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Opinião: Bitcoin e o temor viral de desperdiçar uma chance

Lionel Laurent

29/11/2017 14h50

(Bloomberg) -- Todos, do motorista da Uber ao gestor de hedge funds, parecem ter medo de perder a oportunidade da bolha do bitcoin.

Esta é a única lição real que tivemos após a quebra da mais recente barreira simbólica pelo vovô das criptomoedas. O preço da moeda digital em dólares se multiplicou por dez neste ano -- sem que nenhuma de suas falhas como método de pagamento tenha sido corrigida de forma convincente. As transações ainda são caras e lentas.

Os investidores de Wall Street e o apostador médio estão desesperados para surfar essa onda, amplamente apontada como insustentável, até mesmo por seus apoiadores. No lado sofisticado do mercado, o Bitcoin Investment Trust -- uma forma de lucrar com a criptomoeda sem possuí-la -- registrou ágio de 62% em relação ao seu valor patrimonial líquido.

As ações subiram 50% em três dias. No lado do consumidor, as aberturas de conta estão na casa dos seis dígitos. As buscas no Google por termos como "empréstimo em bitcoin" e "crédito em bitcoin" estão aumentando.

Não se trata de investir para o futuro, mas de ficar rico agora. Jack Bogle, da Vanguard, está certo ao afirmar que não existe nada dando suporte ao bitcoin, exceto a Teoria do Mais Tolo -- a esperança de que sempre haverá alguém no futuro disposto a comprar seu ativo a um preço ainda maior. Mas nem mesmo Bogle descarta a possibilidade de os preços do bitcoin dobrarem em relação ao patamar atual. Ele também está nessa.

A capitulação dos céticos tem sido notável. Histórias de arrependimento daqueles que venderam seus bitcoins estão se multiplicando. Em discussões com investidores experientes em criptomoedas tornou-se simplesmente impossível vislumbrar um cenário racional de colapso, seja devido a órgãos reguladores, cisões ou ataques hacker. Isso não significa que não haverá queda do preço -- e sim que, quando ocorrer, será quase tão inexplicável quanto a ascensão.

Em outras palavras, fomos além dos gráficos de preços. O boom do bitcoin foi além das famosas manias de mercado do passado, como o frenesi das tulipas ou a Bolha dos Mares do Sul, e durou mais do que a epidemia de dança que atingiu a França no século 16. É um fenômeno social ou antropológico que lembra como diferentes tribos e culturas veem o conceito de dinheiro, desde dentes da baleia até dívidas sociais abstratas, conforme explorado pelo acadêmico David Graeber. Quantos outros mercados geraram arte conceitual a respeito do assassinato de um "ursobaleia"?

Reiterar os riscos óbvios e inerentes da negociação de criptomoedas é uma tarefa condenada ao fracasso. Mas, de novo, o ecossistema do bitcoin não está regulado e, portanto, está aberto a abusos. O suposto ataque hacker recente ao tether, que derrubou por um breve momento o preço do bitcoin, ainda não foi totalmente explicado, e há quem tema que as negociações especulativas por meio desses tokens conversíveis em dólares estejam aumentando a febre.

Ainda assim, a excitação geral em torno do bitcoin mostra que a moeda tem aproveitado o impulso especulativo, algo que aparentemente não será tranquilizado por dividendos, planos de negócios, fluxos de caixa ou casos de uso. O destaque a um número grande e redondo como US$ 10.000 retrata apenas nossa reação emocional a números grandes e redondos. Mas não afasta o risco de algum dia a moeda digital cair para o maior e mais redondo dos números -- zero.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.