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Trabalhadores de fornecedora da Apple denunciam condições árduas

Bloomberg News

16/01/2018 14h23

(Bloomberg) -- Em um complexo de fabricação da Catcher Technology na cidade industrial de Suqian, na China, a cerca de seis horas de carro de Xangai, os trabalhadores ficam até 10 horas por dia em pé em oficinas quentes cortando e moldando carcaças de iPhone para a Apple, lidando com produtos químicos nocivos, às vezes sem luvas nem máscaras adequadas.

Essas condições - algumas descritas em um relatório publicado nesta terça-feira (16) pelo grupo de defesa China Labor Watch e outras relatadas em entrevistas feitas pela Bloomberg News com trabalhadores da Catcher - mostram o lado negativo do boom de tecnologia de ponta que impulsiona a segunda maior economia do mundo.

Recrutadores chineses anunciam a oportunidade de montar eletrônicos de consumo avançados para atrair milhões de trabalhadores pobres e sem escolaridade, sem os quais a produção do iPhone e de outros aparelhos digitais seria impossível.

Óculos de proteção e tampões auriculares nem sempre estão disponíveis, o que é um problema porque algumas máquinas da fábrica são barulhentas e pulverizam minúsculas partículas metálicas ou anticongelantes, de acordo com as entrevistas realizadas pela Bloomberg com os trabalhadores. A CLW afirmou que o barulho era de cerca de 80 decibéis ou mais. Isso equivale aproximadamente a uma fábrica média ou a um triturador de lixo, de acordo com a IAC Acoustics, especialista em controle de ruído industrial. Centenas aglomeram-se em uma oficina onde a porta principal só abre cerca de 30 centímetros. No horário de descanso, eles retornam a dormitórios repletos de escombros, sem chuveiros nem água quente. Muitos passam dias sem tomar banho, disseram os trabalhadores à Bloomberg.

"Minhas mãos ficaram brancas pela falta de circulação depois de um dia de trabalho", disse uma das trabalhadoras, que ganha pouco mais de 4.000 yuans por mês (algo mais que US$ 2 por hora) em seu primeiro emprego fora de sua província natal, Henan. Ela recorreu à Catcher porque a empresa de decoração de casa de seu marido enfrentava dificuldades. "Eu só digo coisas boas à minha família e guardo sofrimentos como este para mim." Todos os trabalhadores que falaram com a Bloomberg pediram anonimato por medo de recriminação.

Suicídios

A Apple passou anos repreendendo fabricantes depois que uma série de suicídios em sua principal parceira, a Foxconn Technology Group, em 2010 provocou indignação com os ambientes de trabalho agressivos em que seus aparelhos sofisticados eram fabricados. A Foxconn contratou psicólogos, criou um centro de atendimento 24 horas e instalou grandes redes nos prédios industriais para evitar suicídios impulsivos, de acordo com um relatório de progresso da Apple em 2011. Pouco depois, a Apple elaborou padrões e passou a auditar centenas de empresas que produzem componentes para seus dispositivos, ameaçando cortar relações com as que ignorarem as leis trabalhistas.

No entanto, a grande escala da cadeia de suprimentos da Apple e variáveis menos quantificáveis, como padrões de vida e saneamento, dificultam o monitoramento e o cumprimento desses padrões. A Apple vende mais de 200 milhões de unidades de iPhone por ano atualmente, em comparação com 40 milhões no ano fiscal de 2010. Ela terceiriza a fabricação, para aumentar a lucratividade. No final do ano passado, a empresa lançou pela primeira vez dois novos modelos de iPhone, o que aumentou a pressão sobre os fornecedores para produzir milhões de celulares antes da temporada de compras do fim de ano.

Sem evidências

Uma porta-voz da Apple disse que a empresa tem funcionários próprios nas instalações da Catcher, mas enviou uma equipe adicional para auditar o complexo depois de saber do relatório iminente da CLW. Após entrevistar 150 pessoas, a equipe da Apple não encontrou evidências de violações de seus padrões, acrescentou. A Catcher, que obtém quase dois terços das vendas da Apple, afirmou em uma declaração separada que também investigou, mas também não encontrou nada que sugerisse que a companhia tinha violado o código de conduta de seu cliente.

Ao todo, as instalações da Catcher violaram 14 dos padrões de responsabilidade de fornecedores da Apple, de acordo com a CLW. As violações vão desde não comunicar o risco de manusear produtos químicos perigosos a obrigar os estagiários a pagar pelos uniformes.

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