerca de 17 por cento há dois anos, a KDV cobra 24 por cento menos por quilograma de lanches que as concorrentes, de acordo com dados da empresa de pesquisa de mercado Nielsen Russia.

Com sede na cidade de Tomsk, na região da Sibéria Ocidental, onde Shtengelov nasceu, a KDV opera 11 fábricas de processamento que produzem mais de 500.000 toneladas de lanches vendidos em toda a Rússia e exportados para ex-repúblicas soviéticas, como Bielorrússia e Azerbaijão.

"Sua empresa está fadada ao sucesso", disse Vadim Eliseev, um conhecido de Shtengelov, que possui parte de uma empresa de confeitaria na região de Moscou. "Em três anos, a KDV poderia ser líder do mercado."