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Bitcoin não conseguirá salvar os autocratas do mundo das sanções

David Tweed

16/01/2018 15h41

(Bloomberg) -- O Ministério da Economia de Vladimir Putin quer permitir a negociação de criptomoedas em bolsas russas oficiais. Os hackers de Kim Jong Un estão roubando dinheiro digital. Nicolás Maduro espera que uma criptomoeda respaldada pelo petróleo conquiste investimentos para a Venezuela.

Todos os três líderes estão mergulhando na onda da criptografia em um momento em que seus regimes enfrentam o mesmo problema: sanções que reduzem o acesso ao sistema financeiro global. No entanto, embora o bitcoin e outras moedas virtuais desconhecidas possam fornecer fontes de dinheiro para párias políticos, o mercado ainda é incipiente demais para possibilitar contornar significativamente um bloqueio econômico liderado pelos EUA.

Qualquer autocrata que considerar o bitcoin como um refúgio seguro contra as sanções deve enfrentar uma simples questão de escala. Todos os tokens digitais do mundo valem cerca de US$ 700 bilhões, de acordo com o Coinmarketcap.com. Isso equivale a cerca de um sétimo do mercado diário de câmbio.

"Pense em quantos dólares estão em circulação e em quanto cada bitcoin teria que valer para equiparar esse valor - seria um número absurdamente grande", disse Tom Uren, membro convidado do Centro Internacional de Política Cibernética do Instituo Australiano de Política Estratégica. "A longo prazo, isso será possível, mas estamos falando de décadas e décadas. O dinheiro em espécie não vai desaparecer em breve."

Limitar o mercado

Além disso, os órgãos reguladores estão agindo rapidamente para controlar as moedas digitais. O banco central da China decretou em setembro que a oferta inicial de moedas é ilegal. E, na quinta-feira, o Ministro da Justiça da Coreia do Sul reiterou uma proposta para proibir completamente as bolsas de criptomoeda. A Yonhap New Agency informou no sábado que as autoridades pediram que os bancos adotem contas de moeda digital de nome real.

O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, disse ao Economic Club of Washington, D.C., na sexta-feira que ele não estava "nem um pouco" preocupado com a possibilidade de que a Rússia ou outros países usem tokens digitais para esquivar as sanções. "Não acho que isso seja uma preocupação", disse Mnuchin, observando que as bolsas de moedas digitais estão sujeitas aos mesmos requisitos que os bancos e devem examinar quem são seus clientes.

Os EUA impõem sanções a pessoas e organizações, não a ativos, e essas medidas também se aplicam aos estados que guardam seus ganhos em criptografia. Mesmo que Maduro possa superar o ceticismo dos investidores e conquistar apoio para o "petro", respaldado pelo petróleo da Venezuela, aqueles que usarem o token podem se tornar alvos de sanções.

O uso de moedas digitais para evadir sanções seria particularmente problemático para os estados petroleiros, que precisam ter acesso ao sistema financeiro tradicional - principalmente aos dólares dos EUA - para vender seu petróleo. A economia iraniana, por exemplo, é grande demais para que o bitcoin seja seu salvador.

Na sexta-feira, Mnuchin disse que estava preocupado principalmente com a possibilidade de que o bitcoin seja usado em crimes, como a lavagem de dinheiro. Ele disse que está trabalhando com órgãos reguladores nacionais e estrangeiros para acompanhar de perto seu uso.

"Queremos garantir que pessoas más não possam usar essas moedas para fazer coisas ruins", disse ele.

--Com a colaboração de Jesse Westbrook Ben Bain e Robert Schmidt